A Palavra do Pastor






Crianças esquartejadas (com Zica ou sem Zica)
A propósito do debate que se pretende instaurar sobre liberalização do aborto em casos de microcefalia levo até o leitor artigo publicado na imprensa local faz já algum tempo:
Passando de carro pela rua, parei atrás de uma longa fila que esperava abrir-se o sinal verde. Ao lado, uma jovem mãe segurava pela mão seu filho de oito anos. Olhando-o nos olhos disse: “que menino bonito”! Ele, meio acanhado, estimulado pela mãe disse: obrigado. Abriu-se o sinal e segui em frente. E fiquei a pensar: “que coisa linda é uma criança”. Acho que brilhava em meu rosto a beleza da criança que meus olhos haviam captado no garoto de oito anos, que provavelmente nunca mais verei de novo. De repente emergiu-me no pensamento a cena da outra criança, recém-nascida, que a mãe, em situação de desequilíbrio, jogou no riacho-esgoto. Outra criança a viu lá e pensou tratar-se de uma boneca. Mais tarde vi essa outra criança em prantos ao reviver, na narrativa, a cena. Hoje de manhã a TV noticiou o caso de outra criança encontrada por um senhor dentro de um balde, na rua. A mãe de Michele, a criança do esgoto, bem que tentou, durante a gestação, desfazer-se do incômodo que aquela vida lhe causava. Ingeriu drogas abortivas. Teimosa, Michele resistiu e nasceu. Foi jogada no esgoto. Oxalá sobreviva! Se não resistir, sua curta sobrevivência estará a proclamar a inominável violência que todos os dias, em nosso mundo, se pratica contra a vida indefesa. Imagine o leitor outra cena: uma mulher em posição de dar à luz e um “médico” arrancando-lhe de dentro, aos pedaços, um bebê de 12 semanas. Sim caro(a) leitor(a), no abortamento a criança é sugada aos pedaços. Sobra a cabeça, retirada no final por um instrumento, ao estilo de uma tenaz. Se fosse legalizado o abortamento, Michele teria sido sacrificada, suponhamos, oito meses antes. E não haveria comoção nacional. Chorem todas as crianças e todas as mães do mundo tanto mais que Raquel! “Ouviu-se uma voz em Ramá, choro e grande lamentação: Raquel chora seus filhos, e não quer consolação, porque não existem mais”(Mt 2,18). Foi assim que São Mateus, em seu evangelho, exprimiu a dor pela matança dos inocentes. A mãe que jogou a criança no esgoto está presa. Será punida e submetida a tratamento psiquiátrico. E os aborteiros? Serão punidos? Ou um dia, também em nossa pátria, oficializados? Definitivamente, não consigo compreender como possa haver gente que lute pela legalização do aborto. Que razão pode justificar que a mãe jogue sua criança no esgoto? E haverá razões que justifiquem o esquartejamento de um bebê em fase intrauterina? Caro(a) leitor(a), o abortamento é uma crueldade abominável. Certa vez vi na TV, faz já bastante tempo, um político defendendo o aborto. Uma adolescente manifestou seu sentimento de repugnância diante da proposta. E o político defendeu-se alegando ser esta uma reação emocional e não racional. Fiquei horrorizado com o ar de superioridade do político em sua frieza racional. Comove-se a sociedade toda com a cena da criança jogada no esgoto. E não deveria também se comover diante de tantas vidas ceifadas quando ainda escondidas sob o coração das mães? Há aqueles que condenam o abortamento depois que começou a se tornar visível a formação dos membros mais nobres do corpo, mas o admitem na fase embrionária. Só que desde a concepção é a mesma vida humana que está em desenvolvimento. Por isso são cruelmente lógicos os que defendem o abortamento em qualquer etapa da gestação. Nosso mundo vive de aparências, destituído de convicções. Por isso é um mundo que não pode sintonizar-se com Deus. “Deus, a gente não vê”. Uma criança não nascida ainda não é vista e, por isso, é como se não existisse. A mãe percebe os sinais da nova vida desde os primeiros dias. Seu corpo entra em festa e se entrega todinho à missão de levar aquela vida à sua plenitude. Ela não vê, mas sabe que ali se desenvolve uma vida humana. Felizes os que não veem e creem!
(Assista o Vídeo “O Grito Silencioso” – YouTube;https://www.youtube.com/watch?v=0heNeYmaCSc. O que não se deve fazer com um ser humano já nascido não se pode fazer com um ser humano em fase de gestação intrauterina: é a mesma vida).

Dom Eduardo Benes de Sales Rodrigues






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O Papa Francisco e o diálogo inter-religioso



Causou estranheza e provocou até mesmo duras críticas a palavra do Papa Francisco quando convidou todos os homens e mulheres de boa vontade a rezarem pelo diálogo interreligioso, sobretudo por causa de sua afirmação: “Muitos pensam de modo diferente, sentem de modo diferente, procuram Deus ou encontram Deus de muitos modos. Nesta multidão, nesta variedade de religiões, só há uma certeza que temos para todos: somos todos filhos de Deus”.
De fato, pode se ter a impressão de que o Papa Francisco ao dizer “só há uma certeza que temos para todos: somos todos filhos de Deus”, estaria abrindo mão das demais verdades de nossa fé cristã-católica, ou seja, sobre outras verdades não teríamos certeza. È preciso, entretanto notar o PARA TODOS, ou seja, não obstante nossas convicções distintas, une-nos uma convicção comum: Deus ama a todos os seres humanos como filhos, embora nem todos os filhos de seu amor se abram para a graça da filiação divina. O sinal de que estamos com Deus é o amor generoso (ágape), descrito por São João em sua primeira carta quando ensina: “todo aquele que ama nasceu de Deus e conhece a Deus. Aquele que não ama não conheceu a Deus, porque Deus é amor” (I Jo 4,7-8; Cf. I Cor 13).
Essa é a base que permite o diálogo e a oração comum. Recordo aos leitores que foi São João Paulo II quem em 1986 reuniu em Assis representantes do judaísmo, islamismo, budismo, hinduísmo, religiões africanas. Foi quando, inspirados pela espiritualidade de São Francisco oraram pela Paz.
Os Papas pós-conciliares procuraram colocar em prática o ensinamento do Concílio a respeito da relação da Igreja com as religiões. Cito trechos de dois documentos onde este ensinamento é explícito:
“Com efeito, aqueles que, ignorando sem culpa o Evangelho de Cristo, e a Sua Igreja, procuram, contudo, a Deus com coração sincero, e se esforçam, sob o influxo da graça, por cumprir a Sua vontade, manifestada pelo ditame da consciência, também eles podem alcançar a salvação eterna... Nem a divina Providência nega os auxílios necessários à salvação àqueles que, sem culpa, não chegaram ainda ao conhecimento explícito de Deus e se esforçam, não sem o auxílio da graça, por levar uma vida reta. Tudo o que de bom e verdadeiro neles há, é considerado pela Igreja como preparação para receberem o Evangelho, dado por Aquele que ilumina todos os homens, para que possuam finalmente a vida.( Cf. LG, 15 e 16)
“Hoje, que o gênero humano se torna cada vez mais unido, e aumentam as relações entre os vários povos, a Igreja considera mais atentamente qual a sua relação com as religiões não-cristãs. E, na sua função de fomentar a união e a caridade entre os homens e também entre os povos, considera primeiramente tudo aquilo que OS HOMENS TÊM DE COMUM e os leva à convivência.”
“Não podemos, porém, invocar Deus como Pai comum de todos, se nos recusamos a tratar como irmãos alguns homens, criados à Sua imagem. De tal maneira estão ligadas a relação do homem a Deus Pai e a sua relação aos outros homens seus irmãos, que a Escritura afirma: «quem não ama, não conhece a Deus» (1 Jo. 4,8).”(Nostra Aetate” sobre as Religiões não-cristãs, 1 e 5).
Na Constitução Pastoral “Gaudium et Spes”, depois de procurar entender o ateísmo, suas várias formas e causas, a Igreja afirma:
“Ainda que rejeite inteiramente o ateísmo, todavia a Igreja proclama sinceramente que todos os homens, crentes e não-crentes, devem contribuir para a reta construção do mundo no qual vivem em comum. O que não é possível sem UM PRUDENTE E SINCERO DIÁLOGO. “(Gaudium et Spes, 21). E no número 22: “E o que fica dito, vale não só dos cristãos, mas de todos os homens de boa vontade, em cujos corações a GRAÇA OPERA OCULTAMENTE . Com efeito, já que por todos morreu Cristo e a vocação última de todos os homens é realmente uma só, a saber, a divina, devemos manter que o Espírito Santo a todos dá a possibilidade de se associarem a este mistério pascal por UM MODO SÓ DE DEUS CONHECIDO.”
Nesse sentido o Papa Bento XVI promoveu a Criação do chamado “Átrio dos Gentios”, quando disse: “Ao diálogo com as religiões deve acrescentar-se hoje sobretudo o diálogo com aquelas pessoas para quem a religião é uma realidade estranha, para quem Deus é desconhecido, e contudo a sua vontade não é permanecer simplesmente sem Deus, mas aproximar-se d'Ele pelo menos como Desconhecido". (Bento XVI em discurso à Cúria Romana de 21 de dezembro de 2009).
Para fechar: a Palavra de São João Paulo II na “Redemptoris Missio:
“O diálogo interreligioso faz parte da missão evangelizadora da Igreja. Entendido como método e meio para um conhecimento e enriquecimento recíproco, ele não está em contraposição com a missão ad gentes; pelo contrário, tem laços especiais com ela, e constitui uma sua expressão”(n. 55).









João batiza Jesus

A Igreja celebra hoje a festa do batismo de Jesus. São Lucas assim descreve o acontecimento: "Enquanto todo o povo era batizado e Jesus, batizado, estava em oração, o céu se abriu e o Espírito Santo desceu sobre ele, em forma corpórea, como uma pomba. E do céu veio uma voz: Tu és o meu filho amado; em ti está meu agrado" (Lc 3,21-22). Procuremos penetrar o sentido do acontecimento. Convém ressaltar que Jesus não precisava do batismo de João. No evangelho de São Mateus, quando Jesus se apresenta para ser batizado, João Batista reage: "eu é que preciso ser batizado por ti e tu vens a mim?".
Jesus insiste e João curva-se à ordem de Jesus e o batiza. O batismo de João era um batismo de penitência, dado àqueles que, arrependidos de seus pecados, passavam a seguir João em esforço de conversão. João mesmo reconhecia a insuficiência de seu batismo quando afirmava: "Eu vos batizo com água, mas virá aquele que é mais forte do que eu...Ele vos batizará com o Espírito Santo e com fogo" (Lc 3,15-16). O que nos ensina o Batismo recebido por Jesus das mãos de João Batista? Duas coisas. A primeira: Jesus, em tudo semelhante a nós é o Filho amado do Pai. A segunda: o Filho amado toma para si, como se seus fossem, os pecados da humanidade.
O episódio nos remete a Isaias quando em quatro passagens - os cânticos do Servo de Javé - fala-nos de uma misteriosa figura que haveria de sofrer para libertar os seres humanos de suas iniquidades e de suas enfermidades (Is. 42,1-7; 49,1-6; 50,4-10; 52,13-53,1-12). Como o Batismo de Jesus marca o início de sua vida pública, ali o primeiro cântico do servo é retomado, com uma pequena, mas importantíssima modificação, pelo evangelista para anunciar que Jesus é o servo que dará a vida pela redenção da humanidade. Eis o pronunciamento de Deus no texto de Isaias: "Eis o meu servo, dou-lhe meu apoio. É o meu escolhido, alegria do meu coração. Coloquei nele meu Espírito, ele vai levar o direito às nações... Não quebra o caniço já machucado, não apaga o pavio já fraco de chama" (42,1-3).
No quarto cântico o servo de Javé ( Is 52,13 a 53,12) aparece assumindo nossas enfermidades e carregando nossas iniquidades, oferecendo sua vida em sacrifício pela nossa libertação. É assim que os sinóticos, quando do Batismo de Jesus, no-lo apresentam como o servo da profecia de Isaias. A modificação que o evangelista introduz vem da boca do próprio Deus quando afirma: "tu és meu Filho amado, em ti está meu agrado". O servo é o Filho amado. O Filho amado, abrindo mão de seus direitos divinos, fez-se servo ( Cf. Filip 2,6ss.). Jesus é o Filho amado, está todo tomado pelo amor do Pai: o Espírito de amor pousa sobre ele. É na força do Espírito que ele vai cumprir sua missão. No evangelho de São João é o próprio Cristo quem afirma: "Deus amou tanto o mundo que lhe deu seu Filho Único" (Jo 3,16). No Batismo de Jesus o Pai apresenta o Filho e o envolve com seu Espírito de amor, o Espírito Santo. Ao fazer-se batizar por João, Jesus, o filho amado, está assumindo oferecer toda sua vida para purificar-nos de nossos pecados. Coloca-se entre pecadores, solidariza-se conosco.
São Paulo chega ao extremo de afirmar: "aquele eu não cometeu pecado, Deus o fez pecado por nós, para que nele nos tornemos justiça de Deus" ( II Cor 5,21). O Papa João Paulo II assim comenta essa passagem: "Para transmitir ao homem o rosto do Pai, Jesus teve não apenas de assumir o rosto do homem, mas de tomar também o "rosto" do pecado" (NMI 55). No seu Batismo, Jesus assume publicamente a missão que o Pai lhe confiou. Não haverá retorno. A consumação desse caminho será a Cruz, conforme a profecia de Isaias: "Eram na verdade os nossos sofrimentos que ele carregava, eram as nossas dores, que levava às costas. E o povo achava que ele era um castigado, alguém por Deus ferido e massacrado. Mas estava sendo traspassado por causa de nossas rebeldias, estava sendo esmagado por nossos pecados..." (Is 53,4ss).
E mais adiante: "com sua experiência, o meu servo, o justo, fará que a multidão se torne justa" (53,11). Pelo seu Batismo, Jesus, o Filho Amado, mergulhou nas águas poluídas de nossas iniquidades para, com seu sangue, purificar-nos e fazer-nos, também a nós, filhos amados do Pai. Sua caminhada histórica, como profeta e messias, será o cumprimento exato de seu compromisso batismal: salvar a humanidade perdida. O percurso de sua vida pública é todo ele compaixão diante de uma humanidade mergulhada em toda a sorte de males. Batizados em Cristo, purificados pelo Espírito nas santas águas de nosso batismo, somos chamados a percorrer o mesmo caminho: fazer de nossa vida um serviço permanente, sem reservas, aos irmãos de humanidade. Lembremo-nos da palavra de Jesus: "Pois quem quiser salvar sua vida perdê-la-á e quem perder sua vida por causa de mim a salvará" (Lc 9,24).
Dom Eduardo Benes de Sales Rodrigues


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Os MAGOS E HERODES



Os MAGOS E HERODES
O nascimento de Jesus, tal como vem descrito nos evangelhos, está cercado de mistério e de fatos que revelam seu significado profundo. A gruta, os pastores e o canto dos anjos misturam a pobreza desta terra com a beleza do céu. Os pastores não sabem se foi a terra que subiu ou se foi o céu que desceu. Foram envolvidos por uma alegria infinita quando as cores da luz se casaram com a beleza de uma canção jamais ouvida. Sem dúvida, os pobres, mais que todos, vivem a experiência de que não são os senhores absolutos da vida e do mundo (cf. LC 2,20).
Há uma pobreza radical, ontológica, que é constitutiva do ser humano. Felizes os que experimentam esta pobreza! Estão na verdade. Também os ricos e os sábios, se não mentirem para si mesmos, poderão experimentá-la. Nem toda a riqueza desse mundo, nem a totalidade do conhecimento científico acumulado através das gerações respondem ao anseio que brota desta pobreza. Onde encontrar a verdade, fundamento e sentido definitivo da própria existência? A verdade, pela qual aspira o espírito humano, é maior que o mundo e que a própria razão. É a própria razão humana que o diz para si mesma ao navegar pelo interior de todos os entes e pressentir neles a presença de um mistério maior, fundamento transcendente de todo o existente. O episódio dos magos, que vieram de longe para adorar o menino, nos mostra que todos os seres humanos trazem dentro de si essa inquietação que lhes brota das profundezas do próprio ser. O risco para o ser humano é abafar, pela busca insaciável da riqueza ou do poder, o grito desta inquietação. Os magos buscavam uma verdade maior jamais encontrada. Cada descoberta da ciência, cada boa e verdadeira novidade no conhecimento do universo - macro ou micro -, é um sinal da presença da verdade maior, sempre velada, que é Deus. A ciência não pode, entretanto, desvelá-lo para dele se apossar. É necessário deixar-se conduzir por uma estrela, que não é fagulha desse universo, para encontrar a verdade maior que se insinua por entre as verdades que fazem a grande constelação do existir humano. É quando o ser humano deixa a condição de poderoso explorador do mundo para se colocar na humilde condição de peregrino, guiado por outras mãos. A ciência, na medida em que avança na tentativa de desvendar o mistério do universo, se descobre envolvida em mistério ainda maior.
. A estrela dos magos não era mais a razão investigativa, era a mão de Deus a lhes apontar o caminho da Verdade definitiva. Esta, a verdade maior, fundamento e sentido de todas as verdades, saiu do seu ocultamento e se fez criança, pobre e humilde. No mistério daquela criança eles adoraram Deus. Da verdade maior ninguém pode se apoderar. Ela se revela e deve ser acolhida na adoração, na entrega e na gratidão. Ela se oculta para os olhos dos que pensam tudo poder dominar. O ser humano, encastelado na ilusão do poder, não tem olhos para vê-la. Qualquer lampejo de verdade para além de seu trono é para ele uma ameaça a ser destruída.
Há na narrativa dos acontecimentos que compuseram o quadro da vinda de Jesus, um episódio, recheado de humana maldade, cujo desfecho é assim narrado por Mateus: "quando Herodes percebeu que os magos o tinham enganado, ficou furioso. Mandou matar todos os meninos de Belém e de todo o território vizinho, de dois anos para baixo, de acordo com o tempo indicado pelos magos"(Mt 2,17). Herodes é o oposto dos magos, vindos de longe. Está tão perto e, ao mesmo tempo, tão distante. Quando os magos chegaram perguntando onde devia nascer o Rei dos Judeus, Herodes ficou alarmado (cf. Mt 2,3).A fantasia do poderoso é habitada tanto pelo sonho de mais poder como pelo receio de cair no anonimato pela sua perda. O poderoso não tem amigos, tem vassalos. Estes são adoradores do poder, felizes na subserviência, contentam-se com o aquecer-se à sombra do potentado. Os que não são vassalos são inimigos atuais ou em potencial.  O poderoso vive arquitetando como garantir-se no poder e como controlar os que navegam pelas águas de seu reino. Sua palavra dada é definitiva. Não volta nunca atrás.
Herodes, o filho daquele que assassinou os inocentes, mandou degolar João Batista para não voltar atrás perante seus admiradores. Mas o poderoso costuma ser generoso, razão por que é necessário ter muito dinheiro. Herodes, o filho, gostava de dar festas em seu palácio para seus "amigos" e lhes dava, imagino, também proteção. Estes se sentiam importantes junto dele e protegidos. Os magos vieram de longe. A piedade popular deu-lhes o título de reis, reis magos. Eram ricos, trouxeram presentes valiosos. Representavam todas as nações. Eram humildes, reconheciam sua carência. Agarraram-se à estrela que lhes aparecera repentinamente. Adoraram um menino, pobre e frágil. E nisto se despojaram de qualquer pretensão de grandeza. Eu devo escolher entre ser um dos magos ou Herodes.







O Diabo odeia a CRUZ

A serpente introduziu o veneno da morte na história humana. E o veneno é este: "não deves obediência a ninguém, és deus. A felicidade consiste em fazeres de tua vida o que quiseres. Não haverá limites para teus desejos, estarás livre do jugo de um Deus que não admite rivais"(cf. Gn 3,5s.)
“Diábolos" - em hebraico Satã (Adversário) - significa caluniador, aquele que semeia a divisão através da mentira. No Novo Testamento sua figura aparece e parece poderosa na narrativa das tentações de Cristo depois dos quarenta dias de jejum e oração no deserto. Peço ao leitor ler em Mateus e em Lucas essa narrativa (Lc 4,1-13; Mt 4,1-11). A narrativa de Lucas termina assim: "Terminadas todas as tentações, o diabo afastou-se dele até o tempo oportuno". Seu retorno se dará na paixão de Jesus (Lc 22,3). Sem entrar em detalhes exegéticos, fica evidente que a missão de Jesus é confrontar-se com as tentações que continuamente ameaçam a humanidade.
Ele as vencerá pela Cruz. Diante das três tentações Jesus responde: a) "Não se vive somente de pão, mas de toda palavra que sai da boca de Deus"; b) "Não porás à prova o Senhor teu Deus"; c) "Afasta-te, Satanás, pois está escrito; "Adorarás o Senhor teu Deus e só a Ele prestarás culto"(cf Mt 4,1-11). Não resisto ao impulso de colocar o texto da terceira tentação. Assim: "O diabo o levou ainda para uma montanha muito alta. Mostrou-lhe todos os reinos do mundo e sua riqueza, e lhe disse: 'Eu te darei tudo isso, se caíres de joelhos para me adorar’. Jesus lhe disse: Afasta-te, Satanás, pois está escrito: 'Adorarás o Senhor, teu Deus, e só a ele prestarás culto'. Por fim, o diabo o deixou, e os anjos se aproximaram para servi-lo."( Mt 4,8-11). Eis o pecado radical, uma verdadeira monstruosidade: o desejo de ser adorado, a tentativa de destronar Deus. Foi o mesmo veneno destilado no paraíso: "sereis como Deuses". Satanás não é um anti-deus, apenas uma miserável e abjeta criatura, que, tomada por ódio eterno, tenta arrastar para a destruição o ser humano. Todos os que o seguem, os anjos decaídos - demônios - e os seres humanos na terra, são também autores da desgraça que perpassa a história. No livro do Apocalipse, através de imagens muito fortes, é descrita a guerra que a serpente antiga, agora descrita como um dragão de sete cabeças, move contra a Mulher, que "deu à luz um Filho, um menino, aquele que deve reger todas as nações pagãs com cetro de ferro". A proteção dada por Deus à Mulher enfurece o Dragão : "Este, então, se irritou contra a Mulher e foi fazer guerra ao resto de sua descendência, aos que guardam os mandamentos de Deus e têm o testemunho de Jesus". (cf. Ap 12). A descrição do Apocalipse tem diante dos olhos a perseguição movida pelo Império Romano aos cristãos. Ao fazê-lo projeta luz sobre o mistério do mal que perpassa toda a história. O ser humano tem em Cristo a salvação, a real possibilidade construir uma história na justiça e no amor, para, enfim, participar da plenitude da vida para além da história. Na sua liberdade, entretanto, o ser humano pode escolher o caminho insinuado permanentemente pela serpente: "serás como um deus", acima do bem e do mal, absolutamente livre para quaisquer escolhas. Interessante : o caminho que o Verbo Eterno, o Filho de Deus, fez para chegar até nós foi o caminho inverso: "Sendo ele de condição divina, não se prevaleceu de sua igualdade com Deus, mas aniquilou-se a si mesmo, assumindo a condição de escravo e assemelhando-se aos homens. E, sendo exteriormente reconhecido como homem, humilhou-se ainda mais, tornando-se obediente até a morte, e morte de cruz"(Flp 2,6-8).
Em outra passagem São Paulo afirma: "Aquele que não conheceu o pecado, Deus o fez pecado por nós, para que nele nós nos tornássemos justiça de Deus"( II Cor 5,21). Ressuscitado, Cristo é nossa salvação. Mas é preciso fazer com Ele o caminho da obediência: escutar de verdade o Pai. O diabo odeia a Cruz e deseja arrancá-la do coração de nosso povo. Eis como pensa uma feminista radical: “Uma mulher que se faça eco à declaração dramática de Ntosake Shange:” ´Encontrei a Deus em mim mesma e o amei ferozmente’ está dizendo: O poder feminino é forte e criativo´, está afirmando que o princípio divino, o poder salvador e sustentador, está nela mesma e já não mais verá o homem ou a figura masculina como um salvador”. (Carol Christ, Womanspirit Rising).

Dom Eduardo Benes de Sales Rodrigues

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No II Seminário Internacional “Desfazendo Gênero”(UFBA) foram debatidas muitas questões e realizadas várias oficinas bem como relatadas experiências de “desfazer gênero” em Escolas, através das aulas de Educação sexual.(?) Duas palestras trataram diretamente do objetivo e dos meios de desfazer gênero nas escolas:
“Desconstruindo gênero no cotidiano escolar: uma proposta de formação permanente para educadores.” Proponente: Rosana de Sá.(Dia 6 de setembro, das 13h30 às 17h30, sala 105, PAF300).
“Desfazendo Gêneros na Infância: possibilidades do uso da literatura infantil na educação infantil”. (Proponente: Osmar Arruda Garcia.Dia 6 de setembro, das 13h30 às 17h30, sala 108, PAF3 ).
Dentre os instrumentos de que dispõe a ideologia de gênero para desfazer e desconstruir existe um chamado “Pornoterrorismo”. Encontrei na Internet o “Manifesto Pornoterrorista Ludditas Sexuales”, do qual extraio dois trechos:
“Pornoterrorismo é um modo de, um como construir um novo uso dos prazeres e reprogramar nossos desejos, um como engendrar as novas paixões alegres que acrescentem às nossas riquezas corporais, nossas potências imanentes, um como destruir as máquinas de fabricação dos gêneros e assim gerar uma contraprodutividade desde o prazer-saber”.
“O PornoTerrorismo é um modo privilegiado de falar a linguagem do desejo, de lamber a superfície rugosa do sexo, e romper a engrenagem do circuito excitação-frustração, o dispositivo que reatualiza com cada vez mais força a nossa assignação biopolítica. O Pornoterrorismo é uma forma de insurgência, divergência, contra-hegemonia, subversão, uma inssurreição sexual, e uma objeção de gênero.”
Do livro de Diana J. Torres, “Pornoterrorismo”, tiro o trecho que segue:
“O Pornoterrorismo é algo que pulsa, que jorra, um impulso composto de desejo e de imaginação. Assim, este livro é um relato biográfico e uma profunda reflexão em relação ao sexo, às práticas sexuais, à moral e à política. É um apelo a romper os tabus ainda em vigor em nossa sociedade. Um grito pelo direito de que cada um desfrute como queira de seu corpo e de sua sexualidade. Um atentado contra as convenções. Um ato terrorista contra as normas. ‘Por acaso pode haver uma fusão mais linda que esta das palavras porno e terrorismo`?”( Da obra “Pornoterrorismo”, Diana J. Torres).
O leitor pode estar estranhando a foto que ilustra essa pequena explicação sobre o pornoterrorismo. É da alma da Teoria Queer causar estranhamento (queer é uma palavra do inglês que significa estranho). Cada manifestação pornoterrorista é um torpedo para desconstruir “a cultura machista iniciada com o casamento monogâmico e consolidada pelo pensamento cristão”. A oficina, cuja foto você tem diante de seus olhos, onde se aprofundou o conceito de pornoterrorismo, havia de ser ela mesma o ensaio dos torpedos a serem progressivamente lançados no coração de nossas escolas.
È a pura verdade. No Ministério da Educação atua um grupo que trabalha incansavelmente para introduzir em nossas escolas essa deseducação sexual. Esse grupo está considerando os Planos Municipais de Educação incompletos por terem excluído a ideologia de gênero de suas propostas. E, recentemente, foi criado o Comitê de Gênero pelo Ministério da Educação. Os torpedos virão do alto.
Por sentir vergonha de publicar outras fotos que esclarecem um pouco mais o que significa pornoterrorismo, apenas sugiro que você as encontre na Internet pesquisando; “Pornoterrorismo, Diana J. Torres “.
E cuide bem de seus filhos. Esse torpedo entra também pela TV.



Dom Eduardo Benes de Sales Rodrigues






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O objetivo maior da ideologia de gênero

Os arautos da “Ideologia de Gênero”, derrotados nos Planos Municipais de Educação em todo o Brasil, estão empenhados em transformar essa ideologia em alma do processo de formação dos futuros professores. Nossas Universidades serão seu principal campo de atuação. Tentarão tomá-las de assalto, não para discutir uma filosofia da educação, mas para propor como verdade definitiva uma antropologia que termina no vazio.
O objetivo principal dessa teoria não é promover o acolhimento (inclusão) das pessoas sexualmente diferentes. Usam o movimento LGBT como embalagem para um produto venenoso, conforme alertou o Papa Francisco ao falar de uma "colonização ideológica" sub-repticiamente introduzida nas escolas italianas e "que envenena a alma e a família". O objetivo é, pois, mais ambicioso: destruir a família, matriz da divisão da sociedade em classes: “A família nos dá as primeiras lições de ideologia de classe dominante e também fornece legitimidade às outras instituições da sociedade civil. Nossas famílias são as que nos ensinam primeiro a religião, a ser bons cidadãos. Tão completa é a hegemonia da classe dominante na família, que somos ensinados que esta encarna a ordem natural das coisas. Baseia-se nomeadamente, em uma relação entre o homem e a mulher que reprime a sexualidade, especialmente a sexualidade feminina”. (Christine Riddiough, “Socialism, Feminism and Gay/Lesbian Liberation”, Women and Revolution).
Essa forma de entender a família é fruto do casamento do feminismo de gênero com o pensamento de Marx e Engels:
“Num velho manuscrito inédito, redigido em 1846 por Marx e por mim, encontro a seguinte frase: ´A primeira divisão do trabalho é a que se fez entre o homem e a mulher para a procriação dos filhos´. Hoje posso acrescentar: o primeiro antagonismo de classes que apareceu na história coincide com o desenvolvimento do antagonismo entre o homem e a mulher, na monogamia; e a primeira opressão de classes, com a opressão do sexo feminino pelo masculino... É a forma celular da sociedade civilizada, na qual já podemos estudar a natureza das contradições e dos antagonismos que atingem seu pleno desenvolvimento nessa sociedade.”(Engels em Origem da Família, Propriedade e Estado)
“Segundo O’Leary, os marxistas clássicos acreditavam que o sistema de classes desapareceria uma vez que se eliminasse a propriedade privada, se facilitasse o divórcio, se aceitasse a ilegitimidade, se forçasse a entrada da mulher no mercado de trabalho laboral, se colocasse as crianças em instituições de cuidado diário e se eliminasse a religião. No entanto, para as “feministas de gênero”, os marxistas fracassaram por concentrar-se em soluções econômicas sem atacar diretamente a família, que era a verdadeira causa das classes.” Donde a inversão: destrói-se a sociedade de classes destruindo a família, uma vez que a família é o paradigma da divisão entre os seres humanos. Para destruir a família tal como ela hoje existe é preciso começar por eliminar a diferença de sexos:
“Assegurar a eliminação das classes sexuais requer que a classe subjugada (as mulheres) una-se em revolução e se aposse do controle da reprodução; se restitua à mulher a propriedade sobre seus próprios corpos, como também o controle feminino da fertilidade humana, incluindo tanto as novas tecnologias como todas as instituições sociais de nascimento e cuidado de crianças. Assim como a meta final da revolução socialista era não apenas acabar com o privilégio da classe econômica, mas também com a própria distinção entre classes econômicas, a meta definitiva da revolução feminista deve ser igualmente – ao contrário do primeiro movimento feminista – não apenas acabar com o privilegio masculino, mas também com a própria diferença de sexos: as diferenças genitais entre os seres humanos já não importariam culturalmente”. (Shulamith Firestone, The Dialectic of Sex)
“O fim da família biológica também irá eliminar a necessidade de repressão sexual. A homossexualidade masculina, lesbianismo e sexo extraconjugal já não se verão mais na forma liberal como opções alternativas fora do âmbito da regulação estatal. Em vez disso, até as categorias de homossexualidade e heterossexualidade serão abandonadas: a própria ‘instituição das relações sexuais’ em que homens e mulheres desempenham um papel bem definido desaparecerá. A humanidade poderia finalmente voltar à sua sexualidade polimorficamente natural”(Alison Jagger, “Political Philosophies of Womens Liberation”, Feminism and Philosophy).
Mais que nunca importa orar e refletir sobre “a vocação e a missão da família na Igreja e no mundo contemporâneo”, tema do Sínodo da Família convocado pelo Papa Francisco e que terá sua conclusão em outubro próximo.

Dom Eduardo Benes de Sales Rodrigues

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A negação do corpo

Do ponto de vista fisiológico e anatômico e do ponto biológico-cromossômico só existem dois gêneros: o masculino e o feminino. Fenômenos de intersexualidade ou hermafroditismo- têm outras explicações – são resultado de distúrbio tanto morfológico quanto fisiológico - e não constituem um terceiro gênero do ponto de vista da sexualidade.
A sigla LGBT quer exprimir as formas de estruturação psíquica da sexualidade em dissonância com a estrutura fisiológico-cromossômica. Inevitável se torna a pergunta: qual ou quais as causas que explicam a existência de tais formas de manifestação da sexualidade?
Para os antropólogos da chamada “Ideologia de Gênero”, o binômio masculino-feminino seria um construto cultural, forjado no contexto multimilenar de uma cultura machista: “Consideram que os homens e mulheres adultos são construções sociais; que na verdade o ser humano nasce sexualmente neutro e, em seguida, é socializado em homem ou mulher. Essa socialização, dizem eles, afeta negativamente e de forma injusta as mulheres. Por isso, as feministas propõem depurar a educação e os meios de comunicação de todo estereótipo ou imagem específica de gênero, para que as crianças possam crescer sem serem expostas a trabalhos “sexo–específicos”. Atualmente não só as feministas, mas todo o grupo LGBT e simpatizantes adotaram essa teoria. Mas imediatamente surge a pergunta: se for verdade que nascem neutros, em que direção orientar a construção cultural de sua sexualidade? A resposta é simples: pais e educadores deveriam oferecer um ambiente afetivo-cultural onde a criança pudesse se desenvolver de acordo com sua condição bio-fisiológica, sob pena de introduzir na psique dessas crianças um conflito doloroso. Mas, ao mesmo tempo em que os propagantistas da ideologia de gênero pregam ser a orientação sexual uma construção meramente cultural, afirmam dever a Escola respeitar nas crianças a orientação sexual emergente já na infância: “é preciso respeitar a identidade de gênero desde quando ela é manifestada. Isso pode ocorrer desde muito cedo, na infância, e as crianças já começam a ser estigmatizadas desde pequenas”. Uma segunda questão se põe: se a orientação sexual é uma construção cultural de onde surge essa primeira manifestação tão cedo? Da natureza ou da cultura? E se a identidade sexual emergente destoa da estrutura biofisiológica da criança que contexto cultural teria provocado esta emergência? As explicações psicanalíticas parecem insuficientes, embora, quem sabe na maioria dos casos, ofereçam uma resposta satisfatória. Mais complexa, entretanto, é a identidade transexual. A condição da pessoa transexual se constitui em uma fonte de sofrimentos insuperáveis para a pessoa , não, em primeiro lugar, por razão de “bullying”, mas por causa da contradição da identidade psíquica com a identidade bio-fisiológica. Os depoimentos de (Joana) João W. Nery – transexual masculino – e (Gustavo) Leandra Medeiros Cerezo, filho de Toninho Cerezo – transexual feminino – nos dão uma amostra do sofrimento por que passam os transexuais. Mesmo depois da cirurgia, o filho de Toninho Cerezo confessou:” Não sou uma mulher completa. Nunca vou ser 100% mulher”. Para os arautos da teoria de gênero, essa frustração seria absolutamente destituída de sentido, uma vez que ser mulher ou ser homem é uma invenção arbitrária de uma determinada cultura, embora milenar. O transexual masculino – biofisiologicamente feminino - que , descontente com seu corpo, deseja um corpo de homem está ainda aprisionado no binômio cultural, masculino-feminino. Na verdade, para escapar da opressão da cultura, o transexual, se lhe fosse possível, deveria poder não ter corpo ou ter um corpo assexuado. Já há quem se pense transgênero para além de qualquer identidade. Pobre corpo que nada mais tem a dizer sobre o ser humano! Aliás, os teóricos de “Gênero” estão muito próximos de Platão para quem o corpo é um estorvo para a mente ou, quando muito, um instrumento, agora, no século XXI, um instrumento para o prazer, não mais para virtude.



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Vida cristã e homossexualidade


O Sínodo dos bispos, convocado pelo Papa Francisco, que será concluído em outubro próximo, sobre “a vocação e a missão da família na Igreja e no mundo de hoje” parte da convicção, baseada na revelação e na experiência multimilenar da humanidade de que a família, nascida da união entre homem e mulher, é uma instituição insubstituível da qual depende o futuro da humanidade.
1. Dentro da vasta e desafiante temática da Família no mundo de hoje, o Sínodo abordará também os desafios que a questão da homossexualidade levanta para a ação da Igreja. Esta preocupação vem assim expressa, sob o título: Atenção pastoral às pessoas com orientação homossexual:
“Algumas famílias vivem a experiência de ter no seu interior pessoas com orientação homossexual... Os homens e as mulheres com tendências homossexuais devem ser acolhidos com respeito e delicadeza.
E a questão é retomada nas perguntas para reflexão:
“A cura pastoral das pessoas com tendência homossexual levanta hoje novos desafios, devidos também à maneira como são socialmente propostos os seus direitos.
Como a comunidade cristã dirige a sua atenção pastoral às famílias que, no seu seio, têm pessoas com tendência homossexual? Evitando qualquer discriminação injusta, de que modo se pode cuidar das pessoas em tais situações, à luz do Evangelho? Como propor-lhes as exigências da vontade de Deus sobre a sua situação?” (n. 40).
Como se pode notar no próprio texto a ser discutido na segunda etapa do sínodo da família, a Igreja se coloca diante de novos desafios. E é nosso dever buscar uma resposta pastoral justa para esses desafios. O Pe. Ronaldo Zacharias, reitor do Centro Universitário Salesiano de São Paulo, em entrevista à Revista CIDADE NOVA, sob o título “Ser homossexual não é uma opção”, corretamente assim se expressou sobre a posição da Igreja: “ Os vários documentos pontifícios a respeito são unânimes em falar sobre a acolhida respeitosa, compassiva e delicada em relação às pessoas homossexuais na comunidade. Afirmam também, que as pessoas homossexuais não apenas podem, mas devem aproximar-se da perfeição cristã. Isso significa, praticamente, que elas, como as demais pessoas podem se santificar e devem ser ajudadas nesse processo. Portanto, em termos de ensinamento, não há razões que justifiquem a exclusão da comunidade. Se isso acontecesse, a Igreja daria um péssimo testemunho contra o evangelho que, por essência é inclusivo”. Aliás, seria grave discriminação considerar as pessoas homossexuais incapazes de viver a vida cristã e, consequentemente, de colocar em prática o sexto mandamento. Por experiência sabemos das dificuldades das pessoas, tanto heterossexuais como homossexuais, de viverem castamente. A prática da virtude exige esforço e busca da ajuda de Deus. E todos necessitamos da graça de Deus. Sempre de novo fazemos a experiência da fraqueza humana. A advertência de Jesus é sempre atual: “Quem dentre vós que não tem pecado, seja o primeiro a lhe atirar uma pedra”(cf. Jo 8,1-11). O Papa Francisco repetiu em sua Exortação Apostólica “Evangelii Gaudium” um ensinamento da Igreja segundo o qual os confessores devem ter sempre diante dos olhos que “a imputabilidade e responsabilidade dum ato podem ser diminuídas, e até anuladas, pela ignorância, a inadvertência, a violência, o medo, os hábitos, as afeições desordenadas e outros fatores psíquicos ou sociais.”(n. 44). Esta orientação se aplica sobretudo às fraquezas relativas ao sexto mandamento.
Pessoalmente conheço pessoas homossexuais maduras que se aceitam como tais e que são bons discípulos de Cristo. Faz pouco ouvi de uma senhora o elogio a um enfermeiro que, por ser homossexual, sofreu forte rejeição de irmãos e dos próprios pais e que, agora na velhice dos pais, é quem deles cuida com admirável dedicação e carinho.
Há certamente muitas perguntas em torno da questão: a) como na comunidade criar um clima de verdadeiro acolhimento para pessoas homossexuais? b) Como esse acolhimento se dará no caso de relações e uniões homo-afetivas, uma vez que contrariam objetivamente o sexto mandamento da lei de Deus? c) Como se comportar diante de um “casal” homossexual que pedisse o batismo de uma criança adotada?
Aguardemos do Sínodo as orientações sobre tão delicada questão, certos de que a misericórdia (caritas) e a verdade (veritas) devem caminhar juntas quando se trata da salvação das pessoas no tempo e para a eternidade.
E trabalhemos incansavelmente na promoção da dignidade e dos valores do matrimônio e da família, célula vital da sociedade e da Igreja.
Uma observação final: para quem pensa que não existe uma verdade anterior à própria liberdade, negando um Deus criador e legislador, jamais entenderá a posição da fé cristã. Cada um fará então a sua verdade. O mundo se tornará uma Babel.


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Nas palavras de Dale O’Leary, o “feminismo de gênero” é um sistema fechado contra o qual não há nenhuma maneira de discutir. Você não pode apelar para a natureza, ou a razão, à experiência ou às opiniões e desejos de mulheres reais, porque de acordo com as “feministas do gênero” tudo isso é “socialmente construído”. Não importa quanta evidência se acumule contra suas ideias; elas vão continuar a insistir que é simplesmente mais uma prova da conspiração patriarcal massiva contra as mulheres.



Nos Estados Unidos o “feminismo de gênero” conseguiu colocar-se no centro da corrente cultural norte-americana. Prestigiadas universidades e faculdades difundem abertamente essa perspectiva. Além disso, muitas séries de televisão americanas fazem a sua parte para espalhar a seguinte mensagem: identidade sexual pode “desconstruir-se” e masculinidade e feminilidade não são mais que “papéis de gênero construídos socialmente”.



Considerando-se que o avanço das tecnologias conseguiu que estes programas com toda a nova “perspectiva de gênero” cheguem diariamente aos países em vias de desenvolvimento, principalmente através da televisão por cabo, sem excluir as muitas outras formas de mídia em nosso tempo, isto nos coloca ante um novo desafio que temos de enfrentar o mais cedo possível para evitar as consequências graves que já está ocasionando no Primeiro Mundo. Especialmente quando, nas palavras de O’Leary, a “desconstrução” da família e o ataque à religião, à tradição e aos valores culturais que as “feministas de gênero” promovem nos países em desenvolvimento, afeta o mundo inteiro.



*(Dale O'Leary é uma escritora, autora de "A agenda do gênero: redefinindo igualdade" (que está disponível em espanhol e italiano) e "Um homem, uma mulher". Ela escreve para várias publicações e dá conferências no mundo inteiro). 



O Papa Francisco abrindo o Congresso Eclesial da Diocese de Roma, se dirigiu às famílias incentivando-as a enfrentar a batalha contra a "colonização ideológica" sub-repticiamente introduzida nas escolas italianas e "que envenena a alma e a família". Esse veneno, que mina as bases biológicas e antropológicas do homem, é mais prejudicial que o veneno que se dissolve nos oceanos ou que penetra nas raízes de árvores seculares: ele pode corroer até demolir a humanidade, porque mata a propensão ao encontro entre homem e mulher como ocasião e condição essencial para a reprodução da espécie humana. No terceiro capítulo, “Ecologia da vida cotidiana”, nº 155, a encíclica “Laudato sì” aborda com muita clareza a ideologia de gênero, mesmo sem nunca mencioná-la explicitamente. "A aceitação do próprio corpo como dom de Deus é necessária para acolher e aceitar o mundo inteiro como um dom do Pai e como casa comum; já uma lógica de domínio sobre o próprio corpo se torna uma lógica às vezes sutil de domínio sobre a criação".Portanto, "aprender a acolher o próprio corpo, cuidar dele e respeitar os seus significados é essencial para uma verdadeira ecologia humana". E "também apreciar o próprio corpo na sua feminilidade ou masculinidade é necessário para se reconhecer no encontro com o outro diferente. Desta forma, é possível aceitar com alegria o dom específico do outro ou da outra, obra de Deus Criador, e enriquecer uns aos outros". Assim, conclui com palavras inequívocas, "não é sadia uma atitude que pretenda ‘apagar a diferença sexual por não saber mais lidar com ela’".


Dom Eduardo Benes de Sales Rodrigues



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O massacre de um povo cristão


Hoje, 12 de abril de 2015, o papa Francisco celebra Missa em memória do genocídio armênio. Participam da celebração no Vaticano Sua Santidade Karekin II, Patriarca Supremo Catholicos de todos os Armênios, Sua Santidade Aram I, Catholicos da Igreja Apostólica Armênia da Cilícia, e o Presidente da Armênia, Serge Sargsian.

O genocídio foi perpetrado por decisão das autoridades turcas no contexto da primeira guerra mundial entre 1915 e 1917. Adota-se a data comemorativa o dia 24 de abril de 1915 como início do massacre, por ter sido o dia em que dezenas de lideranças armênias foram presas e massacradas em Istambul.

Nos inícios de 1915 o Comitê de União e Progresso do governo turco decidiu o extermínio dos armênios. Dr. Nazim, membro da comissão encarregada da execução do programa, assim explicitou seu significado:

“Se não existissem os armênios, com uma só indicação do Comitê de União e Progresso poderíamos colocar a Turquia no caminho requerido. O Comitê decidiu liberar a pátria desta raça maldita e assumir ante a história otomana a responsabilidade que este fato implica. Resolver exterminar todos os armênios residentes na Turquia, sem deixar um só deles vivo; nesse sentido, foram outorgados amplos poderes ao governo.”

Eis como vem narrado o massacre em texto na Internet:

“Genocídio armênio, holocausto armênio ou ainda o massacre dos armênios é como é chamada a matança e deportação forçada de centenas de milhares ou até mais de um milhão de pessoas de origem armênia que viviam no Império Otomano, com a intenção de exterminar sua presença cultural, sua vida econômica e seu ambiente familiar, durante o governo dos chamados Jovens Turcos, de 1915 a 1917.

Caracterizou-se pela sua brutalidade nos massacres e pela utilização de marchas forçadas com deportações, que geralmente levavam à morte muitos dos deportados. Outros grupos étnicos também foram massacrados pelo Império Otomano durante esse período, entre eles os assírios e os gregos de Ponto. Alguns historiadores consideram que esses atos são parte da mesma política de extermínio.

Está firmemente estabelecido que foi um genocídio, e há evidências do plano organizado de eliminar sistematicamente os armênios. É o segundo mais estudado evento desse tipo, depois do Holocausto dos judeus na Segunda Guerra Mundial.” (Wikipédia, a enciclopédia livre).
O Prof. Antônio Henrique Campolina da UFJF, assim descreve o triste acontecimento:

“O Genocídio Armênio de 1915 é, sem dúvida alguma, um dos maiores escândalos do século XX. Um Povo, portador de uma cultura milenar, documentada por monumentos preciosíssimos, de uma religião tradicional, de língua própria, de uma literatura mundialmente reconhecida, em suma de uma tradição riquíssima, um Povo cuja identidade é atestada em Documentos de autoridade indiscutida, um Povo bíblico, foi cruelmente massacrado; as cidades da Armênia Ocidental foram todas saqueadas; os lares destruídos pela espada impiedosa de usurpadores. A ordem era o aniquilamento total, amplo e irrestrito dos infiéis através de deportações e de chacinas sucessivas a partir de 1895, com o Grande Massacre, passando pela Carnificina Selvagem de Adana, comandada pelos Jovens Turcos traidores (1909), culminando no Genocídio Sistemático de 1915, que provocou a indignação do mundo inteiro, e nas chacinas da região de Esmirna, sofridas também pelos Gregos (1921-1923).”( Revista Ética e Filosofia Política – Volume 10 – Nº 1; UFJF).

A perseguição aos cristãos recrudesce hoje com motivações pseudo-religiosas. O Estado islâmico mata e sequestra em vários países. Sobre o fato o Papa Francisco, ainda na semana passada, fez um apelo para que “a comunidade internacional não desvie o olhar para outra parte”, referindo-se aos cristãos perseguidos na Síria, Iraque, Líbia, Iêmen, Nigéria e outros países da África. “Nossos irmãos e nossas irmãs são perseguidos, exilados, mortos, decapitados, exclusivamente por serem cristãos”, disse Sua Santidade. “Eles são os mártires do nosso século, talvez até mais numerosos que os primeiros”. Francisco denunciou o “silêncio cúmplice” do mundo enquanto os cristãos são mortos.

O discurso abordou também o ataque à Universidade em Garrisa, leste do Quênia, no qual militantes do Al-Shabab mataram 148 pessoas por não serem muçulmanas e referiu-se, ainda, aos vinte e um cristãos decapitados pelo Estado Islâmico em fevereiro.

Todos somos convidados a solidarizar-nos na oração com nossos irmãos, católicos ou não, que sofrem violenta perseguição em vários países por parte do radicalismo do chamado Estado Islâmico. A intolerância religiosa, tenha ela origem no radicalismo religioso ou no radicalismo laicista e ateu, é um mal contra o qual devemos nos prevenir. A arma é a caridade e o diálogo no pleno respeito ao diferente.

Dom Eduardo Benes de Sales Rodrigues
Artigo publicado nos jornais de Sorocaba - 12.04.2015


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Viver a Semana Santa





Hoje tem início a Semana Santa quando teremos a graça de reviver na liturgia o caminho de Jesus, assim descrito por São Paulo: “Ele, existindo na condição divina, não se apegou á condição divina, mas despojou-se a si mesmo, assumindo a condição de escravo, tornando-se igual aos homens. Vivendo como os outros homens, humilhou-se, fazendo-se obediente até à morte e morte de cruz. Por isso Deus o exaltou acima de tudo e lhe deu o Nome que está acima de todo nome, para que ao nome de Jesus, todo joelho se dobre no céu, na terra e abaixo da terra, e toda língua confesse: Jesus Cristo é o Senhor”, para a glória de Deus Pai” (Flp 2,6-11).
O Papa João Paulo II, em sua Carta Apostólica “No Início do Novo Milênio”, assim explicitou o sentido da paixão de Jesus: revelar-nos o rosto do Pai. Eis suas palavras: “Passa diante dos nossos olhos, em toda a sua intensidade, a cena da agonia no Horto das Oliveiras. Oprimido ao pressentir a prova que O espera, Jesus, sozinho com Deus, invoca-O com a sua habitual e terna expressão de confidência: « Abba, Pai ». Pede-Lhe para que, se for possível, afaste d'Ele o cálice do sofrimento (cf. Mc 14,36); mas, o Pai parece não querer atender a voz do Filho. Para transmitir ao homem o rosto do Pai, Jesus teve não apenas de assumir o rosto do homem, mas de tomar inclusivamente o « rosto » do pecado: « Aquele que não havia conhecido pecado, Deus O fez pecado por nós para que nos tornássemos n'Ele justiça de Deus » (2 Cor 5,21). ( NMI 25).
A entrada em Jerusalém, sob os aplausos daqueles que o acompanhavam e das crianças, montado em um jumentinho, de um lado revelava a esperança de um tempo novo no coração das pessoas e, de outro, a disposição de Jesus de entregar sua vida pela salvação da humanidade. Entrou em Jerusalém como um rei humilde, portador da paz. Só mais tarde, com a vinda do Espírito Santo, os discípulos compreenderam que Cristo deveria assim consumar sua existência histórica e que a verdadeira salvação viria através de suas dores, da entrega de sua vida: “Ele não cometeu pecado algum, mentira nenhuma foi encontrada em sua boca. Quando injuriado, não retribuía injúrias; atormentado, não ameaçava; antes, colocava sua causa nas mãos daquele que julga com justiça. Carregou nossos pecados em seu próprio corpo, sobre a cruz, a fim de que, mortos para os pecados, vivamos para a justiça. Por suas feridas fostes curados. Andáveis como ovelhas desgarradas, mas agora voltastes ao pastor que cuida de vós”( I Pe 2,22-25). Isaias havia profetizado a seu respeito: “Eram na verdade nossos sofrimentos que ele carregava, eram nossas dores que ele levava às costas... estava sendo transpassado por causa de nossas rebeldias, estava sendo esmagado por nossos pecados... com seus ferimentos veio a cura para nós... com sua experiência, meu servo, o justo, fará que a multidão se torne justa, pois é ele que carrega os pecados dela...ele estava carregando os pecados da multidão e intercedendo pelos criminosos”( Is 53). São Paulo assim expressou o que Isaias, alguns séculos antes, havia profetizado: “aquele que não conheceu pecado, Deus o fez pecado por nós, para que nos tornemos justiça de Deus”(II Cor 5,21).
Meditando sobre a Paixão e morte de Jesus, somos convidados a experimentar sua profunda comunhão conosco, quando Ele, passando por dentro de nossas feridas, deixando se tomar por nosso pecado, veio colher-nos na verdade mais profunda de nosso ser, tal como saímos do pensamento e das mãos de Deus e, ressuscitando, resgatar-nos e introduzir-nos no amor infinito de seu Pai e nosso Pai. Refletindo sobre esse mistério de infinita solidariedade, São Paulo afirma: “Com efeito, quando éramos ainda fracos, foi então, no devido tempo, que Cristo morreu pelos iníquos. Dificilmente alguém morrerá por um justo; por uma pessoa muito boa, talvez alguém se anime a morrer. Pois bem, a prova de que Deus nos ama é que Cristo morreu por nós quando éramos pecadores” (Rom 5,6-8). A morte de Cristo não foi apenas um exemplo de doação a ser seguido, ela é causa de nossa salvação. Há aqueles que querem ver na morte de Cristo apenas seu significado político. É muito pouco, embora se possa lê-la também sob esse aspecto. Só terá entrado em seu significado profundo aquele que puder repetir com São Paulo: “Minha vida na carne, eu a vivo na fé, crendo no Filho de Deus, que me amou e se entregou por mim”.  Sim, é preciso experimentar a morte de Cristo como sua entrega “por mim” e se deixar tocar e comover por tão grande gesto de amor e começar a viver para Ele que por nós morreu. Se assim fizermos, ressuscitaremos com Ele para a plenitude da vida sem fim. Vivamos a Semana Santa na meditação, abertos para a graça do Senhor que vem ao nosso encontro para abrir-nos as portas da vida!     

Dom Eduardo Benes de Sales Rodrigues
Artigo publicado, 29.03.2015 - Jornais de Sorocaba - Diário e Cruzeiro do Sul


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Confissões no Tempo da Quaresma




Circular aos párocos e fieis em geral

Levo ao conhecimento de todos os sacerdotes e de todos os católicos da Arquidiocese de Sorocaba que, em obediência à Carta Apostólica - MOTU PROPRIO - de Sua Santidade o Papa João Paulo II - MISERICORDIA DEI -, de 07 de abril de 2002, de acordo com o pensamento da CNBB conforme aparece na legislação complementar por ela apresentada á Santa Sé, não se verificam em nosso território as “situações objetivamente excepcionais” (MD) que justificam “a absolvição sacramental coletiva sem prévia confissão individual”.
As situações reconhecidas pela CNBB seriam:
a) “dificuldades de locomoção dos fieis e pastores, numa vasta extensão territorial;
b) na existência de inúmeras ‘comunidades de fieis isolados, onde o sacerdote só pode passar uma ou poucas vezes ao ano’ ”(MD 4.a e cân. 961 §2).
Em nossa Arquidiocese qualquer fiel, sinceramente arrependido de pecados graves, poderá encontrar, com relativa facilidade, um sacerdote que o atenda e o absolva, restituindo-lhe o estado de graça. E tal fiel, se estiver de fato tomado de sincera contrição, não deixará de procurar o sacerdote. Se não tivesse essa disposição não estaria também em condições de receber a graça do sacramento em uma absolvição coletiva.
Seguem alguns trechos da Carta de João Paulo II:
“Não cabe ao confessor julgar se se verificam as condições requeridas pelo cân. 961-§1, 2º, mas «ao Bispo diocesano, o qual, atendendo aos critérios fixados por acordo com os restantes membros da Conferência Episcopal, pode determinar os casos em que se verifique tal necessidade». Estes critérios pastorais deverão ser expressão do esforço de total fidelidade, nas circunstâncias dos respectivos territórios, aos critérios de fundo definidos pela disciplina universal da Igreja, que se apóiam aliás nas exigências derivadas do mesmo sacramento da Penitência na sua divina instituição” “Não é admissível criar ou permitir que se criem situações de aparente grave necessidade, derivadas da omissão da administração ordinária do sacramento pelo não cumprimento das normas acima indicadas e, muito menos, da opção dos penitentes pela absolvição geral, como se tratasse de uma possibilidade normal e equivalente às duas formas ordinárias descritas no Ritual”.“Não constitui suficiente necessidade, a mera grande afluência de penitentes, não só em ocasiões de uma festa solene ou de uma peregrinação, mas nem mesmo por turismo ou outras razões semelhantes devidas à crescente mobilidade das pessoas”. “Por isso, «todo aquele que, em razão do ofício, tem cura de almas, está obrigado a providenciar para que sejam ouvidas as confissões dos fiéis que lhe estão confiados e que de modo razoável peçam para se confessar, a fim de que aos mesmos se ofereça a oportunidade de se confessarem individualmente em dias e horas que lhes sejam convenientes».” “Além disso, todos os sacerdotes com faculdade de administrar o sacramento da Penitência, mostrem-se sempre e plenamente dispostos a administrá-lo todas as vezes que os fiéis o peçam razoavelmente. A falta de disponibilidade para acolher as ovelhas feridas, mais, para ir ao seu encontro e reconduzi-las ao aprisco, seria um doloroso sinal de carência de sentido pastoral em quem, pela Ordenação sacerdotal, deve reproduzir em si mesmo a imagem do Bom Pastor”.
Estando próxima a quaresma, tempo especial de penitência, peço que os párocos, em reuniões das respectivas Regiões, estudem como organizar de modo solidário e prático o atendimento das confissões. Peço ainda passar para os fieis o ensinamento da Carta de João Paulo II, que os ajude a compreender a importância da confissão e as razões por que não se pode dar, a não ser em circunstâncias muito especiais, a absolvição coletiva.
Dom Eduardo Benes de Sales Rodrigues



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QUARESMA


São quarenta dias até chegar a Semana Santa, quando celebramos a paixão, morte e ressurreição de Jesus. Será então a festa da Páscoa, a Páscoa de Jesus, a nossa Páscoa. Os hebreus saíram do Egito e por quarenta anos peregrinaram pelo deserto até conquistarem a terra prometida. Mas aquele dia, o dia do Êxodo, ficou para sempre gravado na alma do povo hebreu como o dia da grande intervenção de Deus que os libertou do jugo da escravidão. Celebrar a páscoa era para os hebreus celebrar a liberdade. Ser livre, estar livre: eis a grande aspiração de todo ser humano. Mas, em que consiste a liberdade? Para que a liberdade? Sairam do Egito e Deus, através de Moisés, lhes revelou seu projeto: devereis ser meu povo e Eu serei vosso Deus. E lhes colocou diante dos olhos os dez mandamentos, o código da aliança. Tudo se resumia nisto: “amarás o Senhor, teu Deus, com todo o teu coração, com toda a tua alma e com todo o teu entendimento”. E ainda: “amarás o teu próximo como a ti mesmo”( Mt 22,57-39; Cf. Dt 6,5). Ser livres para amar. Eis o sentido da liberdade. Felizes aqueles que conseguem se mover com totalidade na direção de Deus! Estes se explicitam a si mesmos, desabrocham plenamente, têm revelado para si mesmos seu próprio mistério; atraídos por Deus, saem plenamente do escondimento de sua solidão para mergulharem na comunidade divina. A libertação política permite a iniciativa e a participação para a construção social, mas fica sempre a pergunta: sobre que fundamentos construir a vida social? Os hebreus saíram do Egito, mas reproduziram os esquemas do Egito na terra da promessa. Assim vem acontecendo com todas as revoluções no decorrer da história: seus sonhos se desfazem, não obstante o avanço na compreensão dos direitos humanos, por falta de corações novos. Mudam os regimes políticos, implantam-se novos modelos de organização eonômica, e sempre de novo emergem com cara nova os velhos pecados da adoração do dinheiro, do poder e do prazer, sob suas mais variadas formas. Livres da lei injusta, livres do poder opressor, os seres humanos, por não se transformarem desde suas raízes, repetem, em fórmulas novas, as velhas injustiças da qual foram vítimas. Uma libertação maior e mais profunda é necessária. Através do profeta Ezequiel, em tempos extremamente difíceis, Deus falou e prometeu essa transformação: “Eu vos purificarei de todas as impurezas e de todos os ídolos. Eu vos darei um coração novo e porei em vós um espírito novo. Removerei de vosso corpo o coração de pedra e vos darei um coração de carne. Porei em vós o meu espíito e farei com que andeis segundo minhas leis e cuideis de observar os meus preceitos”( Ez 36.25-27). Jesus Cristo é Deus passando no meio de nós, recolhendo nossas dores e assumindo nossos pecados, para dissolvê-los na Cruz e, ressuscitado, dar-nos o Espírito Santo, pelo qual temos um coração novo e nos tornamos capazes de amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo com o amor próprio de Deus. Depois da passagem - a Páscoa - de Jesus, “amar o próximo como si mesmo” recebeu uma versão nova: “amai-vos uns aos outros assim como eu vos amei”. Quaresma é tempo de pensar e viver essas coisas que são coisas de Deus, capazes de mudar a sorte da humanidade. “Não podeis servir a Deus e ao dinheiro” é a tradução prática do mandamento bíblico de amar a Deus sobre todas as coisas. Amar é servir. Servir é adorar. O Apóstolo Paulo, na Epístola aos Romanos fala de Deus “a quem sirvo” usando o verbo “latreô” que significa adorar. Jesus, no monte das Oliveiras, por entre lágrimas e suores - de sangue -, revelou-nos o que significa amar a Deus sobre todas as coisas quando disse: Pai, “não a minha, mas a tua vontade”. Há pessoas que morrem e matam pelo dinheiro a quem servem. As guerras se fazem pela disputa das riquezas. O medo de não ter, de ficar sem, vem da incerteza sobre o amor. Só quem confia em Deus e o tem como a riqueza maior é capaz de desprendimento e de buscar em primeiro lugar o bem do outro. É quando acontece o Reino de Deus na história. Advertindo sobre a excessiva preocupação com os bens materiais, comida e vestes, Jesus coclui: “Buscai em primeiro lugar o Reino de Deus e sua justiça, e todas essas coisas vos serão dadas por acréscimo”(Cf. Mt 6,25-34). É tão simples: se todos buscássemos o bem do outro e se traduzíssemos isso em organização da sociedade, o mundo se aproximaria bastante do paraíso sonhado pela humanidade e querido por Deus. É preciso que alguém comece. Amar a Deus sobre todas as coisas significa desagarrar-se de todas as coisas e apoiar-se no invisível. Diz a Epístola aos Hebreus que Moisés tinha tanta fé que, ao sair do Egito, perseverou “como se visse o invisível”(11,27) É possível sim um outro mundo, desde que o Invisível seja a mais real das realidades na vida dos seres humanos. “Convertei-vos e crede no evangelho”é a ordem de Jesus.



Dom Eduardo Benes de Sales Rodrigues







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Com minhas saudações, um esclarecimento:

Não decretei excomunhão do Pe. Theodoro. Basta uma correta interpretação de meu Comunicado, na semana passada. Ele se excluiu da comunhão com seu bispo. Mons. Joseph Gebara e com o Santo Padre ao aceitar ordenar-se bispo por bispo de origem anglicana.
A obrigação de declará-lo excomungado, ou seja, fora da comunhão católica era de seu bispo, Dom Joseph Gebara, que o faz agora, depois de consumada sua ruptura com a ordenação episcopal anglicana. Em anexo o documento oficial da Eparquia Melquita na qual foi acolhido, se formou, estudou, foi ordenado padre, jurando obediência a seu bispo, e viveu o Pe. Theodoro por tantos anos.. Não sei por que tanta estranheza por parte de alguns. Oxalá os partidos políticos também levassem a sério seus princípios e declarassem fora de seus quadros aqueles que fossem infiéis às suas orientações.. Por fim uma frase do teólogo católico Clodovis Boff: "Na prática a Igreja não expulsa ninguém. Só declara que alguém se excluiu do corpo dos fieis porque começou a professar uma fé diferente". Sempre na esperança de seu retorno..





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Exemplo de fidelidade à Igreja




Celebramos no ano passado o centenário do movimento fundado pelo Pe. José Kentenich em 18 de outubro de 1914. Todos conhecemos a imagem da “Mãe Rainha”cuja visita traz muitas bênçãos para as famílias. O momento doloroso de ruptura que a Igreja sofre em Sorocaba me fez recordar a figura extraordinária do Pe. José Kentenich, cuja fidelidade e obediência à Igreja Católica, na plena submissão ao Papa, podem nos ajudar no amadurecimento da fé. Pe. José Kentenich passou por duas provações especialmente dolorosas. A primeira foi sua prisão com vários de seus colaboradores no campo de concentração de Dachau, onde passou mais de três anos. De lá enviava cartas à sua comunidade e lá confortava seus companheiros de prisão. Sobre esse tempo ele disse algo mais ou menos assim: “entrei no campo de concentração, mas o campo de concentração nunca entrou em mim”. Conservou a serenidade e valeu-se desse tempo para crescer no amor a Deus. A segunda provação foi o decreto por parte do Visitador Apostólico que, em nome da Santa Sé, determinou seu afastamento da comunidade de Schoenstatt, por dúvidas sobre a correção de sua pedagogia e, portanto, da plena ortodoxia de seu movimento. Passou então a residir nos Estados Unidos, onde permaneceu por 14 anos, longe da comunidade que tanto amava. Pe. José Kentenich disse ter sido esta experiência mais dolorosa que a do Campo de Concentração de Dachau, por lhe ter sido imposta pela Igreja a quem ele servia com extremado amor. Na ocasião, questionado por que ele não se defendia com mais vigor, ele respondeu: “na Igreja a gente obedece”. Sua humildade e espírito de fé fecundaram à distância o movimento que havia fundado. Eis como foi entendida na fé esta etapa de sua vida, em escrito no Site do movimento:

“Para o desenvolvimento da Obra, foi de importância decisiva a provação por parte das instâncias da Igreja, do Episcopado alemão e da Santa Sé em Roma que, iniciada em 1949, durou, com algumas interrupções, até 1965. Em virtude desta provação, em 1951 o Padre Kentenich foi afastado da sua Fundação e exilado em Milwaukee (EUA). Como em todas as circunstâncias da sua história, a Família de Schoenstatt também viu, nesta medida, uma condução da Divina Providência. Efetivamente a Obra obteve em 1964, no dia do quinquagésimo aniversário da sua existência, a total aprovação da Igreja. Um ano mais tarde, o Fundador, recebido e louvado por Paulo VI, pôde regressar a Schoenstatt na Noite Santa de 1965.

Aqui, durante ainda quase três anos, ele trabalhou, com a maior dedicação e entrega, no aperfeiçoamento da Obra que Deus lhe confiou. Em 15 de Setembro de 1968, festa das sete dores de Maria, ele morreu com quase 83 anos de idade, precisamente após a celebração da Santa Missa na nova Igreja da Adoração, no Monte Schoenstatt. Sobre o seu túmulo, conforme o seu desejo, estão escritas as palavras: “DILEXIT ECCLESIAM” – Amou a Igreja.

Pe. José Kentenich realizou aquilo que alguns anos depois São Maximiliano Kolbe, que deu sua vida para salvar um companheiro de prisão nazista, ensinou em uma de suas cartas (1973):

“Como a glória de Deus resplandece principalmente na salvação das almas que Cristo remiu com seu próprio sangue, o desejo mais elevado da vida apostólica será procurar a salvação e santificação do maior número possível...E quero brevemente dizer-te qual o melhor caminho para este fim, isto é, para conseguir a glória divina e a santificação de muitas almas. Deus, ciência e sabedoria infinita, sabendo o que, de nossa parte, mais contribui para aumentar sua glória, manifesta-nos a sua vontade, sobretudo pelos seus ministros na terra.

É a obediência, e ela só, que nos indica a vontade de Deus com evidência. O superior pode errar, mas não é possível que nós, ao seguirmos a obediência, sejamos levados ao erro. Só poderia haver uma exceção se o superior mandasse algo que incluísse – mesmo em grau mínimo – uma violação da lei divina; pois, neste caso, o superior não seria fiel intérprete de Deus...

É ele que nos manifesta a sua adorável vontade por meio daqueles que o representam, e nos atrai a si, querendo, deste modo, atrair por nós outras almas, unindo-as a si em amor cada vez mais perfeito...Pela obediência ultrapassamos os limites de nossa pequenez e conformamo-nos à vontade divina, que nos dirige com sua infinita sabedoria e prudência, a fim de agirmos com retidão... Esta é a vereda da sabedoria e da prudência, este é o único caminho pelo qual possamos dar a Deus maior glória... Amemos por isso, irmão, amemos sumamente o amantíssimo Pai celeste, e deste amor seja prova a nossa obediência, exercida em grau supremo quando nos exige o sacrifício da própria vontade. Não conhecemos, para progredir no amor a Deus, livro mais sublime que Jesus Cristo crucificado.”

Dom Eduardo Benes de Sales Rodrigues




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A alegria de ajudar





Uma jovem italiana de 17 anos, amadurecida na fé, desportista, filha única de Ruggero e Thereza, desde muito jovem fez o propósito profundo de não "doar Jesus aos amigos com as palavras, mas com o comportamento". Tudo 
isso nem sempre é fácil; de fato, repetirá algumas vezes: "Como é duro ir contra a corrente!". E para conseguir superar cada obstáculo, repetia: "É por ti, Jesus!".

Foi uma menina normal, mas com algo mais. Era extremamente dócil à graça e aos projetos que Deus tinha para ela e que aos poucos foram se revelando. Morreu depois de dois anos de um Câncer implacável e jamais perdeu a serenidade. Sempre unida a Cristo aguardou o encontro com o esposo de sua alma. Quis ser sepultada vestida de noiva porque ia ao encontro de Cristo. Suas últimas palavras dirigidas à sua mãe: “seja feliz, mamãe porque eu sou feliz.” Seu nome: Chiara Luce Badano. Declarada Bem-Aventurada pelo Papa Bento XVI tornou-se uma referência para a juventude católica, em um tempo em que as propostas de felicidade do consumismo seduzem muitos jovens, lançando-os no vácuo do sem sentido. Chiara Luce é Protetora do GPACI, intercessora e exemplo para todos quantos se confrontam com o câncer, tanto as vítimas, crianças e adolescentes, como os pais que sofrem com a doença de seus filhos. Agradeçamos a Deus a existência do GPACI em nossa cidade, fruto da bênção de Deus e da generosidade de um grupo de cristãos idealistas e sensíveis ao sofrimneto do próximo. Faço um apelo a todos os sorocabanos que ajudem o GPACI participando da bela campanha “MC DIA FELIZ 2014” (dia 30/08). Adquira seu ticket bem como a camiseta que divulga esta admirável obra de amor. Faça contato como GPACI pelo telefone: 15 2101 6555. Experimente a alegria de ajudar. Que a Bem-Aventurada Chiara Luce interceda por você e sua família!
Dom Eduardo Benes de Sales Rodrigues 

Artigo publicado no Jornal Bom Dia
17.08.2014



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SER PAI 


A Semana da Família, concluída ontem, teve como tema “A espiritualidade cristã na família: um casamento que dá certo”. Seu início foi no domingo passado, dia dos pais, quando presidi duas missas nas quais os pais foram carinhosamente lembrados pelas comunidades. Na homilia referi-me a uma cena muito triste que vi na TV. Uma criança nos braços de sua mãe chorava convulsivamente por ouvir a notícia: “o papai está chegando”. É que o pai era uma pessoa violenta. A palavra “pai”, cravada na alma dessa criança, abriu-lhe uma ferida cuja dor poderá acompanhá-la para sempre, se um amor maior não lhe vier em socorro. Mas o cerne da mensagem de minha meditação era este: o pai da terra é sinal do Pai do céu. São Paulo na epístola aos Efésios refere-se à paternidade divina como origem primeira de toda família na terra e no céu: “eu dobro os joelhos diante do Pai de quem toma o nome toda a família no céu e na terra”( Ef 3,14). Na tradução de São Jerônimo temos uma pequena variação: em lugar de “família” aparece a palavra “paternidade”. O sentido é o mesmo: é o Pai do céu reúne, na unidade, a família humana, desde sua célula primeira até a totalidade da sociedade humana. Mas é sobretudo na família “Igreja”, que resplandece essa unidade, pela presença do Filho Unigênito e do Espírito de amor. O Pai é a fonte primeira do amor que Ele nos comunica pelo Filho. Mas, fora de duvida, a paternidade humana é uma participação no amor criador de Deus Pai. Na verdade, nossos pais ao nos gerarem, não nos criaram. Criar é próprio de Deus. Nenhum ser humano poderá dizer: “esta criança que acaba de nascer é fruto de meu poder”. Para quem não crê em Deus a vinda ao mundo de uma criança será atribuída à natureza, da qual os pais são instrumentos. Para quem crê, o começo de uma vida é obra da natureza que tem Deus como seu autor. Cada vida humana que começa tem em Deus sua origem primeira e os pais sabem que estão recebendo aquela vida como um precioso presente. Como seria bom que, ao se unirem na intimidade de esposo e esposa, os pais pudessem se colocar, com alegria, à disposição do Pai do céu com o desejo de receberem o presente de uma nova vida! Todos os filhos estariam, desde o primeiro instante de suas vidas, inundados de amor. Ser pai e mãe é acolher com amor o ser humano que, frágil e desprotegido, brota do encontro amoroso de um homem e de uma mulher. Mas é inevitável a pergunta: e quando os esposos não desejam o filho? Ou ainda: e os filhos concebidos em contexto de violência? No primeiro caso, a resposta é simples: acolher generosamente. Ao fazê-lo os esposos se tornam de fato pais. E no segundo caso, embora em circunstâncias dolorosas, o acolhimento, por parte da gestante e daqueles que constituem sua família, deve ganhar uma dimensão ainda mais profunda para que não fiquem marcas de negação na alma do ser humano em gestação. Destruí-lo? Nunca.



Ser pai, humano, não é simplesmente gerar biologicamente. Isso os bichos também o fazem. É muito mais: é acolher o filho que vem. Nesse sentido todo pai e toda mãe adotam os filhos por eles gerados. Não são menos pais aqueles que, não podendo gerar, adotam crianças nascidas de outros pais. Com certeza são mais pais que muitos que, descuidados, deixam os filhos privados de suas presenças, “como ovelhas sem pastor”.



É pena que o dia dos pais não seja de fato o dia dos pais, ou seja, dos dois que geram, acolhem e acompanham com amor a caminhada dos filhos. O comércio precisa de dois dias: um para as mães, outro para os pais. O Papa João Paulo I, em uma de suas catequeses, ao dizer certa vez: Deus é “Pai e, mais ainda , mãe...”(Angelus de 10/09/1978), nos ensinava que o amor de Deus por nós concentra em si as características do amor de pai e de mãe. Maria e José foram para o Filho Jesus a revelação do amor infinito do Pai que agora deveria inundar sua humanidade de Unigênito, feito um de nós por obra do Espírito Santo.



Terminemos falando de São José, o pai humano perfeito. São José assumiu, no tempo, o Filho de Deus feito homem por obra do Espírito Santo. Não houve e nem haverá ninguém tão pai como José. Todo pai só é pai de verdade quando com a esposa assume, em verdadeiro amor, o filho gerado. E isto São José o fez de forma tão intensa que o menino Jesus aprendeu que seu Deus, o Senhor, devia ser assim como José a quem ele, pequenino, balbuciando, chamava de Abba, papai. Ser pai na terra é ser sinal do Pai do céu. D’Ele procede toda paternidade ( cf. Ef 3,14). “A vocação de São José foi a de representante do Pai Eterno junto a seu Filho Unigênito na terra. Por isso os autores místicos o chamam de “Sombra do Pai Celeste”.



Oxalá todas as crianças possam se alegrar com essa notícia: Deus é seu papai, o Papai do céu. Isso depende em grande parte de você, pai. Sua missão é linda.



Dom Eduardo Benes de Sales Rodrigues 

Artigo publicado nos Jornais Diário de Sorocaba e Cruzeiro do Sul - 17.08.2014









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Não às tentações (II)

Depois de descrever, na Exortação “Evangelii Gaudium”, a atmosfera cultural que expõe os agentes de pastoral a tentações muito perigosas, o Papa Francisco convida-nos dizer um “não” a duas atitudes que roubam o ardor missionário: um “não a acédia egoísta” e um “não ao pessimismo estéril”. Sobre a acédia já refletimos nesse espaço. Hoje queremos transmitir a meditação do Papa sobre uma tentação igualmente paralisante do empenho missionário: o pessimismo. Simplesmente transcrevemos a meditação do Papa Francisco que inicia esta reflexão com o sub-título:

“Não ao pessimismo estéril”

 “A alegria do Evangelho é tal que nada e ninguém no-la poderá tirar (cf. Jo 16,22). Os males do nosso mundo – e os da Igreja – não deveriam servir como desculpa para reduzir a nossa entrega e o nosso ardor. Vejamo-los como desafios para crescer. Além disso, o olhar crente é capaz de reconhecer a luz que o Espírito Santo sempre irradia no meio da escuridão, sem esquecer que, «onde - 46 abundou o pecado, superabundou a graça» (Rm5,20). A nossa fé é desafiada a entrever o vinho em que a água pode ser transformada, e a descobrir o trigo que cresce no meio do joio. Cinquenta anos depois do Concílio Vaticano II, apesar de nos entristecerem as misérias do nosso tempo e estarmos longe de otimismos ingénuos, um maior realismo não deve significar menor confiança no Espírito nem menor generosidade. Neste sentido, podemos voltar a ouvir as palavras pronunciadas pelo Beato João XXIII naquele memorável 11 de outubro de 1962: «Chegam-nos aos ouvidos insinuações de almas, ardorosas sem dúvida no zelo, mas não dotadas de grande sentido de discrição e moderação. Nos tempos atuais, não veem senão prevaricações e ruínas. [...] Mas a nós parece-nos que devemos discordar desses profetas de desgraças, que anunciam acontecimentos sempre infaustos, como se estivesse iminente o fim do mundo. Na ordem presente das coisas, a misericordiosa Providência está-nos levantando para uma ordem de relações humanas que, por obra dos homens e a maior parte das vezes para além do que eles esperam, se encaminham para o cumprimento dos seus desígnios superiores e inesperados, e tudo, mesmo as adversidades humanas, converge para o bem da Igreja.»

 Uma das tentações mais sérias que sufoca o fervor e a ousadia é a sensação de derrota que nos transforma em pessimistas lamurientos e desencantados com cara de vinagre. Ninguém pode empreender uma luta, se de antemão não está plenamente confiado no triunfo. Quem começa sem confiança, perdeu de antemão metade da batalha e enterra os seus talentos. Embora com a dolorosa consciência das próprias fraquezas, há que seguir em frente, sem se dar por vencido, e recordar o que disse o Senhor a São Paulo: «Basta-te a minha graça, porque a força manifesta-se na fraqueza» (2Cor 12,9). O triunfo cristão é sempre uma cruz, mas cruz que é, simultaneamente, estandarte de vitória, que se empunha com ternura batalhadora contra as investidas do mal. O mau espírito da derrota é irmão da tentação de separar prematuramente o trigo do joio, resultado de uma desconfiança ansiosa e egocêntrica.

 É verdade que, em alguns lugares, se produziu uma «desertificação» espiritual, fruto do projeto de sociedades que querem construir sem Deus ou que destroem as suas raízes cristãs. Lá, «o mundo cristão está a tornar-se estéril e se esgota como uma terra excessivamente desfrutada que se transforma em poeira» (Bem- Aventrurado John Henry Newman). Noutros países, a resistência violenta ao Cristianismo obriga os cristãos a viverem a sua fé às escondidas, no país que amam. Esta é outra forma muito triste de deserto. E a própria família ou o lugar de trabalho podem ser também o tal ambiente árido, onde há que conservar a fé e procurar irradiá-la. Mas «é precisamente a partir da experiência deste deserto, deste vazio, que podemos redescobrir a alegria de crer, a sua importância vital para nós, homens e mulheres. No deserto, é possível redescobrir o valor daquilo que é essencial para a vida; assim sendo, no mundo de hoje, há inúmeros sinais da sede de Deus, do sentido último da vida, ainda que muitas vezes expressos implícita ou negativamente. E, no deserto, existe sobretudo a necessidade de pessoas de fé que, com as suas próprias vidas, indiquem o caminho para a Terra Prometida, mantendo assim viva a esperança» (Bento XVI). Em todo o caso, lá somos chamados a ser pessoas-cântaro para dar de beber aos outros. Às vezes o cântaro transforma-se numa pesada cruz, mas foi precisamente na Cruz que o Senhor, trespassado, se nos entregou como fonte de água viva. Não deixemos que nos roubem a esperança!”( EG 84-86).

Não basta, entretanto, o “NÃO”. Aguarde para a próxima vez: “Sim às relações novas geradas por Jesus Cristo.”

Dom Eduardo Benes de Sales Rodrigues
Artigo publicado no Jornal Diário de Sorocaba - 13.07.2014



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A Copa do Mundo

Impossível não falar da Copa do Mundo. Sempre gostei de torcer pelo Brasil. Tenho vaga lembrança do fracasso da copa de 1950. E lembranças agradáveis das copas de 1958 e 1962. E vivíssima recordação da copa de 1970. Das duas últimas, em que o Brasil conquistou a taça, lembro-me com satisfação, mas sem maiores emoções. A que se encerra hoje, acompanhei-a torcendo pelo Brasil, é claro, mas sem muita convicção. Empatar com o México e, depois, ganhar do Chile nos pênaltis, e de dois a um da Colômbia em jogo equilibradíssimo, não permitia confiar no desempenho diante da Alemanha. Mas sete a um foi demais. Como escrevo antes dos jogos de sábado e de domingo, não sei do resultado final. Mas um quarto ou terceiro lugar para a equipe brasileira está de bom tamanho. Afinal, nosso time não enfrentou nenhuma das grandes equipes da Europa até tropeçar na Alemanha!
Esporte é cultura, não é guerra. A vitória é sempre bem-vinda. Perder não é necessariamente derrota. Reconhecer o mérito do outro é grandeza. Não podemos fazer da competição esportiva o desaguadouro de nossas frustrações existenciais, a resposta ao nosso desejo de vencer nem sempre concretizado no cotidiano de nossas vidas.
A frustração pela perda da copa não pode adquirir a dimensão de uma ferida incurável, mesmo que tenhamos sido parados no caminho por um placar de sete a um. A vida continua e somos chamados a enfrentar os desafios do cotidiano com garra e destemor, cuidando, em nossas escolas e bairros, da saúde e da educação de nossas crianças e jovens, de modo que nosso país possa olhar com fé o futuro que deve espelhar sua grandeza.

Dom Eduardo Benes de Sales Rodrigues
Artigo publicado no Jornal Bom Dia - 13.07.2014


 

Vaticano convida os fãs de futebol para fazer "uma pausa para a paz" antes do fim como uma homenagem às vitimas da guerra e da pobreza.

http://www.eluniversal.com.mx/sociedad/2014/brasil-2014-alemania-final-argentina-papas-1022642.html






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Igreja de Sorocaba: 90 anos em missão




Criada diocese pela Bula de Pio XI “Ubi Praesules” de 04 de julho de 1924, a Igreja de Sorocaba está celebrando hoje, no louvor e na ação de graças, seu nonagésimo aniversário. Estamos entrando na década de seu centenário. O momento é de fazer memória, recordar, isto é, trazer de novo para dentro do coração as alegrias e os sonhos dos inícios para agradecer o belo caminho feito com o empenho generoso dos bispos, presbíteros, religiosos(as) e fieis leigos(as) que nos precederam e para assumir em continuidade criativa a missão de evangelizar nosso povo.



Iniciamos hoje uma série de atividades destinadas a relembrar-nos que somos a Igreja de Cristo em nossa região e que temos a missão de anunciar Jesus Cristo, guiados pelo Espírito Santo, e fazer com que seu evangelho continue a moldar o jeito de viver de nossa gente. Nesse sentido convocamos todo o Povo de Deus de nossa amada Igreja a viver intensamente, na oração e na meditação da Palavra, esse ano de graça que o Senhor nos oferece. Grandes desafios se apresentam, como apelos de Deus, para a missão da Igreja no presente momento da história do mundo e de nossa própria história.

O Papa Francisco, na Exortação Apostólica “Evangelii Gaudium”sintetizou a resposta a esses desafios com uma proposta-apelo: a “Transformação missionária da Igreja”. E explicitou: “Cada cristão e cada comunidade devem discernir qual é o caminho que o Senhor lhe pede, mas todos somos convidados a aceitar esta chamada: sair da própria comodidade e ter a coragem de alcançar todas as periferias que precisam da luz do Evangelho”( EG 20).



Sob a proteção de Nossa Senhora da Ponte iniciemos a década do centenário de nossa Igreja dispostos a “anunciar o Evangelho a todos, em todos os lugares, em todas as ocasiões, sem demora, sem resistências e sem medo. A alegria do Evangelho é para todo o povo, não se pode excluir ninguém”(GE 23).



Dom Eduardo Benes de Slaes Rodrigues 

artigo publicado no Jornal Bom Dia - 06.07.2014




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Igreja de Sorocaba: 90 anos em missão






“Diocese é uma porção do Povo de Deus, que se confia a um Bispo para que a apascente com a colaboração do presbitério, de tal modo que, unida ao seu pastor e reunida por ele no Espírito Santo por meio do Evangelho e da Eucaristia, constitui uma Igreja particular, na qual está e opera a Igreja de Cristo, una, santa, católica e apostólica.” (Vat. II, Christus Dominus, 11).



Criada diocese pela Bula de Pio XI “Ubi Praesules” de 04 de julho de 1924 a Igreja de Sorocaba está celebrando hoje, no louvor e na ação de graças, seu nonagésimo aniversário. Estamos entrando na década de seu centenário. O momento é de fazer memória, recordar, isto é, trazer de novo para dentro do coração as alegrias e os sonhos dos inícios para agradecer o belo caminho feito com o empenho generoso dos bispos, presbíteros, religiosos(as) e fieis leigos(as) que nos precederam e para assumir em continuidade criativa a missão de evangelizar nosso povo.



Celebrar é concentrar no instante o passado, o presente e o futuro. Faz-se memória do evento fundante para, no presente, reavivar a identidade da origem e encher-se de esperança operante para caminhar na direção do futuro.



É o que estamos fazendo hoje ao iniciar uma série de atividades destinadas a relembrar-nos que somos a Igreja de Cristo em nossa região e que temos a missão de, guiados pelo Espírito, anunciar Jesus Cristo e fazer com que seu evangelho continue a moldar o jeito de viver de nossa gente. Nesse sentido convocamos todo o Povo de Deus de nossa amada Igreja a viver intensamente, na oração e na meditação da Palavra, esse ano de graça que o Senhor nos oferece. Grandes desafios se apresentam, como apelos de Deus, para a missão da Igreja no presente momento da história do mundo e de nossa própria história.

O Papa Francisco, na Exortação Apostólica “Evangelii Gaudium”sintetizou a resposta a esses desafios com um convite à “Transformação missionária da Igreja”. Seguem algumas citações que explicitam para nós em que consiste essa transformação missionária :



“Cada cristão e cada comunidade há-de discernir qual é o caminho que o Senhor lhe pede, mas todos somos convidados a aceitar esta chamada: sair da própria comodidade e ter a coragem de alcançar todas as periferias que precisam da luz do Evangelho”( EG 20).



“Anunciar o Evangelho a todos, em todos os lugares, em todas as ocasiões, sem demora, sem repugnâncias e sem medo. A alegria do Evangelho é para todo o povo, não se pode excluir ninguém”(23)



“Procurar os afastados e chegar às encruzilhadas dos caminhos para convidar os excluídos”(24).



“Com obras e gestos, a comunidade missionária entra na vida diária dos outros, encurta as distâncias, abaixa-se – se for necessário – até à humilhação e assume a vida humana, tocando a carne sofredora de Cristo no povo”.(24)



“ ‘Acompanhar’. Acompanha a humanidade em todos os seus processos, por mais duros e demorados que sejam. Conhece as longas esperas e a suportação apostólica. A evangelização exige muita paciência, e evita deter-se a considerar as limitações”(24)



“ ‘Frutificar’. A comunidade evangelizadora mantém-se atenta aos frutos, porque o Senhor a quer fecunda. Cuida do trigo e não perde a paz por causa do joio. O semeador, quando vê surgir o joio no meio do trigo, não tem reações lastimosas ou alarmistas”(24)



“ ‘Festejar’: celebra e festeja cada pequena vitória, cada passo em frente na evangelização. No meio desta exigência diária de fazer avançar o bem, a evangelização jubilosa torna-se beleza na liturgia.”(24)



“A reforma das estruturas, que a conversão pastoral exige, só se pode entender neste sentido: fazer com que todas elas se tornem mais missionárias, que a pastoral ordinária em todas as suas instâncias seja mais comunicativa e aberta, que coloque os agentes pastorais em atitude constante de «saída»”(27). E referindo-se especialmente à paróquia:



A Paróquia é “a própria Igreja que vive no meio das casas dos seus filhos e das suas filhas.”(28)[



“A paróquia incentiva e forma os seus membros para serem agentes da evangelização. É comunidade de comunidades, santuário onde os sedentos vão beber para continuarem a caminhar, e centro de constante envio missionário.”(28)



“Sua alegria de comunicar Jesus Cristo exprime-se tanto na sua preocupação por anunciá-Lo noutros lugares mais necessitados, como numa constante saída para as periferias do seu território ou para os novos âmbitos socioculturais.”(30)

Eis o que o Senhor, cabeça e esposo da Igreja, seu corpo e sua esposa, está a nos pedir nesse início da década de seu centenário. Que Nossa Senhora da Ponte, sob cuja proteção nossa Igreja nasceu, pela sua incessante intercessão, atraia sobre nós uma generosa efusão do Espírito Santo para que, por Ele iluminados e fortalecidos, possamos nos tornar cada vez mais uma Igreja missionária, presente e viva nas “periferias de nosso território e nos novos âmbitos socioculturais.”

Dom Eduardo Benes de Sales Rodrigues 
Artigos publicados nos Jornais Diário de Sorocaba e Cruzeiro do Sul - 06.07.2014




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Os Sagrados Corações





Celebramos, sexta e sábado passados, as festas dos Sagrados Corações de Jesus e de Maria. O texto bíblico teologicamente mais significativo sobre o Coração de Jesus está no evangelho de João 19,31-36: “Era o dia de preparação do sábado, e este seria solene. Para que os corpos não ficassem na cruz no sábado, os judeus pediram a Pilatos que mandasse quebrar as pernas dos crucificados e os tirasse da cruz. Os soldados foram e quebraram as pernas, primeiro a um dos crucificados com ele e depois ao outro. Chegando a Jesus, viram que estava morto. Por isso, não lhe quebraram as pernas, mas um soldado golpeou-lhe o lado com uma lança, e imediatamente saiu sangue e água. (Aquele que viu dá testemunho, e o seu testemunho é verdadeiro; ele sabe que fala a verdade, para que vós, também, acrediteis.) Isto aconteceu para que se cumprisse a Escritura que diz: ‘Não quebrarão nenhum dos seus ossos’. E um outro texto da Escritura diz: ‘Olharão para aquele que traspassaram’”.



Os padres da Igreja viram no jorro de água e sangue do coração aberto de Cristo, o símbolo do Batismo e da Eucaristia, sacramentos pelos quais a Igreja, qual nova Eva, começa a ser e se fortalece no mundo. Esta cena foi vivida no Coração Imaculado da mãe, que estava de pé junto da cruz ( Jo 19,23-27). Assim podemos entender que a Igreja nasce do coração rasgado de Cristo morto e do coração vivo da mãe, que só ela sentiu aquela dor, cumprimento da profecia de Simeão: “quanto a ti, uma espada traspassará tua alma”. O que levou São Bernardo a dizer que nosso nascimento para a vida de filhos de Deus foi o parto doloroso de Maria. Maria é Mãe da Igreja. A afirmação do evangelista de que ao ouvir de Jesus: “eis aí tua mãe”, o discípulo amado “a recebeu em sua casa”( Jo 19,27), tem um sentido simbólico que vai muito além do sentido literal, como é próprio do estilo do evangelista João.



As palavras de Jesus querem significar que os filhos da Igreja são filhos de Maria e a ela são por Jesus confiados. É a ela que, por primeiro se dirige Jesus: “Mulher, eis aí teu filho”. É uma declaração e, ao mesmo tempo uma missão: “cuida dele”. Só depois diz ao discípulo: “eis a tua mãe”. É uma recomendação: “acolhe-a e recorre a ela”. Como não nos lembrarmos das bodas de Caná, quando ela pede ao Filho a salvação daquela festa de bodas! E ele - em tradução literal- : “o que a mim e a ti, mulher, ainda não chegou a minha hora”. Mas fez o milagre. E quando chegou a hora – a cruz – revela-se plenamente o sentido da pergunta de Jesus: “o que a mim e a ti, mulher?” A razão da vinda de Jesus a este mundo se mostra na sua hora: “Pai, é chegada a hora, glorifica teu Filho para que teu Filho te glorifique, e que pelo poder que lhe deste sobre toda a carne, ele dê a vida eterna a todos que lhe deste”(Jo 17,1-2). Esta é também a hora de Maria.



Entre Ele e Ela existe uma relação profunda, um vínculo divino, selado pelo Espírito Santo, desde o dia da anunciação, quando ela se entregou totalmente ao desígnio do Pai. Quando ela está ao pé da Cruz, o vínculo, que no decorrer dos anos, se aprofundara entre Ele e Ela, revela seu sentido pleno: ela vive em sua alma, em seu Coração Imaculado, a entrega que Jesus faz de si mesmo ao Pai. E nós nascemos para Deus da oferenda de Jesus à qual Maria está associada de modo singular. Sim, ela é nossa mãe na ordem da graça. Irmão, Irmã, somos todos filhos de Maria. Nascemos do Coração de Jesus e do Coração de Maria para a vida de filhos(as) de Deus. Maria é a primeira remida, por preservação do pecado, para poder ser cooperadora singular da redenção de todos nós. Não houve nenhum movimento do Coração de Jesus, que não tivesse sido acompanhado pelo coração da Mãe. Por isso não posso jamais me esquecer dos dois quadros na sala de minha casa onde, como diante de um sacrário, à luz da lamparina de querosene, nossa família se reunia, ao anoitecer, para rezar o terço. Do lado direito, Ele; do lado esquerdo, Ela. Na Trindade Santa existe também um coração: o Espírito Santo.



Ele plasmou sob o coração de Maria, em seu ventre puríssimo, o Coração de Jesus. Essa proximidade dos dois corações se consuma ao pé da Cruz e se prolonga eternidade adentro e nós bebemos sempre de novo desta fonte de infinito amor. Assim se cumpre em nós a profecia de Ezequiel: “Eu vos darei um coração novo e porei em vós um espírito novo. Removerei de vosso corpo o coração de pedra e vos darei um coração de carne”(Ez 36,26). O Espírito Santo, Coração de Deus Pai e de Deus Filho, foi dado à Igreja, com Maria unida aos discípulos em oração, para que nossos corações pudessem arder de infinito amor e nos tornássemos “um só coração e uma só alma”(cf. At 4,32). Termino com uma das súplicas da Ladainha do Coração de Jesus: “Coração de Jesus, fornalha ardente de caridade, tende piedade de nós.”



Dom Eduardo Benes de Sales Rodrigues 

Artigo publicado no Jornal Diário de Sorocaba- 29.06.2014





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O Papa Francisco fala dos corruptos




No dia 17 de junho o Papa Francisco comentou o trecho da primeira leitura da missa ( I Rs 21,17-19), no qual é narrado o episódio da apropriação indevida da pequena propriedade de Nabot, um israelita temente a Deus, por parte do rei Acab, instigado por sua mulher, Jezabel. O Expediente foi assassinar Nabot. O papa se valeu do texto para falar da corrupção. O profeta Elias denuncia Acab que mandou apedrejar Nabot que se recusava a vender-lhe sua vinha. “Assassinou e então usurpa’, Comenta o papa: ‘O corrupto, quando entra nesse caminho da corrupção, hoje faz uma coisa, amanhã uma outra. Tira a vida, usurpa e se vende, continuamente”...“É como deixasse de ser uma pessoa e se tornasse uma mercadoria”...O corrupto “é exatamente uma mercadoria! Compra e vende: ‘este homem, sim, custa tanto: tu podes comprá-lo e vendê-lo’. Esta é a definição: é uma mercadoria”.

O que fará o Senhor com os corruptos? Antes o Papa falou de três categorias de corruptos: o político corrupto, o especulador negocista e o corrupto eclesiástico. E explica: “todos os três fazem mal aos inocentes, aos pobres, porque são os pobres que pagam a festa dos corruptos. A conta vai para os pobres”. “O corrupto irrita a Deus e faz o povo pecar”. Por isso o Senhor recorre a expressões fortes contra o Acab: “no lugar onde lamberam o sangue de Nabot os cães lamberão também teu sangue”, Por fim o Papa Francisco afirma que existe “uma porta de saída para os corruptos”... “Pedir perdão é a porta de saída para os corruptos políticos, para os especuladores negocistas e para os corruptos eclesiásticos. Mas, afirma o Papa, é preciso ter a atitude de Zaqueu: “Roubei, Senhor, vou restituir o que roubei”.



Dom Eduardo Benes de Sales Rodrigues 

Artigo publicado no Jornal Bom Dia - 29.06.2014







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TRINDADE E EUCARISTIA

No número oito da Exortação Apostólica “Sacramentum Caritatis” o Papa emérito, Bento XVI, nos ensinou que a Eucaristia é dom da Trindade Santa. Assim: “Nela, o Deus-Trindade (Deus Trinitas), que em Si mesmo é amor (1
 Jo 4, 7-8), envolve-Se plenamente com a nossa condição humana. No pão e no vinho, sob cujas aparências Cristo Se nos dá na ceia pascal (Lc 22, 14-20; 1 Cor 11, 23-26), é toda a vida divina que nos alcança e se comunica a nós na forma do sacramento: Deus é comunhão perfeita de amor entre o Pai, o Filho e o Espírito Santo. Já na criação, o homem fora chamado a partilhar, em certa medida, o sopro vital de Deus (Gn 2, 7). Mas, é em Cristo morto e ressuscitado e na efusão do Espírito Santo, dado sem medida (Jo 3, 34), que nos tornamos participantes da intimidade divina.(16) Assim Jesus Cristo, que « pelo Espírito eterno Se ofereceu a Deus como vítima sem mancha » (Heb 9, 14), no dom eucarístico comunica-nos a própria vida divina. Trata-se de um dom absolutamente gratuito, devido apenas às promessas de Deus cumpridas para além de toda e qualquer medida..”

A Eucaristia, pois, condensa em si toda a riqueza de nossa fé. Por esse Sacramento - dos sete, o maior - Deus Trino entra em comunhão conosco e nós entramos em comunhão com Ele. O Pai nos entrega o Filho e, com o Filho e por Ele, nós nos entregamos ao Pai. É o sacramento pelo qual a graça do batismo chega à sua plenitude e se torna sempre mais intensa em nossa vida.

A Santíssima Trindade é a nossa origem, nossa vida e nosso destino. Habita em nós como em seu mais precioso templo. Somos o seu Povo e, como tal, devemos viver na eterna comunhão de amor do Pai, do Filho e do Espírito Santo e em uma sempre mais profunda comunhão com os irmãos de humanidade. Assim como a Trindade se abriu pelas divinas missões para nós, nós somos impelidos também a nos abrir para todos os outros, em permanente missão, no serviço e no diálogo, no testemunho e no anúncio das maravilhas de nosso Deus. A Eucaristia é o sacramento que alimenta em nós este sagrado convívio e nos sustenta na missão. Ela é o sacramento-síntese dos grandes mistérios de nossa fé. Prolonga no tempo o mistério da encarnação, torna presente o mistério pascal de Cristo, é a mesa da Trindade, posta para o seu Povo; é convite e força para a missão, pão dos que caminham, anúncio e antecipação do reino definitivo.

A comunhão de eterno e infinito amor do Pai, do Filho e do Espírito Santo se abriu para a humanidade, pois “o Verbo, o Filho, - no qual estava a Vida, luz dos homens - se fez carne e habitou entre nós”. O Verbo veio e com Ele veio o Espírito Santo de amor que operou sua encarnação no seio da Virgem Maria e que o conduziu, homem como nós, exceto no pecado, ao encontro de todos os seres humanos a fim de que os levasse à plenitude da vida. Jesus Cristo, o Verbo, Filho, feito um de nós, experimentou em seu coração humano o amor intratrinitário, na qualidade de Filho e, impelido pelo Espírito, entregou-se, na Cruz, ao Pai para fazer-nos participantes de sua alegria. O sentido de seu sacrifício foi revelado pela sua oração sacerdotal: “e, por eles, a mim mesmo me consagro para que sejam consagrados na verdade. Não rogo somente por eles, mas pelos que, por meio de sua palavra, crerão em mim: a fim de que todos sejam um, como tu, Pai, estás em mim e eu em ti. Que eles estejam em nós, para que o mundo creia que me enviaste. Eu lhes dei a glória que me deste para que sejam um, como nós somos um: eu neles e tu em mim para que seja perfeitos na unidade” (Jo 17,20-23). O estar em Cristo nos introduz na sua comunhão com o Pai, que é comunhão no Espírito de amor. Pois bem, no cap. VI, do mesmo evangelho de São João, Jesus diz: “quem come a minha carne e bebe o meu sangue permanece em mim e eu nele” (Jo 6,56). Pela Eucaristia, pois, mergulhamos sempre mais na comunhão do Pai com o Filho, no Espírito. A Eucaristia deve ser compreendida, pois, como prolongamento do mistério da encarnação e presença real do sacrifício da Cruz: vinda do Filho para a vida do mundo. Jesus, portanto, está no meio de nós especialmente, e de modo singular, pela santa Eucaristia. O Concílio Vat II assim resumiu o sentido da Eucaristia:
“Na última Ceia, na noite em que foi entregue, nosso Salvador instituiu o Sacrifício Eucarístico de seu Corpo e Sangue. Por ele, perpetua pelos séculos, até que volte, o Sacrifício da Cruz, confiando destarte à Igreja, sua dileta Esposa, o memorial de Sua Morte e Ressurreição: sacramento de piedade, sinal de unidade, vínculo de caridade, banquete pascal, em que Cristo nos é comunicado em alimento, o espírito é repleto de graça e nos é dado o penhor da futura glória” (Vat II, SC 47).
Amar, pois, a Eucaristia, participar de sua celebração e permanecer em oração diante do SS. Sacramento não é só dever do cristão, é muito mais: é sua alegria.

Dom Eduardo Benes de Sales Rodrigues 

Artigo publicado no Jornal Diário de Sorocaba - 15.06.2014


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Deus mora em nós

Celebramos hoje a solenidade da Santíssima Trindade. São João nos ofereceu a mais bela definição de Deus: “Deus é Amor (I Jo 4,8). Se Deus é amor, Deus não pode ser alguém em eterna solidão. Em Jesus Cristo Deus se revelou
 trino. O Deus único é Trino: três pessoas em eterna comunhão de amor. Jesus orou assim antes de sua paixão e morte:” E agora glorifica-me, Pai, junto de ti com a glória que eu tinha contigo antes que o mundo existisse”( Jo 17,5). Portanto, antes de nascer como um de nós, Jesus, como pessoa subsistia em Deus, na qualidade de Filho, eternamente gerado, sem princípio nem fim. Ele é o Filho amado que veio para o meio de nós para introduzir-nos no mistério de Deus. Sua vinda se deu por obra do Espírito Santo. O Espírito Santo é revelado como Espirito que procede do Pai para o Filho, como amor pessoal, conforme nos narram os evangelistas sinóticos quando do batismo de Jesus: “Ora, tendo o povo recebido o batismo, no momento em que Jesus, também batizado, achava-se em oração, o céu se abriu e o Espírito Santos desceu sobre ele em forma corporal, como pomba. E do céu veio uma voz: Tu és meu Filho bem amado no qual pus toda a minha complacência “( Lc 3,21-22). Jesus enviou da parte do Pai o Espírito Santo aos Apóstolos, como celebramos domingo passado. É deste mistério, o mistério de um Deus amor, que proviemos e para onde caminhamos. Somos morada de Deus, Pai, Filho e Espírito Santo. Filhos no Filho, pela ação do Espírito Santo, somos infinitamente amados pelo Pai e podemos amá-lo com o mesmo amor com que o Filho O ama. Glória ao Pai e ao Filho e ao Espírito Santo!

Dom Eduardo Benes de Sales Rodrigues 
Artigo publicado no Jornal Bom Dia - 15.06.2014







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Pentecostes é hoje



Pentecostes era, no Antigo Testamento, uma festa de grande significado para os israelitas. Todos deviam ir a Jerusalém agradecer pelo início da colheita de trigo. Era também chamada festa das semanas por ser celebrada sete semanas depois da páscoa. No qüinquagésimo dia - “pentecostes” significa cinquenta dias-, depois da páscoa, todo o povo se reunia em Jerusalém para a grande ação de graças pela colheita, oferecendo as primícias ao Senhor. Desde o séc. II esta festa, originariamente agrária, passou no Judaismo a ser celebrada como memória da promulgação da lei mosaica, no Sinai, festa da Aliança. É no contexto desta festa, quando em Jerusalém havia uma grande concentração de fieis judeus, inclusive vindos de outras nações - da diáspora –, que São Lucas, nos Atos dos Apóstolos, coloca a manifestação do Espírito Santo. Assim: “Quando chegou o dia de Pentecostes, os discípulos estavam reunidos no mesmo lugar. De repente, veio do céu um ruído como de um vento forte, que encheu toda a casa em que se encontravam. Então apareceram línguas como de fogo que se repartiram e pousaram sobre cada um deles. Todos ficaram cheios do Espírito Santo e começaram a falar em outras línguas conforme o Espírito lhes concedia expressar-se”(At 2, 1-4). O livro dos Atos continua a narrativa acentuando o fato de que em Jerusalém estavam presentes pessoas de todas as nações e cada um ouvia os apóstolos falarem como se fosse na própria língua. Foi nesse dia que Pedro, cheio de coragem, anunciou a ressurreição de Jesus, conclamando os ouvintes à conversão. Pedro fechou sua proclamação com estas palavras: “Deus ressuscitou este mesmo Jesus e disso nós somos testemunhas. E agora, exaltado pela direita de Deus, Ele recebeu o Espírito Santo que fora prometido pelo Pai e o derramou, como estais vendo e ouvindo...Portanto, que todo o Povo de Israel reconheça com plena certeza: Deus constituiu Senhor e Cristo a este Jesus que vós crucificastes”(At 2,32-36). Os ouvintes, tocados pela palavra de Pedro, “ficaram com o coração compungido e perguntaram a Pedro e aos outros apóstolos” sobre o que fazer agora. “Pedro respondeu: convertei-vos, e cada de vós seja batizado em nome de Jesus Cristo, para o perdão dos pecados. E recebereis o Espírito Santo” ( At 2, 37-38). Naquele dia foram batizados, “mais ou menos três mil pessoas”((At 2,41). Na festa judaica das colheitas, quando as primícias eram oferecidas em Jerusalém, verifica-se a primeira colheita, fruto do grão de trigo semeado na Cruz. Jesus mesmo havia falado do Espírito Santo, que haveria de vir sobre os apóstolos: “quando, porém, vier o Defensor que eu vos enviarei da parte do Pai, o Espírito da verdade, que procede do Pai, ele dará testemunho de mim. E vós também dareis testemunho, porque estais comigo desde o começo” (Jo 15,26-27). Pedro, que dois meses antes teve medo de dar testemunho de Cristo, negando-o por três vezes, proclama corajosamente diante de todo o povo que Jesus é Senhor e Messias. Suas palavras queimam como fogo e fazem a primeira porção de convertidos. A Nova Aliança, nascida do coração transpassado de Cristo, é plantada nos corações dos discípulos pela atuação poderosa do Espírito Santo, Espírito de amor do Pai e do Filho. A nova lei é vida no coração dos que creem. O Verbo grego mais usado no livro dos Atos para comunicar a mensagem da salvação é o verbo “querissein”, que significa proclamar em público, com força, de modo a tocar os corações. Hoje, como ontem, é preciso proclamar Jesus como salvação para a humanidade. Ele disse: “Eu sou o caminho, a verdade e a vida”. Os bispos, no documento de Aparecida afirmam: “necessitamos que cada comunidade cristã se transforme num poderoso centro de irradiação da vida em Cristo. Esperamos um novo Pentecostes que nos livre do cansaço, da desilusão, da acomodação ao ambiente; esperamos uma vinda do Espírito que renove nossa alegria e nossa esperança”(n. 362). Pentecostes não é, pois, um acontecimento perdido no passado, é ação permanente do Senhor em sua Igreja. A Igreja está a convocar todos os fieis para retomar com novo ardor a missão de testemunhar e de anunciar Jesus Cristo como Salvador da Humanidade. Para que isso aconteça é necessário que cada um de nós renove e aprofunde a experiência do encontro com Cristo. Isto é obra do Espírito Santo. Assim nos ensina o documento de Aparecida: “esse encontro deve renovar-se constantemente pelo testemunho pessoal e comunitário, pelo anúncio do querigma e pela ação missionária da comunidade...”(n. 278a). Por isso a Igreja repete sempre de novo: “Vinde Espírito Santo, enchei os corações de vossos fieis e acendei neles o fogo do vosso amor”. 



Dom Eduardo Benes de Sales Rodrigues 

Artigo publicado no Jornal Cruzeiro do Sul - 08.06.2014




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Pentecostes é hoje




Pentecostes era, no Antigo Testamento, uma festa de grande significado para os israelitas. Todos deviam ir a Jerusalém agradecer pelo início da colheita de trigo. Era também chamada festa das semanas por ser celebrada sete semanas depois da páscoa, no quinquagésimo dia. O livro dos Atos dos Apóstolos narra a vinda do Espírito Santo no dia desta festa em Jerusalém.(cf. At 2,1ss).

Jesus enviou o Espírito Santo que permanece conosco para sempre. O livro dos Atos narra a experiência extraordinária que os apóstolos fizeram quando receberam o Espírito Santo. Foi uma transformação profunda: uma certeza nova lhes tomou conta de todo o ser e eles saíram a proclamar a Ressurreição e o Senhorio de Jesus com palavras de fogo que queimavam os corações de seus ouvintes, produzindo-lhes sincero arrependimento de seus pecados e desejo de se entregarem a Cristo. O Espírito continua agindo hoje, convertendo e multiplicando seus dons para o crescimento da Igreja, Corpo de Cristo, e para a salvação do mundo. Somos chamados a viver na intimidade do Espírito nossa relação com Cristo, com o Pai e com os irmãos de fé e de humanidade para que o mundo creia que Jesus veio e trouxe de fato a salvação para todos. Viver a comunhão e testemunhá-la no mundo é obra do Espírito. Jesus, antes de subir aos céus, disse aos discípulos ainda confusos quanto à missão que Ele lhes confiava: “o Espírito Santo descerá sobre vós e dele recebereis força. Sereis então minhas testemunhas em Jerusalém, em toda a Judeia e Samaria, e até os confins da terra”(At 1,8). Ser testemunha é viver o evangelho no coração do mundo.



Dom Eduardo Benes de Sales Rodrigues 

Artigo publicado no Jornal Bom Dia - 06.06.2104




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Hoje é Pentecostes, Deus em nós



Pentecostes é a plenitude da páscoa. É pela atuação do Espírito Santo que a Páscoa se concretiza em nossa Vida. Sabemos e experimentamos que passamos da morte para a vida porque o Espírito Santo foi derramado em nossos corações. Jesus prometeu enviar o Espírito. E assim descreveu, segundo o evangelho de João, sua missão: 1. A experiência da comunhão trinitária e eclesial: “nesse dia compreendereis que estou em meu Pai e vós em mim e eu em vós” (Jo 14,16.20); 2. A plena compreensão e a lembrança sempre viva do ensinamento de Jesus: “mas o Paráclito, o Espírito Santo que o Pai enviará em meu nome, é que vos ensinará tudo e vos recordará tudo o que eu vos disse” (Jo 14,26); 3. O Testemunho no coração dos discípulos de que Jesus é o Senhor e a força para testemunharem essa verdade: “quando vier o Paráclito, que vos enviarei de junto do Pai, o Espírito da verdade que vem do Pai, ele dará testemunho de mim. E vós também dareis testemunho porque estais comigo desde o começo” (Jo 15,26-27); 4. O testemunho do Espírito convencerá o mundo de seu pecado, da santidade e justiça de Jesus e mostrará a vitória de Cristo sobre o maligno: “quando eu for enviá-lo-ei (o Espírito Santo) a vós e, vindo, ele argüirá o mundo a respeito do pecado, da justiça, e do julgamento ( Jo 16, 7-8); 5. O Espírito dará uma experiência plena da verdade que vem do Pai pelo Filho porque ele tudo recebe do Pai e do Filho: “Quando vier o Espírito da verdade, ele vos conduzirá à verdade plena, pois não falará de si mesmo mas dirá tudo o que tiver ouvido e vos anunciará as coisas futuras. Ele me glorificará porque receberá do que é meu e vos anunciará. Tudo o que o Pai tem é meu. Por isso vo-lo disse: ele receberá do que é meu e vos anunciará “(Jo 16,13-15).

Jesus enviou o Espírito Santo que permanece conosco para sempre. É o que celebramos na festa de Pentecostes. O livro dos Atos (Cap. 2) nos narra a experiência extraordinária que os apóstolos fizeram quando receberam o Espírito Santo. Foi uma transformação profunda: uma certeza nova lhes tomou conta de todo o ser e eles saíram a proclamar a Ressurreição e o Senhorio de Jesus com palavras de fogo que queimavam os corações de seus ouvintes, produzindo-lhes sincero arrependimento de seus pecados e desejo de se entregarem a Cristo. O Espírito continua agindo hoje, convertendo e multiplicando seus dons para o crescimento da Igreja, Corpo de Cristo, e para a salvação do mundo. Somos chamados a viver na intimidade do Espírito nossa relação com Cristo, com o Pai e com os irmãos de fé e de humanidade para que o mundo creia que Jesus veio e trouxe de fato a salvação para todos. Viver a comunhão e testemunhá-la no mundo é obra do Espírito. Jesus, antes de subir aos céus, disse aos discípulos ainda confusos quanto à missão que Ele lhes confiava: “o Espírito Santo descerá sobre vós e dele recebereis força. Sereis então minhas testemunhas em Jerusalém, em toda a Judeia e Samaria, e até os confins da terra”(At 1,8).

É o que nos recorda o Papa Francisco na Exortação Apostólica “A Alegria do Evangelho”: O querigma é trinitário. É o fogo do Espírito que se dá sob a forma de línguas e nos faz crer em Jesus Cristo, que, com a sua morte e ressurreição, nos revela e comunica a misericórdia infinita do Pai”( n.164). E mais adiante: “Para manter vivo o ardor missionário, é necessária uma decidida confiança no Espírito Santo, porque Ele «vem em auxílio da nossa fraqueza» (Rom 8, 26). Mas esta confiança generosa tem de ser alimentada e, para isso, precisamos de O invocar constantemente. Ele pode curar-nos de tudo o que nos faz esmorecer no compromisso missionário. É verdade que esta confiança no invisível pode causar-nos alguma vertigem: é como mergulhar num mar onde não sabemos o que vamos encontrar. Eu mesmo o experimentei tantas vezes. Mas não há maior liberdade do que a de se deixar conduzir pelo Espírito, renunciando a calcular e controlar tudo e permitindo que Ele nos ilumine, guie, dirija e impulsione para onde Ele quiser. O Espírito Santo bem sabe o que faz falta em cada época e em cada momento. A isto chama-se ser misteriosamente fecundos!”(n. 280)

Invoquemo-lo sempre de novo e deixemos nos conduzir por Ele e seremos felizes daquela felicidade que o mundo não pode dar porque ela vem de Deus!



Dom Eduardo Benes de Sales Rodrigues 

Artigo publicado no Jornal Diário de Sorocaba- 08.06.2104






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Uma bela mensagem do papa Francisco

“Comunicação a serviço de uma autêntica cultura do encontro” é o tema da Mensagem do Papa Francisco, promulgada dia 23 de janeiro de 2014, para o 48º Dia Mundial das Comunicações, que celebramos hoje, festa da Ascensão do Senhor. Passo ao leitor alguns trechos da mesma que me parecem mais significativos.

“Hoje vivemos em um mundo que está se tornando cada vez menor, parecendo, por isso mesmo, que deveria ser mais fácil fazer-nos próximos uns dos outros”. Entretanto “o mundo sofre de múltiplas formas de exclusão, marginalização e pobreza, como também de conflitos para os quais convergem causas econômicas, políticas, ideológicas e até mesmo, infelizmente, religiosas.”

“Neste mundo, os meios de comunicação podem ajudar a sentir-nos mais próximos uns dos outros; a fazer-nos perceber um renovado sentido de unidade da família humana, que impele à solidariedade e a um compromisso sério para uma vida mais digna para todos.”

“Particularmente, a Internet pode oferecer maiores possibilidades de encontro e de solidariedade entre todos; e isso é um dom de Deus.”

“No entanto, existem aspectos problemáticos: a velocidade da informação supera a nossa capacidade de reflexão e discernimento, e não permite uma expressão equilibrada e correta de si mesma. A variedade das opiniões expressas pode ser sentida como riqueza, mas é possível também fechar-se numa esfera de informações que correspondem apenas às nossas expectativas e às nossas ideias, ou mesmo a determinados interesses políticos e econômicos... O desejo de conexão digital pode acabar por nos isolar do nosso próximo, de quem está mais perto de nós. Sem esquecer de que a pessoa que, pelas mais diversas razões, não tem acesso aos meios de comunicação social corre o risco de ser excluída.”

“Esses limites são reais, mas não justificam uma rejeição dos mass-media; antes, recordam-nos que a comunicação é uma conquista mais humana que tecnológica.”

“Se estivermos verdadeiramente desejosos de escutar os outros, então aprenderemos a ver o mundo com olhos diferentes e a apreciar a experiência humana tal como se manifesta nas várias culturas e tradições. Saberemos apreciar melhor também os grandes valores inspirados pelo cristianismo, como, por exemplo, a visão do ser humano como pessoa, o matrimônio e a família, a distinção entre esfera religiosa e esfera política, os princípios de solidariedade e subsidiariedade, entre outros. Então, como pode a comunicação estar a serviço de uma autêntica cultura do encontro?... Como é possível, apesar de todas as nossas limitações e pecados, ser verdadeiramente próximos aos outros? “E quem é o meu próximo?” (Lc10,29)... Como se manifesta a “proximidade” no uso dos meios de comunicação e no novo ambiente criado pelas tecnologias digitais? Encontro resposta na parábola do bom samaritano, que é também uma parábola do comunicador. ..O bom samaritano não só se faz próximo, mas cuida do homem que encontra quase morto ao lado da estrada. Jesus inverte a perspectiva: não se trata de reconhecer o outro como meu semelhante, mas da minha capacidade para me fazer semelhante ao outro...Gosto de definir esse poder da comunicação como “proximidade”. Quando a comunicação tem como objetivo predominante induzir ao consumo ou à manipulação das pessoas, encontramo-nos perante uma agressão violenta como a que sofreu o homem espancado pelos assaltantes e abandonado na estrada, como lemos na parábola.”
“É necessário que a conexão seja acompanhada pelo encontro verdadeiro... Precisamos de ternura...Entre uma Igreja acidentada que sai pela estrada e uma Igreja doente de autorreferencialidade, sem dúvida prefiro a primeira...Penso nas estradas do mundo onde as pessoas vivem: é lá que as podemos, efetiva e afetivamente, alcançar. Entre essas estradas estão também as digitais, congestionadas de humanidade muitas vezes ferida: homens e mulheres que procuram uma salvação ou uma esperança. Também graças à rede, a mensagem cristã pode viajar “até os confins do mundo” (At 1,8).
É preciso saber se inserir no diálogo com os homens e mulheres de hoje, para compreender os seus anseios, dúvidas, esperanças, e oferecer-lhes o Evangelho.”
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“Dialogar não significa renunciar às próprias ideias e tradições, mas à pretensão de que sejam únicas e absolutas.”

O Papa Francisco assim conclui sua mensagem:

“É importante a atenção e a presença da Igreja no mundo da comunicação, para dialogar com o ser humano de hoje e levá-lo ao encontro com Cristo: uma Igreja companheira de estrada sabe pôr-se a caminho com todos. Nesse contexto, a revolução nos meios de comunicação e de informação é um grande e apaixonante desafio, que requer energias renovadas e imaginação nova para transmitir aos outros a beleza de Deus.”


Dom Eduardo Benes de Sales Rodrigues
Artigo publicado no Jornal Diário de Sorocaba - 01.06.2014




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Uma bela mensagem

 O Papa Francisco, em sua mensagem para o Dia Mundial das Comunicações Sociais, que celebramos hoje, enviou-nos uma reflexão onde descreve os benefícios que seu avanço, sobretudo através da Internet, nos traz bem como os riscos a que nos expõe.
“Os meios de comunicação podem ajudar a sentir-nos mais próximos uns dos outros; a fazer-nos perceber um renovado sentido de unidade da família humana, que impele à solidariedade e a um compromisso sério para uma vida mais digna para todos.”

“Particularmente, a Internet pode oferecer maiores possibilidades de encontro e de solidariedade entre todos; e isso é um dom de Deus.”

Mas “o desejo de conexão digital pode acabar por nos isolar do nosso próximo, de quem está mais perto de nós. Sem esquecer de que a pessoa que, pelas mais diversas razões, não tem acesso aos meios de comunicação social corre o risco de ser excluída.”

“Esses limites são reais, mas não justificam uma rejeição dos mass-media; antes, recordam-nos que a comunicação é uma conquista mais humana que tecnológica.”

E propõe que os meios de comunicação se coloquem a serviço da cultura do encontro. E valendo-se da parábola do Bom Samaritano, recorda-nos que o encontro só é verdadeiro quando nos fazemos próximos do outro para compreendê-lo e oferecer-lhe uma autêntica amizade; para também curar-lhe as feridas. “É necessário que a conexão seja acompanhada pelo encontro verdadeiro... Precisamos de ternura...” E conclui, referindo-se à missão da Igreja: “Nesse contexto, a revolução nos meios de comunicação e de informação é um grande e apaixonante desafio, que requer energias renovadas e imaginação nova para transmitir aos outros a beleza de Deus.”


Dom Eduardo Benes de Sales Rodrigues
Artigo publicado no Jornal Bom Dia - 01.06.2014





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Creio na Ressurreição


A fé na ressurreição não nos permite aceitar a reencarnação. Uma única vez nascemos neste mundo, criados por Deus no ato mesmo no qual somos gerados. E morremos uma só vez: “O destino de todo o homem é morrer uma só vez e depois vem o julgamento”(Hb 9,27). A salvação não consiste, em primeiro lugar, no aperfeiçoamento moral do ser humano, mas acontece pelo reconhecimento de sermos pecadores e na aceitação da misericórdia do Pai que em Cristo nos acolhe. Esta experiência nos leva à prática das virtudes, sempre movidos pela caridade, que é o amor de Deus derramado em nossos corações pelo Espírito Santo. Na nossa liberdade cooperamos com a graça para avançar na santidade e na purificação de nosso ser. Aquelas pessoas que, por graves deficiências, estão impossibilitadas de participar do processo da própria libertação, incapazes de plena liberdade, serão acolhidas por Deus depois da morte e terão a graça da sua plena realização pelo desabrochamento de todo o seu potencial que ficou impedido de se manifestar em sua existência terrena. E nós, que, apesar de nossos esforços, levarmos desta vida restos de pecado, seremos purificados pelo amor misericordioso de Deus.

E haveremos de exclamar: “Deus me ama tanto e amei tão pouco no tempo da vida”. Esta é a dor da purificação que vem logo depois da morte. Mas o amor de Deus nos puxará para dentro de seu mistério e seremos totalmente livres para amá-lo eternamente.

E no final de tudo teremos nossos corpos glorificados. Seremos como astros a brilhar no firmamento.



Dom Eduardo Benes de Sales Rodrigues 

Artigo publicado no Jornal Bom Dia - 11.05.2014



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Copa do Mundo

Na Babilônia antiga a chegada do ano novo era celebrada com a dramatização ritual do mito da fundação do mundo em que Marduk, o deus da renovação e da ordem cósmica, vencia Tiamat, o dragão infernal, personificação do caos primordial. Narra o mito que, depois de encarniçada luta, Marduk dividiu em duas partes Thiamat e, com as duas metades fez o céu e a terra, para, em seguida, fazer o ser humano com o sangue do demônio Kingú misturado com terra. Mircea Eliade, grande historiador e filósofo da religião, assim interpreta o mito: “a luta entre os dois grupos de figurantes repetia a passagem do ‘caos’ ao ‘cosmos’, atualizava a cosmogonia. O acontecimento mítico se fazia de novo presente”. O presidente, oficiante, exclamava: “que ele possa continuar a vencer Tiamat e abreviar seus dias!” Continua Mircea Eliade: “O combate, a vitória e a criação tinham lugar naquele mesmo instante, hic et nunc”. A vibração do povo era intensa.
Foi nesse contexto que o povo de Israel, no exílio, aprofundou a fé na criação do céu e da terra tal como aparece no primeiro capítulo do Gênesis. Não há luta, apenas a palavra de Deus: “Deus disse” e tudo se fez. No homem nenhuma mistura de bem e mal, mas só bem: “façamos o homem à nossa imagem e semelhança”. A desordem - o caos - entrou no mundo pela liberdade do ser humano seduzido por outra criatura que, antes dele, já introduzira na criação o vazio do mal.

A vitória sobre o mal se dá no coração da história pelo triunfo do amor sobre o ódio e o egoísmo - sobre o pecado - que introduzem permanentemente no mundo a desordem, a morte. Nós, cristãos, professamos nossa fé em Jesus Cristo, o Filho enviado pelo Pai, que, pela sua páscoa, venceu definitivamente o pecado e a morte. Em nossa liturgia celebramos essa vitória e nos apropriamos dela, aqui e agora, até que ela se complete para a história como um todo. Enquanto não chega esse tempo, estamos todos, cristãos e não-cristãos, empenhados em dramática luta contra o mal na esperança da libertação definitiva. São Paulo, ao descrever a situação da criação de Deus escravizada pelo pecado e esperançosa de libertação, afirma: “Com efeito, sabemos que toda a criação, até o presente, está gemendo como que em dores de parto, e não somente ela, mas também nós, que temos as primícias do Espírito, gememos em nosso íntimo, esperando a adoção filial, a redenção de nosso corpo”(Rom 8, 19-23). A copa do mundo está às portas. O Brasil inteiro estará assentado diante dos aparelhos de TV. A vitória é intensamente desejada. Os jogadores – se o Brasil ganhar -, serão transformados em heróis nacionais, deuses do futebol. Por um momento o tempo dará lugar à eternidade. Os vitoriosos, jogadores e torcedores, serão banhados por sua luz, terão suas almas lavadas, estarão em estado de graça.

O prêmio será a taça levantada para a contemplação dos olhos ávidos de felicidade e de glória. Os vencidos, de olhos baixos, se entregarão ao choro. Como é ruim, frustrante, a derrota! É assim que a disputa esportiva revive, na força da dramatização ritual-simbólica, o drama profundo da existência humana. Há uma batalha de fundo em que todos estamos metidos e que não admite derrota. Esta seria a destruição e a morte definitiva. Marx havia pensado que a religião era tão somente a expressão simbólica de aspirações não realizadas na vida real, a solução fantástica de problemas reais, a compensação transcendente para frustrações históricas. Nós pensamos que a dimensão religiosa é a mais profunda dimensão da existência humana. O mal deve ser vencido desde as raízes mais profundas do ser humano. Sozinhos, não venceremos; precisamos de redenção, da graça de Deus e temos que lutar articulados, em equipe, por um projeto maior, sem estrelismos, sabendo que a vitória é possível e está ao nosso alcance. É preciso, entretanto, ter garra, dar a vida, o sangue, durante todo o tempo da partida. Assim nos ensina Jesus: “quem quiser salvar sua vida – sua pele - perdê-la-á e quem perder sua vida por causa de mim, salvá-la-á” (Lc 9,24).

Não podemos repetir na vida os erros que os derrotados cometem nas disputas esportivas. Ninguém recebe a coroa - a taça - antecipadamente e ninguém vence sozinho. A vitória é obra coletiva, garantida por Deus para aqueles que lutam, com garra e inteligência, até o fim. Oxalá eu possa, quando soar o apito final, repetir com São Paulo: “combati o bom combate, terminei a minha carreira, guardei a fé. Desde já me está reservada a coroa da justiça, que me dará o Senhor, justo juiz, naquele Dia; e não somente a mim, mas a todos os que tiverem esperado com amor sua Aparição”( II Tm 4,7s.).

Dom Eduardo Benes de Sales Rodrigues
Artigo publicado no Jornal Diário de Sorocaba - 11.05.2014









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Ideologia de Gênero II


Em artigo do mês de abril apresentamos os conteúdos essenciais da reflexão de Dom Orani Tempesta, Cardeal-Arcebispo do Rio, sobre a “revolucionária” ideologia de gênero. O PNE – Plano Nacional para a Educação -, no art. segundo, III, propõe “a superação das desigualdades educacionais, com ênfase na promoção da igualdade racial, regional, de gênero e de orientação sexual”. Oxalá tal ideologia seja efinitivamente banida da educação em nosso País! Recordo em poucas linhas em que consiste a ideologia de gênero: “nesse modelo inovador de sociedade, não existiria mais homem e mulher distintos segundo a natureza, mas, ao contrário, só haveria um ser humano neutro ou indefinido que a sociedade – e não o próprio sujeito – faria ser homem ou mulher, segundo as funções que lhe oferecer”.



Eis o sonho da ideologia de gênero: “A destruição da família biológica que Freud jamais vislumbrou permitirá a emergência de mulheres e homens novos. (…) a própria ‘instituição das relações sexuais’, em que o homem e a mulher desempenham um papel bem definido, desaparecerá.”(Alison Jaggar, filósofa feminista).



O médico Dr. Christian Schnake, estudiodo da questão fala das consequências de tal ideologia: já é possível ver os resultados desastrosos desta ideia de desconstrução da família. “Nós vemos, hoje, os jovens confusos no que se refere à sua identidade sexual, ou seja, usando a sexualidade de qualquer maneira, de forma utilitarista, sem contar o próprio conceito de ‘pai e de mãe’ que fica cada vez mais distante de ser um referencial para esta juventude”.

Na conclusão do artigo anterior coloquei a observação de Dom Orani: “Ora, uma ideologia tão antinatural e artificial dessas não consegue se impor do dia para a noite, nem recebe tão fácil acolhida da população, mas, ao contrário, provoca resistências entre as pessoas sensatas em geral. Daí os arautos da ideologia de gênero usarem, de modo conjunto, importantes estratégias para dominarem o grande número de hesitantes.”

Estratégias:

1. O uso persistente dos meios de comunicação, jornais, revistas, radio, TV e redes sociais com o objetivo de implanter na mente do povo as novas e perniciosas ideias.

2. A utilização da rede estatal de ensino para veicular “os métodos impostos pelo Estado a ditarem as normas de vida social aos alunos e estes deveriam, em casa, ensinar seus pais ou responsáveis doutrinando-os a fim de que também aceitem as novas concepções totalitárias, incluindo como carro-chefe a revolucionária ideologia de gênero, mãe de todas os outros “libertinismos” sexuais”. Para isso é preciso banir o ensino religioso das escolas.

3. Falar de sexo e gênero, alternadamente, como se fossem meros sinônimos até que as pessoas, de maneira imperceptível, começassem a usá-las sem se questionar, ao menos em alguns ambientes específicos como as escolas, redações de jornais, rádios, igrejas etc.



4. Por fim substituir “o vocábulo sexo por gênero e se lhe acrescentariam os sentidos revolucionários de “sexo socialmente construído” em oposição ao sexo biologicamente dado pela natureza, falar-se-ia em “tipos de casamentos” e não mais no matrimônio monogâmico e estável com bases religiosas, etc.”



5. Com “a ‘autoconstrução livre da própria sexualidade’, opinião pública estaria dominada para acatar todo tipo de “vida sexual” contrária à natureza: poligamia, prostituição, orgias, pedofilia, pornografia, zoofilia (relação sexual com animais), necrofilia (encenação de ato sexual com defuntos) etc.”



6. A criação de uma nova linguagem com novas noções tais como: “sexismo”, sexualidade polimórfica, homofobia, “androcentrismo”, tipos de família, “parentalidade”, heterossexualidade obrigatória, etc.” Esta nova linguagem entraria sorrateiramente na cultura de modo que as pessoas passariam a adotar a ideologia cujas consequências seriam a destruição do matrimônio e da família, alicerce de uma sociedade saudável.



A estas estratégias dos apóstolos da ideologia de gênero deve-se acrescentar esta outra: é preciso desmoralizar a Igreja - o cristianismo -, uma vez que a fé cristã moldou a cultura ocidental e é a única força capaz de impedir a implantação dessa perversa concepção antropológica.

É preciso reagir, pela reflexão, pelo bom senso e pela participação, sobretudo das famílias, à tentativa de impor à nação as propostas da “revolucionária” ideologia.

Eis o apelo conclusivo de Dom Orani: “Fazemos votos para que todas as forças vivas da nação se unam em defesa da vida e da família e, consequentemente, da sociedade em geral a fim de que possamos, diante de Deus, deixar ao nosso povo em geral, especialmente às nossas crianças, adolescentes e jovens, a certeza de que não fomos omissos e lutamos, dentro da lei e da ordem, para que uma ideologia que pretende ser “revolucionária” como a de gênero não os prejudicasse. Nem hoje, nem amanhã.





Dom Eduardo Benes de Sales Rodrigues 

Artigo publicado no Jornal Cruzeiro do Sul - 11.05.2014




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Creio na Ressurreição



“Quem come minha carne e bebe meu sangue tem a vida eterna e eu o ressuscitarei no último dia”(Jo 6,54). Diferentemente do hinduísmo, o cristianismo rejeita a reencarnação e tem como fundamento de sua fé a ressurreição de Cristo. Além disso, crê que Jesus é o Filho, Deus com o Pai e com o Espírito Santo. O Mistério da Trindade Santa e o mistério da encarnação do Filho constituem os dois mistérios centrais da fé Cristã. Dizer que Deus é Amor é o mesmo que dizer que Deus é Uno e Trino. Em Deus temos o amante (Pai), o amado (Filho) e o amor (Espírito). Tudo o que o Pai é, Ele dá ao Filho ser. E dessa comunhão jorra infinito o amor pessoal que é o Espírito Santo. Imagine o(a) leitor(a) um Deus unipessoal. Que tristeza! Seria uma infinita solidão. Criaria o homem por necessidade, não por transbordamento. A Igreja tem a inabalável convicção de que Jesus é o Filho, enviado pelo Pai na força do Espírito. Este mistério nada tem a ver com reencarnação. Houve um instante em que você, leitor(a) começou a ser uma humanidade concreta. Só que você não preexistia, foi criado por Deus naquele instante. Jesus, não. Ele preexistia como pessoa divina, criador do mundo com o Pai e o Espírito, e houve um momento em que Ele, o Verbo – o Filho – começou a ser um de nós, no seio da bem-aventurada Virgem Maria. Não se trata de reencarnação. O Verbo eterno assume uma humanidade concreta, constituída de corpo e alma, e com sua morte e ressurreição abre o caminho para nossa salvação. Assim como Jesus ressuscitou, nós ressuscitaremos com Ele para a plenitude da Vida. Mas...é preciso caminhar com Ele.



Dom Eduardo Benes de Sales Rodrigues

Artigo publicado no Jornal Bom Dia - 04.05.2014





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Creio na Ressurreição


“Quem come minha carne e bebe meu sangue tem a vida eterna e eu o ressuscitarei no último dia”(Jo 6,54). Diferentemente do hinduísmo, o cristianismo rejeita a reencarnação e tem como fundamento de sua fé a ressurreição de Cristo. Além disso, crê que Jesus é o Filho, Deus com o Pai e com o Espírito Santo. O Mistério da Trindade Santa e o mistério da encarnação do Filho constituem os dois mistérios centrais da fé Cristã. Dizer que Deus é Amor é o mesmo que dizer que Deus é Uno e Trino. Em Deus temos o amante (Pai), o amado(Filho) e o amor(Espírito). Tudo o que o Pai é, Ele dá ao Filho ser. E dessa comunhão jorra infinito o amor pessoal que é o Espírito Santo. Imagine o(a) leitor(a) um Deus unipessoal. Que tristeza! Seria uma infinita solidão. Criaria o homem por necessidade, não por transbordamento. A Igreja tem a inabalável convicção de que Jesus é o Filho, enviado pelo Pai na força do Espírito. Este mistério nada tem a ver com reencarnação. Houve um instante em que você, leitor(a) começou a ser uma humanidade concreta. Só que você não preexistia, foi criado por Deus naquele instante. Jesus, não. Ele preexistia como pessoa divina, criador do mundo com o Pai e o Espírito, e houve um momento em que Ele, o Verbo – o Filho – começou a ser um de nós, no seio da bem-aventurada Virgem Maria. Ele veio e se fez em tudo semelhante a nós, exceto no pecado, para reerguer-nos de nossa miséria e enriquecer-nos com sua vida, a vida eterna. É no encontro com Ele e na força de sua graça que o ser humano pode purificar-se do pecado e chegar à plenitude da vida em Deus. Nesse sentido a teologia cristã teve que se bater contra uma heresia conhecida como Pelagianismo. Pelágio ensinava que Jesus apenas nos deu um bom exemplo, o melhor exemplo, ensinou-nos o caminho e que, firmados apenas em nossa liberdade, poderíamos chegar à perfeição espiritual. Aliás, a salvação não consiste, em primeiro lugar, em sermos perfeitos, mas em acolhermos o amor misericordioso do Pai. A melhor e mais bonita túnica, o anel no dedo, as sandálias para os pés machucados, o banquete da vida com músicas e danças, é consequência do amor que nos cobre de beijos. (cf. Lc 15,22-24). Pelágio, como tantos em nosso mundo, se esqueceu de que Ele afirmara: “Eu sou o caminho, a Verdade e a Vida”(Jo 14,6). A fé cristã afirma a absoluta necessidade da graça - luz e força divina atuando em nós – para que nossa liberdade possa aderir plenamente ao bem. A consciência de sermos pecadores e o grito pela misericórdia divina é que nos coloca no caminho da salvação. Também Platão admitia a reencarnação. O corpo não entraria na constituição da identidade da pessoa humana: seria apenas um cárcere da alma ou, quando muito, um instrumento quase exterior. Aristóteles pensava diferente: matéria e forma são constitutivos essenciais de todos os seres materiais. A alma humana é a forma que atua a matéria e faz de nós seres humanos. Por isso Santo Tomás, o grande filósofo cristão da Idade Média, toma do hilemorfismo aristotélico as bases de sua antropologia. Ser homem e ser mulher não são expressões passageiras e secundárias de ser humanidade. Ser mãe não é ser a quarta ou a quinta numa série de gestações onde volta de novo a mesma pessoa. Por isso o cristianismo católico mantém firme a convicção de que Maria, bem como todas as mulheres santas, continuam mulheres no mistério da eternidade e os homens da mesma forma. Uma única vez nascemos neste mundo, criados por Deus no ato mesmo no qual somos gerados. E morremos uma só vez: “O destino de todo o homem é morrer uma só vez e depois vem o julgamento”(Hb 9,27). A existência do purgatório é ainda expressão do amor misericordioso do Pai. O amor dará o acabamento ao processo de nosso voltar para o Pai. O egoísmo é fechamento. Provavelmente muitos de nós morreremos em estado de amizade com Deus, mas sem ter chegado a abertura total de nosso ser para Deus. Ao morrermos, em estado de graça, experimentaremos, como jamais experimentamos nesta existência, o amor de Deus. E haveremos de exclamar: “Deus me ama tanto e amei tão pouco no tempo da vida”. Esta é a dor da purificação que vem logo depois da morte. Mas seu amor nos puxará para dentro de seu mistério e seremos totalmente livres para amá-lo eternamente. Nosso rosto espelha nossa alma, nossa identidade nesse mundo. Teremos no céu um rosto novo, o mesmo rosto que tivemos na terra, mas transfigurado, iluminado como o de Cristo ressuscitado. Isto se manifestará no final quando Ele se vier para julgar a história humana enfim chegada a seu termo. É parte integrante de nossa fé o crer na ressurreição da carne e na vida eterna. Amém.

Dom Eduardo Benes de Sales Rodrigues

Artigo publicado no Jornal Diário de Sorocaba - 04.05.2014






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João XXIII e João Paulo II: santos do Concílio Vat. II

Hoje, domingo da Misericórdia, o Papa Francisco coloca na lista dos Santos a serem venerados pela Igreja os papas João XXIII e João Paulo II.
Na homilia da missa em que o Papa João Paulo II declarou Bem-Aventurado o Papa João XXIII, assim se referiu a ele:
“O Concílio foi deveras uma intuição profética deste idoso Pontífice que inaugurou, no meio de não poucas dificuldades, uma nova era de esperança para os cristãos e para a humanidade. Nos últimos momentos da sua existência terrena, ele confiou à Igreja o seu testamento:  "O que tem mais valor na vida é Jesus Cristo bendito, a sua Santa Igreja, o seu Evangelho, a verdade e a bondade". Também nós hoje queremos receber este testamento, enquanto damos graças a Deus por no-lo ter dado como Pastor.”
Na homilia em que declarou Bem-Aventurado o Papa João Paulo II, o papa Bento citou o trecho de seu testamento, que resume aquilo que João Paulo II quis fazer de seu pontificado:
“No seu Testamento, o novo Beato deixou escrito: «Quando, no dia 16 de Outubro de 1978, o conclave dos cardeais escolheu  João Paulo II, o Card. Stefan Wyszyński, Primaz da Polónia, disse-me: “A missão do novo Papa será a de introduzir a Igreja no Terceiro Milénio”». E acrescenta: «Desejo mais uma vez agradecer ao Espírito Santo pelo grande dom do Concílio Vaticano II, do qual me sinto devedor, juntamente com toda a Igreja e, sobretudo, o episcopado. Estou convencido de que será concedido ainda por muito tempo, às sucessivas gerações, haurir das riquezas que este Concílio do século XX nos prodigalizou.” Retomemos e coloquemos em prática o concílio Vat. II.

Dom Eduardo Benes de Sales Rodrigues
Artigo publicado no Jornal Bom Dia - 27.04.2014




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João XXIII e João Paulo II: SANTOS

Hoje, domingo da Misericórdia, o Papa Francisco coloca na lista dos Santos a serem venerados pela Igreja os papas João XXIII e João Paulo II.
Na homilia da missa em que o Papa João Paulo II declarou Bem-Aventurado o Papa João XXIII, assim se referiu a ele:
“O Concílio foi deveras uma intuição profética deste idoso Pontífice que inaugurou, no meio de não poucas dificuldades, uma nova era de esperança para os cristãos e para a humanidade. Nos últimos momentos da sua existência terrena, ele confiou à Igreja o seu testamento:  "O que tem mais valor na vida é Jesus Cristo bendito, a sua Santa Igreja, o seu Evangelho, a verdade e a bondade". Também nós hoje queremos receber este testamento, enquanto damos graças a Deus por no-lo ter dado como Pastor.”
Sobre João Paulo II, pensando sobre as muitas facetas de seu ministério, gostaria de ressaltar alguns aspectos que me parecem fundamentais:
  1. João Paulo II foi um papa místico e missionário. Lembra João, o evangelista, pelo insistente convite à contemplação do rosto de Cristo, o Redentor do Homem - Redemptor Hominis – sobre quem escreveu sua primeira encíclica. Encarnou o espírito missionário de Paulo pela paixão e ardor com que percorreu os caminhos do mundo anunciando Jesus Cristo. Foram longos e fecundos  anos de missão!
  2. João Paulo II foi o papa da solidariedade. Quanto mais mergulhado nas águas - profundas águas do mistério de Deus -, tanto mais solidário, mergulhado nas dores da humanidade ferida pelo pecado e vítima da miséria. O encontro com Cristo - tema permanente de suas reflexões - converte-nos para Deus e nos conduz para dentro de seu mistério de amor e nos converte para o irmão fazendo-nos samaritanos diante de seu sofrimento. Foi o papa da transcendência e, ao mesmo tempo, o papa da inserção na História. No seu pensamento e no seu pastoreio não teve lugar nenhum tipo de reducionismo. Pode-se reduzir a fé ao mero compromisso histórico, negando qualquer consistência à busca de contato gratuito com o mistério e pode-se também reduzir a fé á sua mera expressão religiosa, em falsa mística, esquecendo-se de que o Verbo se fez carne e se solidarizou com cada ser humano na concretude de sua existência. Em seus escritos se faz sempre presente o mistério de Cristo, rosto divino do Homem e rosto humano de Deus, para usar uma expressão sua.
  3.  João Paulo II foi o papa da comunhão. Em todos os seus escritos procurou mostrar a Igreja no seu mistério, mistério de comunhão, participação no mistério da SS. Trindade; jamais a acusou das falhas que os “sem fé”, até mesmo com prazer, lhe jogaram no rosto. Soube, sim, pedir perdão pelos pecados e erros que os filhos da Igreja cometeram no percurso da história, causando-lhe profundos sofrimentos. É dele a afirmação de que “fazer da Igreja a casa e a escola da comunhão” é o “grande desafio que nos espera no milênio que começa, se quisermos ser fieis ao desígnio de Deus e corresponder às expectativas mais profundas do mundo”(NMI 43).
  4. João Paulo II foi um papa mariano. Seu lema “Totus Tuus” - todo teu - tem sido de fato uma grande luz no seu pontificado. Quantas vezes vimos sua imagem na TV “Canção Nova”, de terço na mão, a contemplar os divinos mistérios com Maria, a mãe. E que belas páginas nos deixa sobre a pessoa de Maria e seu lugar na obra da redenção e na vida de cada fiel!
  5. João Paulo II foio papa da passagem de milênio. Ao fazer essa afirmação não estou me referindo à cronologia - sob esse aspecto é uma evidência - estou me referindo à sua ação, convocando a Igreja a se concentrar em Cristo, na Trindade Santa, na Eucaristia, nas verdades fundamentais da fé, para avançar para as águas profundas da história, da vida concreta dos seres humanos, como luz e fermento. Sua carta apostólica “Novo Millennio Ineunte”, juntamente com a carta sobre o Rosário e aquela sobre a Eucaristia, é uma síntese admirável de seu pensamento e verdadeiramente um grande farol projetado para a frente a indicar-nos os caminhos da Igreja nesse milênio que começa.
Na homilia em que declarou Bem-Aventurado o Papa João Paulo II, o papa Bento citou o trecho de seu testamento, que resume aquilo que João Paulo II quis fazer de seu pontificado:
“No seu Testamento, o novo Beato deixou escrito: «Quando, no dia 16 de Outubro de 1978, o conclave dos cardeais escolheu  João Paulo II, o Card. Stefan Wyszyński, Primaz da Polónia, disse-me: “A missão do novo Papa será a de introduzir a Igreja no Terceiro Milénio”». E acrescenta: «Desejo mais uma vez agradecer ao Espírito Santo pelo grande dom do Concílio Vaticano II, do qual me sinto devedor, juntamente com toda a Igreja e, sobretudo, o episcopado. Estou convencido de que será concedido ainda por muito tempo, às sucessivas gerações, haurir das riquezas que este Concílio do século XX nos prodigalizou.”


Dom Eduardo Benes de Sales Rodrigues
Artigos publicados nos Jornais: Cruzeiro do Sul e Diário de Sorocaba- 2704.2014


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Domingo de Ramos: viver a Semana Santa

Hoje tem início a Semana Santa quando teremos a graça de reviver na liturgia o caminho de Jesus, assim descrito por São Paulo: “Ele, existindo na condição divina, não se apegou á condição divina, mas
despojou-se a si mesmo, assumindo a condição de escravo, tornando-se igual aos homens. Vivendo como os outros homens, humilhou-se, fazendo-se obediente até à morte e morte de cruz. Por isso Deus o exaltou acima de tudo e lhe deu o Nome que está acima de todo nome, para que ao nome de Jesus, todo joelho se dobre no céu, na terra e abaixo da terra, e toda língua confesse: Jesus Cristo é o Senhor”, para a glória de Deus Pai” (Flp 2,6-11). Jesus entra em Jerusalém para consumar sua existência com o oferecimento de sua vida por todos nós.

Jesus “carregou nossos pecados em seu próprio corpo, sobre a cruz, a fim de que, mortos para os pecados, vivamos para a justiça. Por suas feridas fostes curados. Andáveis como ovelhas desgarradas, mas agora voltastes ao pastor que cuida de vós”( I Ped 2,22-25).

Só terá entrado no significado profundo da paixão e morte de Cristo aquele que puder repetir com São Paulo: “Minha vida na carne, eu a vivo na fé, crendo no Filho de Deus, que me amou e se entregou por mim”. Sim, é preciso experimentar a morte de Cristo como sua entrega “por mim” e se deixar tocar e comover por tão grande gesto de amor e começar a viver para Ele que por nós morreu. Se assim fizermos, ressuscitaremos com Ele para a plenitude da vida sem fim. Vivamos a Semana Santa na meditação, abertos para a graça do Senhor que vem ao nosso encontro para abrir-nos as portas da vida.

Dom Eduardo Benes de Sales Rodrigues
Artigo publicado no Jornal Bom Dia - 13.04.2014











Domingo de Ramos: viver a Semana Santa

Hoje tem início a Semana Santa quando teremos a graça de reviver na liturgia o caminho de Jesus, assim descrito por São Paulo: “Ele, existindo na condição divina, não se apegou á condição divina, mas
despojou-se a si mesmo, assumindo a condição de escravo, tornando-se igual aos homens. Vivendo como os outros homens, humilhou-se, fazendo-se obediente até à morte e morte de cruz. Por isso Deus o exaltou acima de tudo e lhe deu o Nome que está acima de todo nome, para que ao nome de Jesus, todo joelho se dobre no céu, na terra e abaixo da terra, e toda língua confesse: Jesus Cristo é o Senhor”, para a glória de Deus Pai” (Flp 2,6-11).

O Papa João Paulo II, em sua Carta Apostólica “No Início do Novo Milênio”, assim explicitou o sentido da paixão de Jesus: revelar-nos o rosto do Pai. Eis suas palavras: “Passa diante dos nossos olhos, em toda a sua intensidade, a cena da agonia no Horto das Oliveiras. Oprimido ao pressentir a prova que O espera, Jesus, sozinho com Deus, invoca-O com a sua habitual e terna expressão de confidência: « Abba, Pai ». Pede-Lhe para que, se for possível, afaste d'Ele o cálice do sofrimento (cf. Mc 14,36); mas, o Pai parece não querer atender a voz do Filho. Para transmitir ao homem o rosto do Pai, Jesus teve não apenas de assumir o rosto do homem, mas de tomar inclusivamente o « rosto » do pecado: « Aquele que não havia conhecido pecado, Deus O fez pecado por nós para que nos tornássemos n'Ele justiça de Deus » (2 Cor 5,21). ( NMI 25).

A entrada em Jerusalém, sob os aplausos daqueles que o acompanhavam e das crianças, montado em um jumentinho, de um lado revelava a esperança de um tempo novo no coração das pessoas e, de outro, a disposição de Jesus de entregar sua vida pela salvação da humanidade. Entrou em Jerusalém como um rei humilde, portador da paz. Só mais tarde, com a vinda do Espírito Santo, os discípulos compreenderam que Cristo deveria assim consumar sua existência histórica e que a verdadeira salvação viria através de suas dores, da entrega de sua vida: “Ele não cometeu pecado algum, mentira nenhuma foi encontrada em sua boca. Quando injuriado, não retribuía injúrias; atormentado, não ameaçava; antes, colocava sua causa nas mãos daquele que julga com justiça. Carregou nossos pecados em seu próprio corpo, sobre a cruz, a fim de que, mortos para os pecados, vivamos para a justiça. Por suas feridas fostes curados. Andáveis como ovelhas desgarradas, mas agora voltastes ao pastor que cuida de vós”( I Pe 2,22-25). Isaias havia profetizado a seu respeito: “Eram na verdade nossos sofrimentos que ele carregava, eram nossas dores que ele levava às costas... estava sendo transpassado por causa de nossas rebeldias, estava sendo esmagado por nossos pecados... com seus ferimentos veio a cura para nós... com sua experiência, meu servo, o justo, fará que a multidão se torne justa, pois é ele que carrega os pecados dela...ele estava carregando os pecados da multidão e intercedendo pelos criminosos”( Is 53). São Paulo assim expressou o que Isaias, alguns séculos antes, havia profetizado: “aquele que não conheceu pecado, Deus o fez pecado por nós, para que nos tornemos justiça de Deus”(II Cor 5,21).
Meditando sobre a Paixão e Morte de Jesus, somos convidados a experimentar sua profunda comunhão conosco, quando Ele, passando por dentro de nossas feridas, deixando se tomar por nosso pecado, veio colher-nos na verdade mais profunda de nosso ser, tal como saímos do pensamento e das mãos de Deus e, ressuscitando, resgatar-nos e introduzir-nos no amor infinito de seu Pai e nosso Pai. Refletindo sobre esse mistério de infinita solidariedade, São Paulo afirma: “Com efeito, quando éramos ainda fracos, foi então, no devido tempo, que Cristo morreu pelos iníquos. Dificilmente alguém morrerá por um justo; por uma pessoa muito boa, talvez alguém se anime a morrer. Pois bem, a prova de que Deus nos ama é que Cristo morreu por nós quando éramos pecadores” (Rom 5,6-8). A morte de Cristo não foi apenas um exemplo de doação a ser seguida, ela é causa de nossa salvação. Há aqueles que querem ver na morte de Cristo apenas seu significado político. É muito pouco, embora se possa lê-la também sob esse aspecto. Só terá entrado em seu significado profundo aquele que puder repetir com São Paulo: “Minha vida na carne, eu a vivo na fé, crendo no Filho de Deus, que me amou e se entregou por mim”. Sim, é preciso experimentar a morte de Cristo como sua entrega “por mim” e se deixar tocar e comover por tão grande gesto de amor e começar a viver para Ele que por nós morreu. Se assim fizermos, ressuscitaremos com Ele para a plenitude da vida sem fim. Vivamos a Semana Santa na meditação, abertos para a graça do Senhor que vem ao nosso encontro para abrir-nos as portas da vida! 


Dom Eduardo Benes de Sales Rodrigues
Artigo publicado nos Jornais
Diário de Sorocaba e Cruzeiro do Sul
13.04.2014









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Vacinação contra o HPV


Tenho recebido perguntas de fieis católicos sobre a vacinação contra o HPV. “HPV, é a sigla para vírus do papiloma humano. HPV é um vírus que infecta a pele e possui mais de 200 variações diferentes, e a maioria aparece através de verrugas, e geralmente em locais escondidos’. Uma das consequências de alguns desses vírus é o desenvolvimento posterior de câncer no colo do útero. Donde a utilidade da vacina. “A principal forma de transmissão do HPV é através de relações sexuais, e é a doença sexualmente transmissível mais frequente e conhecida, e geralmente as mulheres são as que mais possuem o problema”. Esta foi razão por que para ser entregue junto com a vacinação foi elaborada pelo Ministério da Saúde uma pequena cartilha que pretende orientar nossas crianças e pré-adolescentes sobre relações sexuais seguras, ou seja, que ajudem a evitar a transmissão de doenças sexuais. A pequena cartilha é tecnicamente bem feita. Explica, do ponto de vista biológico, o desenvolvimento da sexualidade e recomenda às crianças e adolescentes o uso de preservativo nas relações sexuais. Se estes falharem, indica a “pílula do dia seguinte”, que pode se tornar abortriva. Nenhuma palavra sobre o significado da sexualidade e sobre ética sexual. Tudo parece muito normal. Com isto não podemos concordar. Essa forma de tratar a sexualidade é amoral, senão imoral. A vacina é boa. A cartilha, entretanto, não educa para o amor, razão de ser de tudo, sobretudo da sexualidade humana. Existem ações pedagógicas mais eficazes que as recomendações da “cartilhinha”. Pesquise no GOOGLE: Quiénes Somos - Teen STAR.

Dom Eduardo Benes de Sales Rodrigues

Artigo publicado no Jornal Bom Dia - 06.04.2014


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Ideologia de Gênero (II)


No domingo passado apresentamos os conteúdos essenciais da reflexão de Dom Orani Tempesta, Cardeal-Arcebispo do Rio, sobre a “revolucionária” ideologia de gênero. Informo que foi adiada a votação no Congresso Nacional do PNE – Plano Nacional para a Educação -, que no art. segundo, III, propõe “a superação das desigualdades educacionais, com ênfase na promoção da igualdade racial, regional, de gênero e de orientação sexual”. Recordo em poucas linhas em que consiste a ideologia de gênero: “nesse modelo inovador de sociedade, não existiria mais homem e mulher distintos segundo a natureza, mas, ao contrário, só haveria um ser humano neutro ou indefinido que a sociedade – e não o próprio sujeito – faria ser homem ou mulher, segundo as funções que lhe oferecer”.

Eis o sonho da ideologia de gênero: “A destruição da família biológica que Freud jamais vislumbrou permitirá a emergência de mulheres e homens novos. (…) a própria ‘instituição das relações sexuais’, em que o homem e a mulher desempenham um papel bem definido, desaparecerá.”(Alison Jaggar, filósofa feminista).

O médico Dr. Christian Schnake, estudioso da questão fala das consequências de tal ideologia: já é possível ver os resultados desastrosos desta ideia de desconstrução da família. “Nós vemos, hoje, os jovens confusos no que se refere à sua identidade sexual, ou seja, usando a sexualidade de qualquer maneira, de forma utilitarista, sem contar o próprio conceito de ‘pai e de mãe’ que fica cada vez mais distante de ser um referencial para esta juventude”.
Na conclusão do artigo de domingo passado, coloquei a observação de Dom Orani: “Ora, uma ideologia tão antinatural e artificial dessas não consegue se impor do dia para a noite, nem recebe tão fácil acolhida da população, mas, ao contrário, provoca resistências entre as pessoas sensatas em geral. Daí os arautos da ideologia de gênero usarem, de modo conjunto, importantes estratégias para dominarem o grande número de hesitantes.”
Estratégias:
1. O uso persistente dos meios de comunicação, jornais, revistas, radio, TV e redes sociais com o objetivo de implantar na mente do povo as novas e perniciosas ideias.
2. A utilização da rede estatal de ensin -, como já aparece no PNE a ser votad -, para veicular “os métodos impostos pelo Estado a ditarem as normas de vida social aos alunos e estes deveriam, em casa, ensinar seus pais ou responsáveis doutrinando-os a fim de que também aceitem as novas concepções totalitárias, incluindo como carro-chefe a revolucionária ideologia de gênero, mãe de todas os outros “libertinismos” sexuais”. Para isso é preciso banir o ensino religioso das escolas.
3. Falar de sexo e gênero, alternadamente, como se fossem meros sinônimos até que as pessoas, de maneira imperceptível, começassem a usá-las sem se questionarem, ao menos em alguns ambientes específicos como as escolas, redações de jornais, rádios, igrejas etc.

4. Por fim substituir “o vocábulo sexo por gênero e se lhe acrescentariam os sentidos revolucionários de “sexo socialmente construído” em oposição ao sexo biologicamente dado pela natureza, falar-se-ia em “tipos de casamentos” e não mais no matrimônio monogâmico e estável com bases religiosas, etc.”

5. Com “a ‘autoconstrução livre da própria sexualidade’, opinião pública estaria dominada para acatar todo tipo de “vida sexual” contrária à natureza: poligamia, prostituição, orgias, pedofilia, pornografia, zoofilia (relação sexual com animais), necrofilia (encenação de ato sexual com defuntos) etc.”

6. A criação de uma nova linguagem com novas noções tais como: “sexismo”, sexualidade polimórfica, homofobia, “androcentrismo”, tipos de família, “parentalidade”, heterossexualidade obrigatória, etc.” Esta nova linguagem entraria sorrateiramente na cultura de modo que as pessoas passariam a adotar a ideologia cujas consequências seriam a destruição do matrimônio e da família, alicerce de uma sociedade saudável.

A estas estratégias dos apóstolos da ideologia de gênero deve-se acrescentar esta outra: é preciso desmoralizar a Igreja - o cristianismo -, uma vez que a fé cristã moldou a cultura ocidental e é a única força capaz de impedir a implantação dessa perversa concepção antropológica.
É preciso reagir, pela reflexão, pelo bom senso e pela participação, sobretudo das famílias, à tentativa de impor à nação as propostas da “revolucionária” ideologia.
Eis o apelo conclusivo de Dom Orani: “Fazemos votos para que todas as forças vivas da nação se unam em defesa da vida e da família e, consequentemente, da sociedade em geral a fim de que possamos, diante de Deus, deixar ao nosso povo em geral, especialmente às nossas crianças, adolescentes e jovens, a certeza de que não fomos omissos e lutamos, dentro da lei e da ordem, para que uma ideologia que pretende ser “revolucionária” como a de gênero não os prejudicasse. Nem hoje, nem amanhã.

Dom Eduardo Benes de Sales Rodrigues
Artigo publicado no Jornal Diário - 06.04.2014



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Educação em nossas escolas

Foi adiada a votação no Congresso Nacional do PNE – Plano Nacional para a Educação -, que no art. segundo, III, propõe “a superação das desigualdades educacionais, com ênfase na promoção da igualdade racial, regional, de gênero e de orientação sexual”.
“É importante saber que a palavra gênero substitui, nesta ideologia, – por uma ardilosa e bem planejada manipulação da linguagem – o termo sexo. Tal substituição não se dá, porém, como um sinônimo, mas, sim, como um vocábulo novo capaz de implantar na mente e nos costumes das pessoas conceitos e práticas inimagináveis.
Nesse modelo inovador de sociedade, não existiria mais homem e mulher distintos segundo a natureza, mas, ao contrário, só haveria um ser humano neutro ou indefinido que a sociedade – e não o próprio sujeito – faria ser homem ou mulher, segundo as funções que lhe oferecer.
Eis o sonho da ideologia de gênero:  “A destruição da família biológica que Freud jamais vislumbrou permitirá a emergência de mulheres e homens novos. (…) a própria ‘instituição das relações sexuais’, em que o homem e a mulher desempenham um papel bem definido, desaparecerá.”(Alison Jaggar, filósofa feminista).
Para o médico Dr. Christian Schnake, já é possível ver os resultados desastrosos desta ideia de desconstrução da família. “Nós vemos, hoje, os jovens confusos no que se refere à sua identidade sexual, ou seja, usando a sexualidade de qualquer maneira, de forma utilitarista, sem contar o próprio conceito de ‘pai e de mãe’ que fica cada vez mais distante de ser um referencial para esta juventude. Vocês, pais e mães, querem  isso para seus filhos? É preciso reagir.

Dom Eduardo Benes de Sales Rodrigues
Artigo publicado no Jornal Bom Dia - Sorocaba- 30.03.2014

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Ideologia de gênero

A propósito do item III do art. segundo do PNE - Plano Nacional para a Educação – que introduz como objetivo da Educação no Brasil a “promoção da igualdade de gênero e de orientação sexual”, passo ao leitor conteúdos parciais da esclarecedora reflexão de Dom Orani Tempesta, Cardeal Arcebispo do Rio, sobre a “revolucionária” ideologia de gênero.
 “É ponto de partida desse sistema ideológico o seguinte postulado: nós nascemos com um sexo biológico definido (homem ou mulher), mas, além dele, existiria o sexo psicológico ou o gênero que poderia ser construído livremente pela sociedade na qual o indivíduo está inserido. Desse modo, em última análise, não existiria uma mulher ou um homem naturais. Ao contrário, o ser humano nasceria sexualmente neutro, do ponto de vista psíquico, e seria constituído socialmente homem ou mulher.”
“Uma Nota da Conferência Episcopal do Peru, emitida em abril de 1998, com o título La ideologia de género: sus peligros y alcances aponta a raiz marxista e ateia desse sistema ideológico e assegura que segundo a ideologia de gênero, não é a natureza, mas a sociedade quem vai impondo ao homem ou à mulher certos comportamentos típicos. Desse modo, se a menina prefere brincar de casinha ou aconchegar a boneca isso não se deveria ao seu instinto natural à maternidade, mas tão-somente a uma convenção social dominadora. Se as mulheres se casam com homens e não com outras mulheres, isso nada teria de natural, mas dever-se-ia apenas a uma “tradição social” das classes dominantes.
Mais: se o homem brinca de bola e sente necessidade de trabalhar fora de casa a fim de melhor sustentar a família ao passo que as mulheres preferem, via de regra, passar mais tempo em casa junto aos filhos (cf. Sueli C. Uliano. Por um novo feminismo. São Paulo: Quadrante, 1995, p. 51-53), não estariam, de modo algum, atendendo a seus anseios inatos, mas apenas se acomodando ao desejo elitista de uma tradição opressora que deve ser rompida a qualquer momento.”
A mulher “Uma vez liberta, poderia optar por reconstruir-se do modo que bem entender. Faria a sua escolha sexual com todas as consequências dela derivadas, ou seja, poderia também optar por levar adiante uma gravidez ou praticar o aborto que, na doutrina de gênero, não seria crime algum, mas, ao contrário um direito que caberia à mãe. Embora, para não chocar a sociedade com o homicídio, prefira-se um termo manipulado por meio de engenharia verbal como é, por exemplo, “interrupção voluntária da gravidez”.
“Isso posto, já devemos – com a Carta aos Bispos da Igreja Católica sobre a colaboração do Homem e da Mulher na Igreja e na Sociedade, da Congregação para a Doutrina da Fé, de 31 de maio de 2004 – aproveitar fazer, rapidamente, a refutação de duas correntes contemporâneas que propalam pensamentos absurdos a respeito da mulher: a subordinacionista, que a vê qual escrava, submissa ao homem em nível familiar e social, e a de gênero, desejosa de apagar as diferenças naturais entre homem e mulher. Afinal, a Escritura apresenta a mulher como ezer (auxiliar ou companheira) do homem por analogia com Deus que é ezer do homem (cf. Gn 2,4-25; Êx 18,4; Sl 10,35). Há entre mulher e homem complementaridade, apesar das diferenças fisiológicas e psicológicas (não meramente culturais). Iguais quanto à sua dignidade – um não é mais que o outro – não se identificam em suas características peculiares, pois Deus criou homem e mulher, não um andrógino polimorfo ou capaz de ter várias formas.”
“Outro ponto a ser refutado é o que defende a liberdade de construção sexual. Com efeito, assim como toda ideologia, a de gênero – considerada pelo estudioso argentino Jorge Scala, em sua obra Ideologia de gênero: neototalitarismo e morte da família (São Paulo: Katechesis, 2011), a mais radical já conhecida na história, pois se aplicada destruiria o ser humano em sua integralidade e, por conseguinte, a sociedade, cuja célula-mãe é a família – é também mentirosa. Ela oferece às pessoas a ilusão de que serão plenamente livres em matéria sexual, contudo, uma vez que essas pessoas tenham tomado a mentira por verdade, são aqueles que detêm o poder real que escolherão, a seu beneplácito, o modo como o povo deverá – padronizadamente – exercer a sua sexualidade sob o olhar forte do Estado que tutelaria para que cada um fizesse o que bem entendesse. Dentro da cartilha estatal, é óbvio. Só não se toleraria, por enquanto, as relações sexuais não consentidas, todas as demais seriam válidas e deveriam ser toleradas pelo Governo e pela sociedade em geral como lícitas.”
“Ora, uma ideologia tão antinatural e artificial dessas não consegue se impor do dia para a noite, nem recebe tão fácil acolhida da população, mas, ao contrário, provoca resistências entre as pessoas sensatas em geral. Daí os arautos da ideologia de gênero usarem, de modo conjunto, importantes estratégias para dominarem o grande número de hesitantes”.(continua)
Dom Eduardo Benes de Sales Rodrigues
Artigo Publicado nos Jornais:  Cruzeiro do Sul e Diário de Sorocaba - 30.03.2014



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O Apelo Quaresmal de Francisco

Na Exortação Apostólica “Evangelii Gaudium” o Papa Francisco insiste que a transformação missionária da Igreja se faz a partir do coração do Evangelho: o “núcleo fundamental, no qual sobressai a beleza do amor salvífico de Deus manifestado em Jesus Cristo morto e ressuscitado”(n. 36). Mais adiante ele desenvolve o significado desse núcleo: “O querigma é trinitário. É o fogo do Espírito que se dá sob a forma de línguas e nos faz crer em Jesus Cristo, que, com a sua morte e ressurreição, nos revela e comunica a misericórdia infinita do Pai.” E explica : este “é o anúncio principal, aquele que sempre se tem de voltar a ouvir de diferentes maneiras e aquele que sempre se tem de voltar a anunciar, duma forma ou doutra, durante a catequese, em todas as suas etapas e momentos. Por isso, também «o sacerdote, como a Igreja, deve crescer na consciência da sua permanente necessidade de ser evangelizado». (EG 164).

Pois bem, estamos entrando na quaresma. É tempo de retomar o querigma preparando-nos para celebrar o mistério central de nossa fé: a paixão, morte e ressurreição de Jesus. Viver bem a quaresma é renovar nossa conversão, intensificar nossa comunhão com o Pai pelo Filho no Espírito Santo.

O Papa Francisco nos deu uma mensagem para ajudar-nos a viver a quaresma. O texto escriturístico que o inspirou é de Paulo, muitas vezes citado por Bento XVI: “Como motivo inspirador tomei a seguinte frase de São Paulo: «Conheceis bem a bondade de Nosso Senhor Jesus Cristo, que, sendo rico, Se fez pobre por vós, para vos enriquecer com a sua pobreza» (2 Cor 8, 9).” Assim se revela Deus, para usar uma invenção linguística de Francisco, “primeireando”e envolvendo-se conosco, assumindo nossa condição, contraindo nosso cheiro, ou seja, fazendo-se um de nós, inclusive tomando para si nossas misérias, pecados e enfermidades. “A caridade, o amor é partilhar, em tudo, a sorte do amado. O amor torna semelhante, cria igualdade, abate os muros e as distâncias. Foi o que Deus fez conosco.” A finalidade da encarnação do Filho Amado é a nossa salvação: “para enriquecer-nos com sua pobreza”. Ao se fazer pobre o Filho veio trazer-nos a riqueza da filiação divina, fazer-nos participantes da natureza divina: “Quando Jesus nos convida a tomar sobre nós o seu «jugo suave» (cf. Mt 11, 30), convida-nos a enriquecer-nos com esta sua «rica pobreza» e «pobre riqueza», a partilhar com Ele o seu Espírito filial e fraterno, a tornar-nos filhos no Filho, irmãos no Irmão Primogénito (cf.Rm 8, 29).” Quaresma é tempo de nos envolver com o mistério do Filho e de nos deixar tomar mais profundamente pela graça de nosso batismo. Este é o primeiro sentido da conversão quaresmal.

Como consequência somos impelidos pelo Espírito a fazer o mesmo caminho de Jesus: “À imitação do nosso Mestre, nós, cristãos, somos chamados a ver as misérias dos irmãos, a tocá-las, a ocupar-nos delas e a trabalhar concretamente para as aliviar.” Por isso tem muito sentido que em cada quaresma a Igreja do Brasil coloque para nossa reflexão um tema no qual de forma gritante a miséria humana aparece. Neste ano: “Fraternidade e Tráfico humano”. O ser humano reduzido à condição de objeto, explorado e vendido, como se mercadoria fosse. Dupla miséria se revela no tráfico de pessoas: a condição de miséria a que é reduzida a pessoa-objeto e a miséria espiritual de seus autores, corações de pedra. O Papa Francisco fala de três formas de miséria: a) a miséria material que atinge os “privados dos direitos fundamentais e dos bens de primeira necessidade como o alimento, a água, as condições higiénicas, o trabalho, a possibilidade de progresso e de crescimento cultural.; b) a miséria moral, que consiste em tornar-se escravo do vício e do pecado. Quantas famílias vivem na angústia, porque algum dos seus membros – frequentemente jovem – se deixou subjugar pelo álcool, pela droga, pelo jogo, pela pornografia! Quantas pessoas perderam o sentido da vida; sem perspectivas de futuro, perderam a esperança! c) “a miséria espiritual, que nos atinge quando nos afastamos de Deus e recusamos o seu amor. Se julgamos não ter necessidade de Deus, que em Cristo nos dá a mão, porque nos consideramos auto-suficientes, vamos a caminho da fracasso. O único que verdadeiramente salva e liberta é Deus.” Por fim, o Papa Francisco nos convida: “Trata-se de seguir e imitar Jesus, que foi ao encontro dos pobres e dos pecadores como o pastor à procura da ovelha perdida, e fê-lo cheio de amor”. Esta é a Saída Missionária que transformará nossa Igreja.

Que nossa oração seja nessa direção:

“Pedimos a graça do Espírito Santo que nos permita ser «tidos por pobres, nós que enriquecemos a muitos; por nada tendo e, no entanto, tudo possuindo» (2 Cor 6, 10). Que Ele sustente estes nossos propósitos e reforce em nós a atenção e solicitude pela miséria humana, para nos tornarmos misericordiosos e agentes de misericórdia.”

Dom Eduardo Benes de Sales Rodrigues

Artigo publicado no Jornal Diário de Sorocaba- 02.03.2014



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Amor de verdade



Em uma sociedade utilitarista e dominada pelo mercado, como é a nossa, as coisas só parecem ter sentido se responderem satisfatoriamente a perguntas tais como: “o que ganho com isto?” Ou “para que serve isto?” A gratuidade 
não é mais compreendida.
Só é legítima a existência do útil, do que se pode tirar vantagem. As coisas e os gestos gratuitos causam espanto, fazem parte do extraordinário.
E o que pensar da generosidade do perdão? Nossa reação espontânea, quando ofendidos, é pagar com a mesma moeda. E quando se vive em clima de disputa de espaço e de poder o que mais se deseja é o fracasso do outro. Quando menino, lembro-me de uma expressão que traduz bem essa atitude: “bem feito”. Sim, “bem feito” que fulano tenha fracassado, tenha-se dado mal. Vez por outra vejo alguma cena de novelas e fico admirado diante das disputas por espaço, pelos desejos de vingança e outras tantas coisas do gênero. E tudo gira em torno do dinheiro, do poder e do “amor”. “Amor”, entenda-se, paixão.

Neste domingo na liturgia católica ouvimos Jesus dizer: ”Tendes ouvido o que foi dito: ‘olho por olho dente por dente’. Eu, porém, vos digo: não resistais ao mau. Se alguém te ferir a face direita, oferece-lhe também a outra”’ E mais adiante: “amarás o teu próximo e odiarás teu inimigo. Eu, porém, vos digo: amai vossos inimigos e orai pelos que vos perseguem...” E termina assim:

“Portanto, deveis ser perfeitos como vosso Pai celeste é perfeito”(cf. Mt 5, 38-48).

Prezado(a) leitor(a), comece a orar, mesmo que sinta forte resistência, pela pessoa com quem você tem mais dificuldade ou que lhe causou algum mal. Você será mais feliz.

Dom Eduardo Benes de Sales Rodrigues 

Artigo publicado no Jornal Bom Dia - 23.02.2014


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Uma mãe de coração aberto

O Papa fecha o capítulo I de sua Exortação pedindo-nos, a nós Igreja, um coração aberto. Não querendo empobrecer seu apelo, simplesmente transcrevo o que ele escreveu, incorporando ao texto a nota [51].

Uma Igreja de portas abertas


A Igreja «em saída» é uma Igreja com as portas abertas. Sair em direção aos outros para chegar às periferias humanas não significa correr pelo mundo sem direção nem sentido. Muitas vezes é melhor diminuir o ritmo, pôr de parte a ansiedade para olhar nos olhos e escutar, ou renunciar às urgências para acompanhar quem ficou caído à beira do caminho. Às vezes, é como o pai do filho pródigo, que continua com as portas abertas para, quando este voltar, poder entrar sem dificuldade.(n. 46)

A Igreja é chamada a ser sempre a casa aberta do Pai. Um dos sinais concretos desta abertura é ter, por todo o lado, igrejas com as portas abertas. Assim, se alguém quiser seguir uma moção do Espírito e se aproximar à procura de Deus, não esbarrará com a frieza duma porta fechada. Mas há outras portas que também não se devem fechar: todos podem participar de alguma forma na vida eclesial, todos podem fazer parte da comunidade, e nem sequer as portas dos sacramentos se deveriam fechar por uma razão qualquer. Isto vale sobretudo quando se trata daquele sacramento que é a «porta»: o Batismo. A Eucaristia, embora constitua a plenitude da vida sacramental, não é um prêmio para os perfeitos, mas um remédio generoso e um alimento para os fracos.[51]
Aqui o Papa nos remete aos padres da Igreja, mais precisamente a Santo Ambrósio e São Cirilo de Alexandria, conforme consta na nota:
«Devo recebê-lo sempre, para que sempre perdoe os meus pecados. Se peco continuamente, devo ter sempre um remédio» (Santo Ambrósio, De Sacramentis, IV, 6, 28: PL 16, 464). «Aquele que comeu o maná, morreu; aquele que come deste corpo, obterá o perdão dos seus pecados» (Ibid., IV, 5, 24: o. c., 463). «Examinei a mim mesmo e reconheci-me indigno. Àqueles que assim falam, eu digo: E quando sereis dignos? Então quando vos apresentareis diante de Cristo? E, se os vossos pecados impedem de vos aproximar e se nunca parais de cair – quem conhece os seus delitos?: diz o salmo – ficareis sem tomar parte na santificação que vivifica para a eternidade?» (São Cirilo de Alexandria, In Johannis evangelium, IV, 2: PG 73, 584-585).
Estas convicções têm também consequências pastorais, que somos chamados a considerar com prudência e audácia. Muitas vezes agimos como controladores da graça e não como facilitadores. Mas a Igreja não é uma alfândega; é a casa paterna, onde há lugar para todos com a sua vida fadigosa.(n.47)

Uma Igreja que chega a todos sem exceção

Se a Igreja inteira assume este dinamismo missionário, há-de chegar a todos, sem exceção. Mas, a quem deveria privilegiar? Quando se lê o Evangelho, encontramos uma orientação muito clara: não tanto aos amigos e vizinhos ricos, mas sobretudo aos pobres e aos doentes, àqueles que muitas vezes são desprezados e esquecidos, «àqueles que não têm com que te retribuir» (Lc 14, 14). Não devem subsistir dúvidas nem explicações que debilitem esta mensagem claríssima. Hoje e sempre, «os pobres são os destinatários privilegiados do Evangelho», (Bento XVI aos bispos do Brasil na Catedral de São Paulo quando de sua vinda ao Brasil para a Conferência de Aparecida) e a evangelização dirigida gratuitamente a eles é sinal do Reino que Jesus veio trazer. Há que afirmar sem rodeios que existe um vínculo indissolúvel entre a nossa fé e os pobres. Não os deixemos jamais sozinhos!(n.48)

Veemente apelo à “Saída”

Saiamos, saiamos para oferecer a todos a vida de Jesus Cristo! Repito aqui, para toda a Igreja, aquilo que muitas vezes disse aos sacerdotes e aos leigos de Buenos Aires: prefiro uma Igreja acidentada, ferida e enlameada por ter saído pelas estradas, a uma Igreja enferma pelo fechamento e a comodidade de se agarrar às próprias seguranças. Não quero uma Igreja preocupada com ser o centro, e que acaba presa num emaranhado de obsessões e procedimentos. Se alguma coisa nos deve santamente inquietar e preocupar a nossa consciência é que haja tantos irmãos nossos que vivem sem a força, a luz e a consolação da amizade com Jesus Cristo, sem uma comunidade de fé que os acolha, sem um horizonte de sentido e de vida. Mais do que o temor de falhar, espero que nos mova o medo de nos encerrarmos nas estruturas que nos dão uma falsa proteção, nas normas que nos transformam em juízes implacáveis, nos hábitos em que nos sentimos tranquilos, enquanto lá fora há uma multidão faminta e Jesus repete-nos sem cessar: «Dai-lhes vós mesmos de comer» (Mc 6, 37).(n.48)


Dom Eduardo Benes de Sales Rodrigues 
Artigo publicado no Jornal Diário de Sorocaba - 23.02.2014



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Maria ao pé da Cruz

A piedade cristã, iluminada pela fé, coloca, no quadro da Via Sacra, Maria encontrando-se com Jesus no caminho do Calvário. Os evangelhos sinóticos não falam de Maria acompanhando Jesus. Referem-se a “muitas mulheres “o
lhando de longe” a sucessão dos fatos que culminaram na morte de Jesus e citam nominalmente Maria Madalena, Maria, mãe de Tiago e de José, e a mãe dos filhos de Zebedeu. ( Mt 27,55-56; Mac 15,40-41; Lc 23,49). Curioso que nenhum coloca Maria entre as mulheres que acompanhavam de longe. João narra que “perto da cruz de Jesus, permaneciam de pé sua mãe, a irmã de sua mãe, Maria, mulher de Clopas e Maria Madalena (Jo 19,25). Maria, a mãe de Jesus, estava, pois, perto. Acompanhou Jesus nos seus últimos e decisivos passos. Há um momento de aproximação da Mãe que vai ao encontro de Jesus. Estabelece-se então uma profunda comunicação entre Jesus abraçado à Cruz e Maria que se aproxima. Este encontro expressa uma profunda comunhão. A partir daquele momento, muito mais que Cirineu, Maria carrega com Cristo nossa Cruz. Não temos notícias sobre onde estava Maria quando da prisão de Jesus. Certamente estava em Jerusalém, pois era a festa da páscoa. Terá ela acompanhado o julgamento de Jesus ainda que à distância? Penso que sim: discreta e dolorosamente. Como viveu Maria essa experiência? A resposta só pode ser esta: viveu-a na entrega da Fé. A Fé é a virtude teologal que nos coloca diretamente em comunhão com a verdade e a vontade de Deus. É uma vinculação profunda pela qual passamos a viver e a orientar nossa vida pela palavra de Deus que, pela ação do Espírito Santo, vai indicando os passos que devemos dar na concretude da história. A fé ganha vida em nossa vida pela virtude da Caridade que nos faz centrar com alegria nossa vida em Deus, abrindo mão de nossos projetos pessoais para fazer do projeto de Deus nossa razão de viver. Aqui importa observar que o projeto de Deus nos surpreende sempre de novo no curso da história. Maria, quando da anunciação, deu seu sim total à proposta de Deus de ser a mãe do Messias: “Eis aqui a escrava do Senhor, faça-se em mim segundo a tua palavra”. Esta entrega estava inundada de alegria pela presença do Espírito Santo, como aparece no encontro de Maria com Isabel: “Minha alma engrandece o Senhor e meu espírito exulta em Deus meu Salvador”(Lc 1,46). Mas no caminho haverá densas trevas: “quanto a ti, uma espada transpassará tua alma”, profetizou Simeão(Lc 2,35). Maria deverá, iluminada pelo Espírito Santo, acolher, mesmo sem compreender, com a mesma generosidade do dia da anunciação, a vontade de Deus que se revelará nas palavras, nas decisões e no caminho de Jesus. São Lucas conta que Maria e José “não compreenderam a palavra que Ele lhes dissera”, quando, tomados de aflição, o encontraram no templo: “não sabíeis que devo estar na casa de meu Pai?” São Lucas observa logo adiante: “Sua mãe, porém, conservava a lembrança de todos esses fatos em seu coração.” (Cf. Lc 2, 4652). Mas é no evangelho de São João que vamos encontrar, no início da vida pública, o anúncio feito pelo próprio Cristo do pleno significado da maternidade de Maria que haveria de se consumar na Cruz. Foi nas bodas de Caná quando Jesus, diante da observação-súplica de Maria: “Eles não têm vinho”, responde: “o que a mim e a ti, mulher? Minha hora ainda não chegou”( Cf. Jo 2,1-11). O milagre das bodas de Caná anuncia o grande milagre das bodas do Filho de Deus com a humanidade, que ocorrerá quando Jesus entregar sua vida ao Pai em favor da humanidade. A Hora de Jesus é a Cruz, a hora de sua glorificação e de sua consagração sacrifical. A palavra de Jesus de forma interrogativa: “o que a mim e a ti, mulher?” é uma afirmação de que Maria está, por disposição divina, associada indissoluvelmente a Ele na obra da redenção. É como se Ele dissesse: “a mim o Pai deu a missão de salvar a humanidade e tu deves estar comigo quando chegar a minha hora”. E Maria estará de pé, ao pé da Cruz, vivendo na Fé o momento supremo da existência de Jesus. É quando sua maternidade se estende a todos os redimidos: “Mulher, eis aí teu filho” e “eis aí tua mãe”(Jo 19,25-27). Aqui se revela o significado maior do milagre das bodas de Caná. A quarta estação da Via Sacra explicita para nós que Maria, a Mãe de Jesus, faz com Jesus o caminho doloroso de nossa salvação carregando com Ele a cruz de nossos pecados e de nossas enfermidades, repetindo no coração: “eis aqui a escrava do Senhor, faça-se em mim segundo a tua palavra.” Eis a grande lição para nós: Viver da fé não é compreender tudo desde o início, mas é cultivar a certeza de que os acontecimentos que tecem nossa história, também os dolorosos, e a história do mundo são conduzidos pela bondade de Deus. O termo do caminho de nossa vida é a Vida plena em Deus. Jesus Ressuscitou!

Dom Eduardo Benes de Sales Rodrigues 
Artigo publicado no Jornal Cruzeiro do Sul



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Conversão pastoral

Lamentavelmente é verdade o que o Papa Francisco anota logo no início de sua reflexão sobre “Conversão Pastoral”, ítem II do capítulo primeiro de sua Exortação Apostólica “Evangelii Gaudium”, intitulado “Transformação M
issionária da Igreja: “Não ignoro que hoje os documentos não suscitam o mesmo interesse que noutras épocas, acabando rapidamente esquecidos”. A “mesmice” é mais cômoda. Nada mais tranquilo que a rotina cotidiana onde funcionamos como peças de uma engrenagem que se acostumou à repetição do mesmo processo. “Apesar disso, afirma o papa Francisco, sublinho que, aquilo que pretendo deixar expresso aqui, possui um significado programático e tem consequências importantes Espero que todas as comunidades se esforcem por atuar os meios necessários para avançar no caminho duma conversão pastoral e missionária, que não pode deixar as coisas como estão. Neste momento, não nos serve uma «simples administração». Constituamo-nos em «estado permanente de missão», em todas as regiões da terra.”(n. 25) E cita o Vat. II (Decr. sobre o ecumenismo Unitatis redintegratio, 6): “A Igreja peregrina é chamada por Cristo a esta reforma perene. Como instituição humana e terrena, a Igreja necessita perpetuamente desta reforma”.(n. 26) As estruturas condicionam o comportamento. Estruturas novas podem provocar um novo dinamismo. O documento de Aparecida, por ex., propôs a setorização das paróquias com o objetivo de formar pequenas comunidades dentro do território paroquial. São muitas as propostas que vêm sendo elaboradas, algumas já postas em prática com reais frutos. Mas, estamos apenas inicando, dando os primeiros passos. O obstáculo maior para a “conversão pastoral” chama-se acomodação que só pode ser removida mediante uma sincera conversão pessoal. Por isso Aparecida afirmou com veemência que o querigma é o alicerce e o fio condutor de toda a renovação da Igreja. E o Papa Francisco faz a seguinte advertência: “Sem vida nova e espírito evangélico autêntico, sem «fidelidade da Igreja à própria vocação», toda e qualquer nova estrutura se corrompe em pouco tempo.”(n. 26). Cito a seguir quatro trechos que nos convidam a orar e a pensar para buscar novos caminhos de evangelização:
Um sonho
“Sonho com uma opção missionária capaz de transformar tudo, para que os costumes, os estilos, os horários, a linguagem e toda a estrutura eclesial se tornem um canal proporcionado mais à evangelização do mundo atual que à auto-preservação. A reforma das estruturas, que a conversão pastoral exige, só se pode entender neste sentido: fazer com que todas elas se tornem mais missionárias, que a pastoral ordinária em todas as suas instâncias seja mais comunicativa e aberta, que coloque os agentes pastorais em atitude constante de «saída» e, assim, favoreça a resposta positiva de todos aqueles a quem Jesus oferece a sua amizade. Como dizia João Paulo II aos Bispos da Oceânia, «toda a renovação na Igreja há-de ter como alvo a missão, para não cair vítima duma espécie de introversão eclesial».”( n. 27)
A Paróquia
“A paróquia é presença eclesial no território, âmbito para a escuta da Palavra, o crescimento da vida cristã, o diálogo, o anúncio, a caridade generosa, a adoração e a celebração. Através de todas as suas actividades, a paróquia incentiva e forma os seus membros para serem agentes da evangelização. É comunidade de comunidades, santuário onde os sedentos vão beber para continuarem a caminhar, e centro de constante envio missionário. Temos, porém, de reconhecer que o apelo à revisão e renovação das paróquias ainda não deu suficientemente fruto, tornando-as ainda mais próximas das pessoas, sendo âmbitos de viva comunhão e participação e orientando-as completamente para a missão.”( n. 28).
A Igreja Particular
“É a Igreja encarnada num espaço concreto, dotada de todos os meios de salvação dados por Cristo, mas com um rosto local. A sua alegria de comunicar Jesus Cristo exprime-se tanto na sua preocupação por anunciá-Lo noutros lugares mais necessitados, como numa constante saída para as periferias do seu território ou para os novos âmbitos socioculturais. Procura estar sempre onde fazem mais falta a luz e a vida do Ressuscitado. Para que este impulso missionário seja cada vez mais intenso, generoso e fecundo, exorto também cada uma das Igrejas particulares a entrar decididamente num processo de discernimento, purificação e reforma.(n.30)
Um convite-desafio
“A pastoral em chave missionária exige o abandono deste cômodo critério pastoral: «fez-se sempre assim». Convido todos a serem ousados e criativos nesta tarefa de repensar os objectivos, as estruturas, o estilo e os métodos evangelizadores das respectivas comunidades.”(n.33).
O Papa Francisco, falando da Igreja Particular, tem insistido sempre “numa constante saída para as periferias do seu território ou para os novos âmbitos socioculturais. Estar sempre onde fazem mais falta a luz e a vida do Ressuscitado”(n.30).

Dom Eduardo Benes de Sales Rodrigues
Artigo publicado no Jornal Diário de Sorocaba - 02.02.2014


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A Copa do Mundo

Li que a Suécia recusou a proposta de sediar os jogos olímpicos de inverno de 2022. A decisão foi consensual, com o apoio dos partidos políticos, do prefeito de Estocolmo e do primeiro ministro do país.

A justificativa é a
 de que a Suécia possui outras prioridades, além do que a organização dos Jogos teria um alto custo. “Precisamos priorizar outras necessidades, como a construção de mais moradias na cidade”, declarou Nordin ao Dagens Nyheter. O secretário-municipal de Meio Ambiente de Estocolmo, Per Ankersjö, também defendeu essa posição ao jornal: “Quando se trata de custos deste calibre, os cidadãos que pagam impostos exigem de seus políticos mais do que previsões otimistas e boas intuições. Não é possível conciliar um projeto de sediar os Jogos Olímpicos com as prioridades de Estocolmo em termos de habitação, desenvolvimento e previdência social”.

Não sei avaliar os benefícios que a realização da copa do mundo e das olimpíadas trará para nosso povo. Às vezes fica-me a impressão que o País está financiando um evento, no caso da copa, que atende mais a interesses da FIFA do que ao bem do Brasil. Gosto de futebol e, não nego, torcerei pelo Brasil. Mas isto não me impede observar que saúde, educação e saneamento básico estão necessitados de volume igual, ou maior, de investimento público. É muito saudável que o assunto seja debatido por especialistas em administração pública e pelos cidadãos em geral. A melhoria dos aeroportos e das condições de mobilidade urbana, além de outros possíveis benefícios, justificaria os gastos exigidos pelas obras em andamento?


Dom Eduardo Benes de Sales Rodrigues 
Artigo Publicado no Jornal Bom Dia - 02.02.2014


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A Boa Nova do Reino

Se for verdade que a razão última dos desacertos da humanidade no seu percurso histórico está na ausência do sentido do transcendente mistério de Deus, então é também verdade que o remédio primeiro para os males humanos está no encontro com esse mesmo mistério. A humanidade sempre procurou na religião a resposta para suas mais profundas interrogações e que se referem às questões do mal e do sentido da existência. Sempre esteve presente na consciência da humanidade que não é possível viver com sentido esta vida sem a comunicação com o mistério de Deus. Esse início de milênio está a testemunhar, contra todas as previsões do secularismo e dos profetas da morte de Deus, que o ser humano precisa mais do mistério do que de pão e que sem o pão do mistério a humanidade não saberá partilhar o pão de cada dia. O comunismo pretendeu banir Deus da convivência social e acreditou poder impor a partilha entre os homens. Acabou por não ter o que partilhar e ruiu fragorosamente. O capitalismo, ao se organizar a partir da cobiça do lucro, faz morrer à míngua, diante da mesa cheia da abundância de sua produção, uma imensa multidão de empobrecidos. Sem o Pai Nosso nos corações não haverá pão nosso na grande mesa da humanidade. Sem Pai não há irmãos. Jesus veio nos revelar o mistério do Pai e de seu amor e, nesta mesma revelação, veio manifestar plenamente o homem ao próprio homem (GS 22). Foi a sua proximidade com o Pai que o fez íntimo, próximo e solidário de todos os homens. Nele encontramos a resposta para nossas buscas e o remédio para nossos males. Mais do que ninguém Jesus viu os problemas do seu povo. Com certeza, com uma clareza muito maior que a de muitos analistas de conjuntura de hoje, Jesus viu a sociedade de seu tempo e percebeu o jogo de interesses e de poder que regia as relações entre os povos e, no interior de seu povo, entre os grupos e as classes, gerando a pobreza e o sofrimento dos pobres. Mais que todos, Ele soube desmascarar as ideologias, sobretudo as de cunho religioso, que justificavam tal estado de coisas. Jesus, entretanto, não apresentou nenhum programa de transformação social e jamais afirmou que o reino de Deus viria pela supressão do modelo imperialista que desde Roma se estendia por todo o mediterrâneo. Jesus anunciou a presença do reino como uma experiência “aqui e agora” possível para todo aquele que acolhesse na fé a sua palavra. Era este o anúncio de Jesus: “o tempo já se cumpriu, e o reino de Deus está próximo. Convertei-vos e crede no evangelho”. “Próximo” não significa “no futuro”, por alguma transformação social ou política, significa perto, ao alcance daquele que o acolhesse. Os humildes entram na posse do mistério do reino, ainda que nada mude na sociedade em que vivem. O reino não está atrelado nem ao sistema ou cultura dominante, nem a um sistema, ou cultura, por vir. Ele é uma realidade de outra ordem, da ordem da graça e se faz presente pelo dom do Espírito Santo, acolhido na fé, e se enraíza na história pela contínua conversão dos que crêem. É importante, porém, afirmar, que a presença dos que vivem o mistério do reino no mundo se constitui em poderosa força transformadora daquelas realidades que no mundo se opõem aos ideais de justiça e fraternidade. Uma sociedade justa é fruto da presença do reino de Deus no coração daqueles que o buscam de verdade. Ela reflete, quando se estrutura como comunhão na justiça e no amor, o mistério transcendente de Deus. O anúncio do reino implica necessariamente o anúncio de suas exigências de conversão e de transformação da convivência entre os homens em todas dimensões. Há uma necessária relação entre a experiência do reino e o empenho pela justiça no mundo. Eis sobre a questão o que nos diz o Papa Francisco em sua Exortação Apostólica “Evangelii Gaudium”:
Não podemos relegar “a religião para a intimidade secreta das pessoas, sem qualquer influência na vida social e nacional, sem nos preocupar com a saúde das instituições da sociedade civil, sem nos pronunciar sobre os acontecimentos que interessam aos cidadãos. Quem ousaria encerrar num templo e silenciar a mensagem de São Francisco de Assis e da Beata Teresa de Calcutá? Eles não o poderiam aceitar. Uma fé autêntica – que nunca é cómoda nem individualista – comporta sempre um profundo desejo de mudar o mundo, transmitir valores, deixar a terra um pouco melhor depois da nossa passagem por ela. Amamos este magnífico planeta, onde Deus nos colocou, e amamos a humanidade que o habita, com todos os seus dramas e cansaços, com os seus anseios e esperanças, com os seus valores e fragilidades. A terra é a nossa casa comum, e todos somos irmãos. Embora «a justa ordem da sociedade e do Estado seja dever central da política», a Igreja «não pode nem deve ficar à margem na luta pela justiça».[150] Todos os cristãos, incluindo os Pastores, são chamados a preocupar-se com a construção dum mundo melhor.”(EG 183)


Dom Eduardo Benes de Sales Rodrigues
artigo publicado no Jornal Cruzeiro do Sul - Sorocaba-SP - 26.01.2014


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Uma Igreja “em saída”

Trago aos leitores algumas colocações do primeiro ponto do capítulo I da Exortação Apostólica “Evangelii Gaudium” do papa Francisco: “A transformação missionária da Igreja”. Os pontos mais importantes dessa transformação vêm sob os seguintes títulos: 1) Uma Igreja “em saída”; 2) Pastoral em conversão; 3) A partir do coração do evangelho; 4) A missão que se encarna nas limitações humanas; 5) Uma mãe de coração aberto.
I. Uma Igreja «em saída»

Na Palavra de Deus, aparece constantemente este dinamismo de «saída», que Deus quer provocar nos crentes. Abraão aceitou a chamada para partir rumo a uma nova terra (cf. Gn 12, 1-3). Moisés ouviu a chamada de Deus: «Vai; Eu te envio» (Ex 3, 10), e fez sair o povo para a terra prometida (cf. Ex 3, 17). A Jeremias disse: «Irás aonde Eu te enviar» (Jr 1, 7). Naquele «ide» de Jesus, estão presentes os cenários e os desafios sempre novos da missão evangelizadora da Igreja, e hoje todos somos chamados a esta nova «saída» missionária. Cada cristão e cada comunidade há-de discernir qual é o caminho que o Senhor lhe pede, mas todos somos convidados a aceitar esta chamada: sair da própria comodidade e ter a coragem de alcançar todas as periferias que precisam da luz do Evangelho. É preciso sair (ex-ire), mudar de lugar sem medo, lembrados de que a “alegria de Deus é a nossa força”, pois “a alegria do evangelho, que enche a vida da comunidade dos discípulos é uma alegria missionária”(21). E mais adiante: “A intimidade da Igreja com Jesus é uma intimidade itinerante, e a comunhão ‘reveste essencialmente a forma de comunhão missionária’. Fiel ao modelo do Mestre, é vital que hoje a Igreja saia para anunciar o Evangelho a todos, em todos os lugares, em todas as ocasiões, sem demora, sem repugnâncias e sem medo. A alegria do Evangelho é para todo o povo, não se pode excluir ninguém; assim foi anunciada pelo anjo aos pastores de Belém: «Não temais, pois anuncio-vos uma grande alegria, que o será para todo o povo» (Lc 2, 10). O Apocalipse fala de ‘uma Boa Nova de valor eterno para anunciar aos habitantes da terra: a todas as nações, tribos, línguas e povos’ (Ap 14, 6)”. (23). Este sair implica uma profunda mudança: trata-se de viver um dinamismo novo - ir ao encontro -, descrito pelo Papa Francisco com quatro verbos: «Primeirear», envolver-se, acompanhar, frutificar e festejar.(cf. EG 20 a 23).

“Primeirear, ”porque Deus nos amou primeiro, não esperou que chegássemos até Ele: “A comunidade missionária experimenta que o Senhor tomou a iniciativa, precedeu-a no amor (cf. 1 Jo 4, 10), e, por isso, ela sabe ir à frente, sabe tomar a iniciativa sem medo, ir ao encontro, procurar os afastados e chegar às encruzilhadas dos caminhos para convidar os excluídos. Vive um desejo inexaurível de oferecer misericórdia, fruto de ter experimentado a misericórdia infinita do Pai e a sua força difusiva. Ousemos um pouco mais no tomar a iniciativa!”(24)

“Envolver-se” como Jesus que se abaixou “pondo-Se de joelhos diante dos outros para os lavar”. “Com obras e gestos, a comunidade missionária entra na vida diária dos outros, encurta as distâncias, abaixa-se – se for necessário – até à humilhação e assume a vida humana, tocando a carne sofredora de Cristo no povo. Os evangelizadores contraem assim o «cheiro das ovelhas», e estas escutam a sua voz.”(24)

“Acompanhar” como Jesus que pacientemente por três anos acompanhou os discípulos, suportando suas incongruências e lentidão: A Comunidade evangelizadora “acompanha a humanidade em todos os seus processos, por mais duros e demorados que sejam. Conhece as longas esperas e a suportação apostólica. A evangelização patenteia muita paciência, e evita deter-se a considerar as limitações”(24). Como é importante a catequese e a orientação espiritual, tarefa primeira de quem deseja formar verdadeiras comunidades de discípulos missionários!

“Frutificar” e saber olhar os frutos ao invés de fixar a atenção no joio que se mistura ao trigo: “Cuida do trigo e não perde a paz por causa do joio. O semeador, quando vê surgir o joio no meio do trigo, não tem reações lastimosas ou alarmistas. Encontra o modo para fazer com que a Palavra se encarne numa situação concreta e dê frutos de vida nova, apesar de serem aparentemente imperfeitos ou defeituosos.”

“Festejar”: celebrar e agradecer na liturgia a alegria do crescimento do reino no mundo: a comunidade missionária “celebra e festeja cada pequena vitória, cada passo em frente na evangelização. No meio desta exigência diária de fazer avançar o bem, a evangelização jubilosa torna-se beleza na liturgia. A Igreja evangeliza e se evangeliza com a beleza da liturgia, que é também celebração da atividade evangelizadora e fonte dum renovado impulso para se dar.(24). As orientações do Papa Francisco merecem muita atenção e nos convidam a uma profunda revisão de atitudes e de vida.

Dom Eduardo Benes de Sales Rodrigues
Artigo publicado no Jornal Diário de Sorocaba - 26.01.2014




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A violência no Maranhão

Os graves episódios relacionados com a crise no sistema prisional do Maranhão colocam para a consciência cidadã, de forma especial para os cristãos, questões que não podem nos deixar indiferentes. Os bispos do Maranhão fizeram uma carta cuja importância deve repercutir também em nosso meio uma vez que a crise do sistema em pauta se faz presente em todo território nacional. Eis alguns pontos da carta dos bispos:

.“A nossa sociedade está se tornando cada vez mais violenta. É nosso parecer que essa violência é resultado de um modelo econômico-social que está sendo construído”’.

“Esta cultura da violência, aliada à morosidade da Justiça e à ausência de políticas públicas, resulta em cárceres cheios de jovens, em sua maioria negros e pobres. O nosso sistema prisional não reeduca estes jovens. Ao contrário, a penitenciária transformou-se em uma universidade do crime. Não nos devolve cidadãos recuperados, mas pessoas na sua maioria ainda mais frustradas que veem na vida do crime a única saída para o seu futuro”.

“Vivemos num Estado que erradicou a febre aftosa do gado, mas que não é capaz de eliminar doenças tão antigas como a hanseníase, a tuberculose e a leishmaniose.”

“Não é este o Estado que Deus quer. Não é este o Estado que nós queremos! Como discípulos missionários de Jesus, estamos comprometidos, junto a todas as pessoas de boa vontade, na construção de uma sociedade fraterna e solidária, sem desigualdades, sem exclusão e sem violência, onde a “justiça e a paz se abraçarão” (Sl 85,11 )”

Unamo-nos ao povo do Maranhão em oração e fiquemos atentos para votar em candidatos que se mostrem interessados em um novo modelo de fazer política.

Dom Eduardo Benes de Sales Rodrigues
Artigo publicado no Jornal Bom Dia - Sorocaba-SP - 26.01.2014









O Batismo de Jesus e a Missão da Igreja

A Igreja celebra neste domingo o batismo do Senhor. É uma festa de grande alcance teológico situada no contexto do Natal, realçando o sentido último do mistério da Encarnação. Não basta nos encantarmos com o menino deitado na manjedoura esquecendo-nos de que ali começava o processo de um mergulho do Filho de Deus na condição humana cujo desfecho seria a mor
te e morte de Cruz. Somente à luz da ressurreição nos é possível alegrar-nos com o nascimento do Filho de Deus na pobreza da gruta de Belém. A luz que brilha no presépio já é a luz da ressurreição. Que sentido teria o nascimento de Jesus se tudo terminasse na morte?

A festa do batismo de Jesus convida-nos a penetrar mais profundamente no sentido de sua vinda ao mundo. São Mateus assim narra o episódio: “Jesus foi da Galiléia para o rio Jordão, a fim de se encontrar com João, e ser batizado por ele. Mas João procurava impedi-lo, dizendo: "Sou eu que devo ser batizado por ti, e tu vens a mim?" Jesus, porém, lhe respondeu: "Por enquanto deixe como está! Porque devemos cumprir toda a justiça." E João concordou. Depois de ser batizado, Jesus logo saiu da água. Então o céu se abriu, e Jesus viu o Espírito de Deus, descendo como pomba e pousando sobre ele. E do céu veio uma voz, dizendo: "Este é o meu Filho amado, que muito me agrada."(Mt 3,13-17) “

O Texto de Mateus nos remete a Isaias: “Vejam o meu servo, a quem eu sustento: ele é o meu escolhido, nele tenho o meu agrado. Eu coloquei sobre ele o meu espírito, para que promova o direito entre as nações”(42,1), o primeiro de quatro cânticos onde é descrita a missão de um personagem – o Servo de Javé -,sendo o quarto cântico a descrição dos sofrimentos do Servo que asuume nossas enfermidade e pecados: “Mas ele estava sendo transpassado por causa de nossas revoltas, esmagado por nossos crimes. Caiu sobre ele o castigo que nos deixaria quites; e por suas feridas é que veio a cura para nós. Todos nós estávamos perdidos como ovelhas, cada qual se desviava pelo seu próprio caminho, e Javé fez cair sobre ele os crimes de todos nós. (53, 5-6)”

Os evangelhos sinóticos são concordes na narrativa do batismo de Jesus e na explicitação de seu sentido, à luz do texto de Isaias. O batismo de Jesus revela a razão de seu nascimento. Jesus veio e envolveu-se conosco, “pegou nosso cheiro”, colocou-se no número dos pecadores ao receber o batismo de João. São Mateus registra: “João procurava impedi-lo, dizendo: "Sou eu que devo ser batizado por ti, e tu vens a mim?”Jesus, porém, lhe respondeu: "Por enquanto deixe como está! Porque devemos cumprir toda a justiça.” O batismo de João exigia uma conversão, uma penitência para a purificação dos pecados, que ser humano algum era capaz de fazer. Jesus, ao ser batizado, toma para si nossa condição de pecadores. Ele é o Filho amado, sobre o qual pousa o Espírito Santo, que vai dar início à tarefa que o Pai lhe confiou: reunir os filhos de Deus dispersos pelo pecado. O desfecho será a Cruz. Na cruz está a plenitude de sentido do batismo de Jesus: purificar-nos para Deus, fazendo de nós filhos amados aos quais Ele, ressucitado, envia da parte do Pai o Espírito no qual clamamos “Abba, Pai”. A Solenidade do Natal não passaria de ternos sentimentos diante da criança pobre deitada na manjedoura se não entendêsemos que Ele veio para resgatar-nos do exílio do pecado. O Batismo de Jesus nos mostra o caminho que Jesus deveu fazer para cumprir a missão que o Pai lhe confiou.

Cristo continua através da Igreja sua missão. Para isso nos dá o Espírito Santo. Veja, prezado leitor, como o Papa Francisco nos aponta o caminho que a Igreja – nós - deve fazer: “A Igreja «em saída» é a comunidade de discípulos missionários que «primeireiam», que se envolvem, que acompanham, que frutificam e festejam. Primeireiam – desculpai o neologismo –, tomam a iniciativa! A comunidade missionária experimenta que o Senhor tomou a iniciativa, precedeu-a no amor (cf. 1 Jo 4, 10), e, por isso, ela sabe ir à frente, sabe tomar a iniciativa sem medo, ir ao encontro, procurar os afastados e chegar às encruzilhadas dos caminhos para convidar os excluídos. Vive um desejo inexaurível de oferecer misericórdia, fruto de ter experimentado a misericórdia infinita do Pai e a sua força difusiva. Ousemos um pouco mais no tomar a iniciativa! Como consequência, a Igreja sabe «envolver-se». Jesus lavou os pés aos seus discípulos. O Senhor envolve-Se e envolve os seus, pondo-Se de joelhos diante dos outros para os lavar; mas, logo a seguir, diz aos discípulos: «Sereis felizes se o puserdes em prática» (Jo 13, 17). Com obras e gestos, a comunidade missionária entra na vida diária dos outros, encurta as distâncias, abaixa-se – se for necessário – até à humilhação e assume a vida humana, tocando a carne sofredora de Cristo no povo. Os evangelizadores contraem assim o «cheiro das ovelhas», e estas escutam sua voz (EG 24).


Dom Eduardo Benes de Sales Rodrigues
Artigo publicado no Jornal Diário de Sorocaba- 12.01.2013


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Os magos e Herodes




O nascimento de Jesus, tal como vem descrito nos evangelhos, está cercado de mistério e de fatos que revelam seu significado profundo. A gruta, os pastores e o canto dos anjos misturam a pobreza desta terra com a beleza do céu. Os pastores não sabem se foi a terra que subiu ou se foi o céu que desceu. Foram envolvidos por uma alegria infinita quando as cores da luz se casaram com a beleza de uma canção jamais ouvida. Sem dúvida, os pobres, mais que todos, vivem a experiência de que não são os senhores absolutos da vida e do mundo.



Estão permanentemente desejosos da chegada e da manifestação do Senhor da vida. São Lucas, em seu evangelho, narra o encontro dos pastores com Jesus que acabara de chegar e conclui: "os pastores retiraram-se, louvando a agradecendo a Deus por tudo o que tinham visto e ouvido, de acordo com o que lhes tinha sido dito"(Lc 2,20). Há uma pobreza radical, ontológica, que é constitutiva do ser humano. Felizes os que experimentam esta pobreza! Estão na verdade. Também os ricos e os sábios, se não mentirem para si mesmos, poderão experimentá-la. Nem toda a riqueza desse mundo, nem a totalidade do conhecimento científico acumulado através das gerações respondem ao anseio que brota desta pobreza. Onde encontrar a verdade, fundamento e sentido definitivo da própria existência? A verdade, pela qual aspira o espírito humano, é maior que o mundo e que a própria razão. É a própria razão humana que o diz para si mesma ao navegar pelo interior de todos os entes e pressentir neles a presença de um mistério maior, fundamento transcendente de todo o existente. O episódio dos magos, que vieram de longe para adorar o menino, nos mostra que todos os seres humanos trazem dentro de si essa inquietação que lhes brota das profundezas do próprio ser. O risco para o ser humano é abafar, pela busca insaciável da riqueza ou do poder, o grito desta inquietação. Os magos vieram de longe porque viram um misterioso e luminoso sinal, que haveria de conduzi-los à verdade maior que eles pressentiam oculta para além das inumeráveis estrelas que enfeitavam o céu. Buscavam uma verdade maior jamais encontrada. Cada descoberta da ciência, cada boa e verdadeira novidade no conhecimento do universo - macro ou micro -, é um sinal da presença da verdade maior, sempre velada, que é Deus. A ciência não pode, entretanto, desvelá-lo para dele se apossar. É necessário deixar-se conduzir por uma estrela, que não é fagulha desse universo, para encontrar a verdade maior que se insinua por entre as verdades que fazem a grande constelação do existir humano. É quando o ser humano deixa a condição de poderoso explorador do mundo para se colocar na humilde condição de peregrino, guiado por outras mãos. A ciência, na medida em que avança na tentativa de desvendar o mistério do universo, se descobre envolvida em mistério ainda maior.



Ela jamais atingirá a origem radical e o destino definitivo da evolução cósmica, pois sua origem e seu destino estão para além de suas próprias fronteiras. A ação que está na origem do universo não é empiricamente verificável, nem a ação que lhe dá o sentidoúltimo. A estrela dos magos não era mais a razão investigativa, era a mão de Deus a lhes apontar o caminho da Verdade definitiva. Esta, a verdade maior, fundamento e sentido de todas as verdades, saiu do seu ocultamento e se fez criança, pobre e humilde. No mistério daquela criança, tal como o fizeram os pastores, eles adoraram Deus. Os magos vieram de longe. A piedade popular deu-lhes o título de reis, reis magos. Eram ricos, trouxeram presentes valiosos. Representavam todas as nações. Eram humildes, reconheciam sua carência. Agarraram-se à estrela que lhes aparecera repentinamente. Adoraram um menino, pobre e frágil. E nisto se despojaram de qualquer pretensão de grandeza. Da verdade maior ninguém pode se apoderar. Ela se revela e deve ser acolhida na adoração, na entrega e na gratidão. Ela se oculta para os olhos dos que pensam tudo poder dominar. O ser humano, encastelado na ilusão do poder, não tem olhos para vê-la. Qualquer lampejo de verdade para além de seu trono é para ele uma ameaça a ser destruída.



Há na narrativa dos acontecimentos que compuseram o quadro da vinda de Jesus, um episódio, recheado de humana maldade, cujo desfecho é assim narrado por Mateus: "quando Herodes percebeu que os magos o tinham enganado, ficou furioso. Mandou matar todos os meninos de Belém e de todo o território vizinho, de dois anos para baixo, de acordo com o tempo indicado pelos magos"(Mt 2,17). Herodes é o oposto dos magos, vindos de longe. Está tão perto e, ao mesmo tempo, tão distante. Quando os magos chegaram perguntando onde devia nascer o Rei dos Judeus, Herodes ficou alarmado (cf. Mt 2,3).A fantasia do poderoso é habitada tanto pelo sonho de mais poder como pelo receio de cair no anonimato pela sua perda. O poderoso não tem amigos, tem vassalos. Estes são adoradores do poder, felizes na subserviência, contentam-se com o aquecer-se à sombra do potentado. Os que não são vassalos são inimigos atuais ou em potencial. O poderoso vive arquitetando como garantir-se no poder e como controlar os que navegam pelas águas de seu reino.



O poderoso bem sucedido desenvolveu um esquema de relação onde seu modo, sua expressão facial, o tom de sua voz, o dedo em riste, a argumentação irretorquível, inibem a capacidade de reagir de seus súditos, condenando-os antecipadamente se outra posição ousarem. Em geral sempre tem razão e raramente reconhece ter falhado. Jamais volta atrás, seria confessar fraqueza, coisa que o poderoso não se permite ter. Herodes, o filho deste que assassinou os inocentes, mandou degolar João Batista para não voltar atrás perante seus admiradores. Mas o poderoso costuma ser generoso, razão por que é necessário ter muito dinheiro. Herodes, o filho, gostava de dar festas em seu palácio para seus "amigos" e lhes dava, imagino, também proteção. Estes se sentiam importantes junto dele e protegidos. Os magos vieram de longe. A piedade popular deu-lhes o título de reis, reis magos. Eram ricos, trouxeram presentes valiosos. Representavam todas as nações. Eram humildes, reconheciam sua carência. Agarraram-se à estrela que lhes aparecera repentinamente. Adoraram um menino, pobre e frágil. E nisto se despojaram de qualquer pretensão de grandeza. Eu devo escolher entre ser um dos magos ou Herodes.


Dom Eduardo Benes de Sales Rodrigues 
Artigo publicado no Jornal Diário de Sorocaba- 05.01.2014











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Deus se fez pequeno e pobre 

Glória a Deus nas alturas e paz na Terra aos seres humanos por Ele amados”(Lc 2,7-14). Quanto maior o amor, maior a humildade, a capacidade de descer e de se fazer próximo do outro, fazer nele morada e tornar-se para ele abrigo e fonte de paz. Pelo pecado o ser humano encheu-se de si mesmo, pelo mistério da encarnação o Filho “esvaziou-se de si mesmo, assumindo a condição de servo” e “humilhou-se, fazendo-se obediente até a morte e morte de Cruz”(Cf. Filip 2,6-8). “Por isso, Deus o exaltou acima de tudo” e o fez “Senhor” (2,9-10). Qual a lição, a grande lição que devemos tirar de todas essas coisas?

Em primeiro lugar, a certeza de que Deus nos ama de verdade e se esconde sob os trapos de nossa humanidade. Não é verdade que às vezes nos sentimos como trapos?

Em segundo lugar, a alegria de saber que Deus ama o outro tanto quanto a mim, infinitamente.

Em terceiro lugar, ter a coragem de sair do próprio mundo para chegar até o mundo do outro, para compreendê-lo e oferecer-lhe uma amizade sincera na igualdade que só o amor pode criar. O desejo de onipotência é o oposto do Deus Onipotente. A onipotência de Deus é força infinita de amor capaz de vencer todas as distâncias. A soberba enclausura na mais absoluta solidão e se transforma em ódio. É o inferno. Mas, no Natal o céu desceu à terra. Já na Terra podemos ser cidadãos do céu.

. A alegria da Virgem Maria e de seu esposo José, a alegria dos pastores e dos magos vindos de longe, seja também sua alegria, brilho do céu no rosto de sua alma! E que seu clarão ilumine sua casa! E que a luz que brilhou sobre os pastores brilhe sobre nossa cidade!

Dom Eduardo Benes de Sales Rodrigues

artigo publicado no Jornal Bom Dia - 22.12.2013







Hoje a Igreja Católica celebra a Solenidade de todos os santos. Ontem fizemos memória de todos os fieis defuntos. A palavra “defunto” tem um belo significado. Vem do verbo latino “defungi” que significa: desempenhar-se, cumprir uma tarefa ou missão. O particípio passado “defunctus” aplica-se à pessoa que cumpriu a tarefa, terminou a missão. Viver é dom de Deus, mas é também tarefa, construção, caminho a ser feito, missão. Lembro-me de um pensamento de Erich Fromm que dizia mais ou menos assim: “o verdadeiro nascimento não é o nascimento no sentido convencional da palavra. Na verdade estamos nascendo sempre e só teremos nascido plenamente ao morrer”. O ser humano, quando conduzido pela bondade criadora e redentora de Deus, vai se construindo no dia a dia através de suas escolhas, motivadas pelo amor, para, no final, em um último ato de entrega, entrar na pátria definitiva. Se chega a Deus, carregando ainda em seu ser imperfeições ou manchas de egoísmo, será purificado pelo Espírito Santo de Deus para ser totalmente tomado pelo amor. Para quem crê no Deus de Jesus Cristo, a santidade é a vocação fundamental, é o destino último. Os que já partiram, tendo sido fieis a o evangelho no caminho da história, estão em comunhão conosco e são par nós exemplo e intercessores. Hoje, na solenidade de todos os santos, somos convidados a renovar nossa fé na vida eterna e, de olhos fixos em Cristo, a caminhar pela via das bem-aventuranças, como o fez a Virgem Maria, São Francisco de Assis e tantos outros que se decidiram pelo seguimento de Jesus.

Dom Eduardo Benes de Sales Rodrigues
 (Artigo publicado no Jornal Bom Dia - 03.11.2013)



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Felizes os pacíficos!


Valho-me dessa coluna para passar ao leitor a posição da Igreja, expressa em seu “Compêndio de Doutrina Social” publicado pela Santa Sé em 2004 e que nos dá critérios que poderão nos ajudar na avaliação dos graves conflitos armados no oriente.

“Uma guerra de agressão é intrinsecamente imoral. No trágico caso em que esta se desencadeie, os responsáveis por um Estado agredido têm o direito e o dever de organizar a defesa inclusive recorrendo à força das armas. O uso da força, para ser lícito, deve responder a algumas rigorosas condições: que o dano infligido pelo agressor à nação ou à comunidade das nações seja durável, grave e certo; que todos os outros meios de pôr fim se tenham revelado impraticáveis ou ineficazes; que estejam reunidas as condições sérias de êxito; que o emprego das armas não acarrete males e desordens mais graves que o mal a eliminar. O poderio dos meios modernos de destruição pesa muito na avaliação desta condição. Estes são os elementos tradicionais enumerados na chamada doutrina da ‘guerra justa’. A avaliação dessas condições de legitimidade moral cabe ao juízo prudencial daqueles que estão encarregados do bem comum”(n. 500).

“Não se deve esquecer que uma coisa é utilizar as forças militares para justa defesa dos povos, outra coisa é querer subjugar outras nações. O poderio bélico não legitima qualquer uso militar ou político dele mesmo. E depois de lamentavelmente começada a guerra, nem por isso tudo se torna lícito entre as partes inimigas”(idem).

“A Carta das Nações Unidas, nascida da tragédia da Segunda Guerra Mundial e voltada a preservar as gerações futuras do flagelo da guerra, se baseia na interdição generalizada do recurso à força para resolver as controvérsias entre os Estados, exceto em dois casos: a legítima defesa e as medidas tomadas pelo Conselho de Segurança no âmbito das suas responsabilidades para manter a paz. Em todo caso, o exercício do direito a defender-se deve respeitar os limites tradicionais de necessidade e de proporcionalidade”(n.501).

“Quando, ademais, uma ação bélica preventiva, lançada sem provas evidentes de que uma agressão está para ser desferida, essa não pode deixar de levantar graves questões sob o aspecto moral e jurídico. Portanto, somente uma decisão dos organismos competentes, com base em rigorosas averiguações e motivações fundadas, pode dar legitimação internacional ao uso da força armada”(idem).

“As exigências da legítima defesa justificam a existência, nos Estados, das forças armadas, cuja ação deve ser posta ao serviço da paz: os que com tal espírito tutelam a segurança e a liberdade de um País, dão um autêntico contributo à paz. Toda a pessoa que presta serviço nas forças armadas é concretamente chamada a defender o bem, a verdade e a justiça no mundo; não poucos são aqueles que nas forças armadas sacrificaram a própria vida por tais valores e para defender vidas inocentes. O crescente número de militares que atuam no seio de forças multinacionais, no âmbito das ‘missões humanitárias e de paz’, promovidas pelas Nações Unidas, é um fato significativo”(n.502)..

“O direito ao uso da força com o objetivo de legítima defesa é associado ao dever de proteger e ajudar as vítimas inocentes que não podem defender-se das agressões. Nos conflitos da era moderna, frequentemente no seio do próprio Estado, as disposições do direito internacional humanitário devem ser plenamente respeitadas. Em muitas circunstâncias a população civil é atingida, por vezes também como objetivo bélico. Em alguns casos, é brutalmente massacrada ou desenraizada das próprias casas e das próprias terras com transferências forçadas, sob o pretexto de uma ‘purificação étnica inaceitável. Em tais trágicas circunstâncias, é necessário que as ajudas humanitárias cheguem à população civil e que não sejam jamais utilizadas para condicionar os beneficiados: o bem da pessoa humana deve ter precedência sobre os interesses das partes em conflito”(n.504).

“Uma categoria particular de vítimas da guerra é a dos refugiados, constrangidos pelos combates a fugir dos lugares em que vivem habitualmente, até mesmo a encontrar abrigo em países diferentes daqueles em que nasceram. A Igreja está do lado deles, não só com a presença pastoral e com o socorro material, mas também com o empenho de defender a sua dignidade humana: A solicitude pelos refugiados deve esforçar-se por reafirmar e sublinhar os direitos humanos, universalmente reconhecidos, e a pedir que para eles sejam efetivamente realizados”(idem).

O Papa Francisco nos convidou a orar pela paz: “queria fazer-me intérprete do grito que se eleva, com crescente angústia, em todos os cantos da terra, em todos os povos, em cada coração, na única grande família que é a humanidade: o grito da paz!”

Concluo com a palavra de Jesus: “Felizes os que promovem a paz porque serão chamados filhos de Deus” (Mt 5,9).



Dom Eduardo Benes de Sales Rodrigues

Publicaod nos Jornais de Sorocaba - Diário de Sorocaba e Cruzeiro do Sul - 08.09.2013


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Violência chama mais violência
O Papa Francisco nos convidou para orar pela paz: “queria fazer-me intérprete do grito que se eleva, com crescente angústia, em todos os cantos da terra, em todos os povos, em cada coração, na única grande família que é a humanidade: o grito da paz!” Ele tinha diante dos olhos, sobretudo o drama pelo qual passa a Síria. E advertiu: “O uso da violência nunca conduz à paz. Guerra chama mais guerra, violência chama mais violência”. Escrevo essas linhas hoje, dia 5 de setembro. Barack Obama diz-se decidido a fazer um ataque com mísseis a instalações do governo sírio como punição pelo uso de armas químicas no combate aos insurgentes. A situação da Síria enseja lembrar o ensinamento da Igreja em sua Doutrina Moral. Pode ser justa uma rebelião contra o opressor em caso de tirania prolongada desde que se tenha perspectiva de sucesso e se preveja que os males decorrentes do conflito não sejam maiores do que aqueles da situação. A Síria está convulsionada por uma guerra civil que parece não ter fim. O Ocidente viu com entusiasmo as insurreições no Oriente. E agora? Que benefícios trará a intervenção americana??? Oremos todos para que o verdadeiro caminho de solução do conflito seja encontrado: “O caminho do diálogo e da negociação entre os componentes da sociedade síria, com o apoio da comunidade internacional, é a única opção para por fim ao conflito", afirma o comunicado vaticano, divulgado após Francisco ter recebido o Rei Abdullah”. Violência só destrói. “Felizes os que promovem a paz porque serão chamados filhos de Deus” (Mt 5,9).



Dom Eduardo Benes de Sales Rodrigues



Publicado no Jornal Bom Dia

08.09.2013



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No “HOJE” abertos para o outro




O Papa Francisco, por ocasião da JMJ – Jornada Mundial da Juventude – dirigindo-se aos bispos responsáveis pelo CELAM – Conselho Episcopal Latino-Americano – propôs reflexões de grande importância, que dizem respeito à missão da Igreja, mas que podem e devem inspirar também todas as pessoas de boa vontade bem como as instituições de índole secular. A primeira se refere á importância do “HOJE”. Não viver aprisionado no passado e nem sonhando utopicamente com o futuro. A memória do passado só vale se nos torna empenhados no presente para construir o futuro. A segunda se refere à importância de não estarmos centrados em nós mesmos, mas abertos ao outro, saindo de nós mesmos para o encontro na verdade e no amor com nosso próximo. É preciso “sair para as ruas” e partir para “as periferias existenciais”. Mais de uma vez o Papa falou da Cultura do Encontro. As periferias existenciais nos fazem pensar nos pobres, naqueles que se sentem expulsos do círculo dos que desfrutam dos bens sociais e daqueles que vivem distantes dos valores espirituais que garantem a dignidade e o sentido da existência. O Papa adverte-nos que a Igreja não existe para si mesma; não pode ser auto-referencial. Isso vale para todas as instituições sociais. Todas devem estar voltadas para o bem comum; o que só será possível se as pessoas que as mantêm cultivarem o sentido do outro. Ninguém é para si mesmo. Ser pessoa é ser capaz de estar voltado para o outro, estabelecendo com ele uma sempre mais profunda comunhão, procurando a inclusão de todos no círculo da vida.

Dom Eduardo Benes de Sales Rodrigues
Jornal Bom Dia - 01.09.2013 - Sorocaba-SP



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Alguns critérios eclesiológicos

Dando continuidade à temática abordada pelo Papa Francisco em reflexão proposta aos bispos responsáveis pelo CELAM - Conselho Episcopal Latino -Americano, passamos ao leitor a parte mais importante de discurso, quando ele nos oferece “alguns critérios eclesiológicos” que devem orientar a Igreja na sua renovação interna e no diálogo com o mundo. 

1.A Importância de não viver no passado nem sonhar com o futuro de forma meramente utópica:
“Deus é real e se manifesta no “hoje”. A sua presença, no passado, se nos oferece como ‘memória’ da grande obra da salvação realizada quer em seu povo quer em cada um de nós; no futuro, se nos oferece como ‘promessa’ e esperança. No passado, Deus esteve presente e deixou sua marca: a memória nos ajuda encontrá-lo; no futuro, é apenas promessa... e não está nos mil e um “futuríveis”. O “hoje” é o que mais se parece com a eternidade; mais ainda: o “hoje” é uma centelha de eternidade. No 'hoje', se joga a vida eterna.

O discípulo missionário deve sair de si mesmo.
“O discípulo missionário não pode possuir-se a si mesmo; a sua imanência está em tensão para a transcendência do discipulado e para a transcendência da missão. Não admite a auto-referencialidade: ou refere-se a Jesus Cristo ou refere-se às pessoas a quem deve levar o anúncio dele. Sujeito que se transcende. Sujeito projetado para o encontro: o encontro com o Mestre (que nos unge discípulos) e o encontro com os homens que esperam o anúncio”.
“No anúncio evangélico, falar de 'periferias existenciais' descentraliza quando, habitualmente, temos medo de sair do centro. O discípulo-missionário é um 'descentrado': o centro é Jesus Cristo, que convoca e envia. O discípulo é enviado para as periferias existenciais.”

2. A Igreja instituição não existe para si mesma.
Deve-se se deixar iluminar permanentemente pelo Sol que é Cristo - a Igreja como “mysterium lunae”, Esposa  -  e ser Mãe, Servidora, Missionária. Aqui o Papa Francisco previne-nos contra o risco de transformá-la em uma ONG, auto-referencial, centrada em si mesma.

3As duas categorias pastorais mais significativas de Aparecida: a proximidade e o encontro.
“Nenhuma das duas é nova, mas constituem a modalidade em que Deus se revelou na história. É o 'Deus próximo' do seu povo, proximidade que atinge o ponto máximo na encarnação. É o Deus que sai ao encontro do seu povo. Na América Latina e no Caribe, existem pastorais 'distantes', pastorais disciplinares que privilegiam os princípios, as condutas, os procedimentos organizacionais... obviamente sem proximidade, sem ternura, nem carinho. Ignora-se a 'revolução da ternura', que provocou a encarnação do Verbo. Há pastorais estruturadas com tal dose de distância que são incapazes de atingir o encontro: encontro com Jesus Cristo, encontro com os irmãos...a proximidade cria comunhão e pertença, torna possível o encontro. A proximidade toma forma de diálogo e cria uma cultura do encontro. Uma pedra de toque para aferir a proximidade e a capacidade de encontro de uma pastoral é a homilia. Como são as nossas homilias? Estão próximas do exemplo de Nosso Senhor, que 'falava como quem tem autoridade', ou são meramente perceptivas, distantes, abstratas?"

4. A responsabilidade do Bispo
“Quem guia a pastoral, a Missão Continental (seja programática seja paradigmática), é o Bispo. Ele deve guiar, que não é o mesmo que dominar. Além de assinalar as grandes figuras do episcopado latino-americano que todos nós conhecemos, desejo acrescentar aqui algumas linhas sobre o perfil do Bispo, que já disse aos Núncios na reunião que tivemos em Roma. Os Bispos devem ser Pastores, próximos das pessoas, pais e irmãos, com grande mansidão: pacientes e misericordiosos. Homens que amem a pobreza, quer a pobreza interior como liberdade diante do Senhor, quer a pobreza exterior como simplicidade e austeridade de vida. Homens que não tenham “psicologia de príncipes”. Homens que não sejam ambiciosos e que sejam esposos de uma Igreja sem viver na expectativa de outra. Homens capazes de vigiar sobre o rebanho que lhes foi confiado e cuidando de tudo aquilo que o mantém unido: vigiar sobre o seu povo, atento a eventuais perigos que o ameacem, mas sobretudo para fazer crescer a esperança: que haja sol e luz nos corações. Homens capazes de sustentar com amor e paciência os passos de Deus em seu povo. E o lugar do Bispo para estar com o seu povo é triplo: ou à frente para indicar o caminho, ou no meio para mantê-lo unido e neutralizar as debandadas, ou então atrás para evitar que alguém se atrase mas também, e fundamentalmente, porque o próprio rebanho tem o seu faro para encontrar novos caminhos.“
 O Papa Francisco, termina afirmando que estamos atrasados na “Conversão Pastoral”. Sua última consideração sobre o Bispo me leva a pedir orações por mim e por aqueles com quem divido o pastoreio da Igreja de Sorocaba. Nossa missão é sublime e nós somos vasos de barro, como nos lembra São Paulo ( II Cor 4,7).

Dom Eduardo  Benes de Sales Rodrigues
publicado no Jornal Diário de Sorocaba - 01.09.2013



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Evangelizar a juventude

A JMJ colocou no centro de nossas atenções a juventude. A presente reflexão foi escrita antes da JMJ e pretende explicitar a importância da evangelização para oferecer um caminho seguro às aspirações dos jovens.

 Por juventude, do ponto de vista sociológico, devemos entender aquela parcela da população - significativa parcela - que se encontra em fase de decisão vocacional e de conseqüente busca de inserção no corpo social. Conhecer a juventude desse ponto de vista significa se perguntar sobre sua mentalidade, sobre seu comportamento e sobre suas reais possibilidades de participação na vida da sociedade. Por juventude, do ponto de vista psicológico, devemos ainda entender aquela fase da vida, em que, saindo da adolescência, a pessoa se coloca as perguntas fundamentais sobre o sentido da vida e é instada fazer suas opções definitivas, que a colocarão no caminho da maturidade. Casamento, profissão, estudo e trabalho se tornam questões de significativa urgência. Subjaz a essas questões uma questão mais fundamental: o desafio de se construir e de viver com plenitude a própria vida mediante uma experiência satisfatória do próprio ser e de participação na construção da comunidade humana. As dificuldades em encontrar esse caminho levantam a questão do sentido da vida e podem fazer do tempo da juventude o tempo da dúvida, dos questionamentos sem fim e até mesmo do desespero. Do ponto de vista filosófico- religioso será o tempo da descoberta e da adesão a valores capazes de justificar a totalidade da existência. É o tempo da conversão religiosa e das escolhas radicais. A impossibilidade de encontrar caminho pode gerar revolta e levar a comportamentos destrutivos. As drogas e a marginalidade são frequentemente a opção daqueles jovens que ficaram sem horizonte, sem perspectiva.
     Muitos jovens chegam à juventude já semi-destruidos, sem sonhos e sem esperança, marcados por uma história familiar e social desastrosa que não lhes cultivou na alma o gosto de viver, inibindo-lhes a emersão do desejo de ser e de participar. Uma juventude saudável pressupõe uma infância e uma adolescência igualmente saudáveis, sem maiores traumas. Estes jovens precisam de cuidados especiais e de uma presença forte de amor que possa lhes restituir a fé na vida e em si mesmos, liberando-lhes as energias vitais que ficaram amortecidas.
           Há aqueles que viveram satisfatoriamente as etapas anteriores, com as dificuldades e os problemas normais, e que, ajudados, poderão encontrar o caminho da própria realização. Desejam ser felizes e estão abertos para as propostas que a sociedade lhes oferece. Uma cultura marcada pelo hedonismo, pelo desejo da posse e pela procura do sucesso, como a nossa, em que os ideais de realização e de felicidade são seqüestrados pelo mercado e reduzidos à busca do conforto material e da satisfação imediata dos sentidos, com certeza seduz o jovem e lhe deixa na alma um grande vazio. È o que observava o Santo Padre, João Paulo II, na encíclica “Fé e Razão”: “de fato, não se pode negar que este período de mudanças rápidas e complexas, deixa, sobretudo os jovens, a quem pertence e de quem depende o futuro, na sensação de estarem privados de pontos de referência autênticos. A necessidade de um alicerce sobre o qual construir a existência pessoal e social faz-se sentir de maneira premente, principalmente quando se é obrigado a constatar o caráter fragmentário de propostas que elevam o efêmero ao nível de valor, destruindo assim a possibilidade de se alcançar o verdadeiro sentido da existência. Deste modo, muitos arrastam a sua vida quase até a borda do precipício, sem saber o que os espera.”
          A Igreja está a se perguntar sobre como fazer chegar à juventude de nosso tempo a palavra do evangelho. Partimos de uma certeza: Jesus Cristo é a resposta ao desejo de vida que Deus colocou no coração humano. Ele é o “Caminho, a Verdade e a Vida”(Jo 14,6).  Do ponto de vista sociológico são várias as “juventudes”: juventude pobre de nossas periferias urbanas, juventude universitária, juventude rural. Todas têm isso em comum: o desejo de viver, de ser e de participar. É missão da Igreja proclamar para todos os jovens que, em Jesus, o Pai disse sim ao desejo de ser feliz que Ele mesmo colocou no coração do ser humano. E é sua missão ajudar os jovens a encontrar em Cristo a resposta para a totalidade das questões que lhe afetam a existência.  O caminho para realizar essa missão é construção de todos, sobretudo dos jovens que se tornaram discípulos e que, como Pedro, dizem: “a quem iremos, Senhor, só tu tens palavras de Vida Eterna?”(Jo 6,68)


Dom Eduardo Benes de Sales Rodrigues
Artigo publicado no Jornal Diário de Sorocaba-28.07.2013



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JMJ: «Ide e fazei discípulos entre as nações!» (cf. Mt 28,19)

O Brasil inteiro está a viver intensamente a JMJ. Terça feira próxima começa no Rio de janeiro a JMJ, precedida em todo o Brasil pela Semana Missionária. Da Arquidiocese de Sorocaba se farão presentes mais de 600 jovens devidamente preparados pela participação na Semana Missionária. Amanhã estarei partindo para o Rio onde devo colaborar na Jornada com três catequeses seguidas da celebração eucarística nos dias 24, 25 e 26 de julho respectivamente. O tema central da JMJ “Ide e fazei discípulos entre as nações” será desenvolvido nas catequeses em três sub-temas: a)Sede de esperança, sede de Deus (dia 24); b) ser discípulos de Cristo (dia 25); c) ser missionários: “Ide” (dia 26).
a) “Sede de Esperança, sede de Deus”
A esperança constitui o dinamismo presente na raiz mais profunda de nosso ser. Ela é que nos lança para frente e nos coloca em atitude de busca. O jovem necessita de caminho, de perspectiva, de ideal e de possibilidade de concretizar seus sonhos. A esperança humana revela que o ser humano está em processo, sempre de novo voltado para o amanhã na expectativa de uma plenitude que responda à sua aspiração de ser feliz. Na verdade, essa esperança não pode cair no vazio. Cristo se apresentou como a resposta para a busca fundamental do coração humano quando disse: “Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida”. E mostrou, com pormenores e infinita sabedoria, como fazer o caminho, no sermão da Montanha( Mt 5,6 e 7).
b) “Ser discípulos de Cristo”
Ser discípulo é ter encontrado o caminho deixando-se guiar por Ele. Mais ainda: estabelecendo com Ele um profundo laço de amizade, alimentado na escuta de sua palavra e na participação da mesa de seu corpo e sangue, a Eucaristia. A Fé não é o resultado de um esforço pessoal, fruto do engenho humano. A Fé é encontro, cuja iniciativa parte do próprio Cristo que chama, que nos toca por dentro e solicita nossa resposta. A Fé é dom do Pai que, pelo Espírito Santo, nos revela Jesus como nosso Salvador e como resposta aos nossos mais profundos anseios. Tocados pela graça respondemos com plena liberdade ao chamado e entregamos nossa vida a Deus, aderindo a seu Filho, entrando na aliança com Ele para com Ele caminhar durante toda nossa vida de peregrinos. N’Ele, Cristo, conhecemos o Pai, fazemos a experiência de ser filhos, infinitamente amados, e n’Ele descobrimos nossa dignidade maior e o sentido definitivo de nossa vida. Cristo nos revela o mistério do Pai e de seu amor e nos revela nosso próprio mistério, abrindo-nos a estrada que nos conduz a plenitude da vida (Cf. GS 22). Ele é o Caminho: dá sentido à nossa esperança; Ele é a Verdade: sustentáculo de nossa Fé; Ele é a Vida: fonte inesgotável de amor-caridade. Sobre esse encontro com Cristo nos diz o Documento de Aparecida: “Conhecer Jesus é o melhor presente que qualquer pessoa pode receber; tê-lo encontrado foi o melhor que ocorreu em nossas vidas, e fazê-lo conhecido com nossa palavra e obras é nossa alegria”(DAp 29).
c)“Ser missionários: Ide”
        «Ai de mim se não anuncio o Evangelho!» (1Cor 9,16). Esta exclamação de São Paulo não é a expressão do medo de ser punido por desobedecer uma ordem imposta de fora. É, sim, a expressão de quem foi colhido por um amor tão grande que não comunicá-lo aos irmãos de humanidade seria uma monstruosidade. Mal comparando: imaginemos alguém que tivesse descoberto a cura do próprio câncer e, indiferente, não comunicasse aos outros tal descoberta. São Paulo entregou-se inteiramente à missão de evangelizar. Não é verdadeiro discípulo aquele que não vive em profunda união com Cristo, enraizando a vida n’Ele e d’Ele dando testemunho, fazendo-o conhecido por palavras e obras. A evangelização brota do amor-caridade, o amor de Deus derramado em nossos corações pelo dom do Espírito Santo. O jovem cristão, discípulo de Jesus, deve ter os mesmos sentimentos de Cristo diante do mundo. O anúncio de Cristo brota da experiência de ter sido salvo, de ter encontrado a resposta para a questão, a mais radical das questões: a questão do sentido da vida. O anúncio nasce da compaixão - aquela mesma que Jesus sentiu quando viu as multidões perdidas como ovelhas sem pastor - diante de uma imensa multidão de jovens que sofrem por não conhecerem o Caminho, por não serem possuídos pela Verdade e por não descortinarem os horizontes da Vida. Os jovens são chamados a serem apóstolos do Evangelho junto aos seus coetâneos: Devem cuidar sobretudo daqueles que sofrem, estão sós ou distantes de Deus. Trata-se de “sair de nós mesmos para levar Jesus às periferias do mundo e da existência”, como recentemente nos alertou o Papa Francisco. Convido a todos os cristãos de nossa Igreja Particular a se unirem ao Santo Padre, o Papa Francisco, e a todos os jovens do mundo, colocando-se em oração nesses dias da JMJ. Que nas paróquias e nas comunidades se façam orações especiais pela JMJ e se incentive, sobretudo os jovens, a acompanharem pelos meios de comunicação católicos os atos da Jornada
Dom Eduardo Benes de Sales Rodrigues
Artigo publicado no Jornal Diário de Sorocaba- 21.07.2013


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A Luz da Fé



A primeira encíclica do Pontificado do Papa Francisco - “A Luz da Fé”- foi preparada pelo Papa Bento, assumida com alguns acréscimos pelo papa Francisco, e seu objetivo vem assim descrito.

“Urge recuperar o caráter de luz que
 é próprio da fé, pois, quando a sua chama se apaga, todas as outras luzes acabam também por perder seu vigor... A fé nasce no encontro com o Deus vivo, que nos chama e revela o seu amor: um amor que nos precede e sobre o qual podemos apoiar-nos para construir solidamente a vida. Transformados por este amor, recebemos olhos novos e experimentamos que há nele uma grande promessa de plenitude e se nos abre a visão do futuro. A fé, que recebemos de Deus como dom sobrenatural, aparece-nos como luz para a estrada orientando os nossos passos no tempo. A fé provém do passado: é a luz duma memória fundante - a da vida de Jesus - onde o seu amor se manifestou digno de total confiança, capaz de vencer a morte. Mas, ao mesmo tempo, dado que Cristo ressuscitou e nos atrai de além da morte, a fé é luz que vem do futuro, que abre diante de nós horizontes grandes e nos conduz para além de nosso “eu” solitário abrindo-o para a plenitude da comunhão. Deste modo, compreendemos que a fé não mora na escuridão, mas é uma luz para as nossas trevas. Dante, na Divina Comédia... descreve a fé como uma «centelha que se expande em chama viva e, como estrela no céu, em mim cintila». É precisamente desta luz da fé que quero falar para que cresça para iluminar o presente até se tornar estrela que mostra os horizontes do nosso caminho, num tempo em que o homem está especialmente necessitado de luz.” (Lumen Fidei 14).

Dom Eduardo Benes de Sales Rodrigues
(Artigo publicado no Jornal Bom Dia - Sorocaba- 07.07.2013)


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Jesus encontra a sua mãe
(IV Estação da Via Sacra)



A piedade cristã, iluminada pela fé, coloca, no quadro da Via Sacra, Maria encontrando-se com Jesus no caminho do Calvário. Os evangelhos sinóticos não falam de Maria acompanhando Jesus. Referem-se a “muitas mulheres “olhando de longe” a sucessão dos fatos que culminaram na morte de Jesus e citam nominalmente Maria Madalena, Maria, mãe de Tiago e de José, e a mãe dos filhos de Zebedeu. ( Mt 27,55-56; Mac 15,40-41; Lc 23,49). São Lucas fala de “todos os seus amigos bem como as mulheres que o haviam acompanhado desde a Galileia”. Curioso que nenhum coloca Maria entre as mulheres que acompanhavam de longe. O evangelista João narra que “perto da cruz de Jesus, permaneciam de pé sua mãe, a irmã de sua mãe, Maria, mulher de Clopas e Maria Madalena (Jo 19,25). Maria, a mãe de Jesus estava, pois, perto. Acompanhou Jesus nos seus últimos e decisivos passos. Há um momento de aproximação da Mãe que, entretanto, não pôde abraçá-lo, pois os braços de Jesus enlaçavam a Cruz. No entanto, uma profunda comunicação se estabelece entre Jesus abraçado à Cruz e Maria que se aproxima. A partir daquele momento, muito mais que Cirineu, Maria carrega com Cristo nossa Cruz. Não temos notícias sobre onde estava Maria quando da prisão de Jesus. Certamente estava em Jerusalém, pois era a festa da páscoa. Terá ela acompanhado o julgamento de Jesus ainda que à distância? Penso que sim: discreta e dolorosamente. Como viveu Maria essa experiência? A resposta só pode ser esta: viveu-a na entrega da Fé. A Fé é a virtude teologal que nos coloca diretamente em comunhão com a verdade e a vontade de Deus. É uma vinculação profunda pela qual passamos a viver e a orientar nossa vida pela palavra de Deus que, pela ação do Espírito Santo, vai indicando os passos que devemos dar na concretude da história. A fé ganha vida em nossa vida pela virtude da Caridade que nos faz centrar com alegria nossa vida em Deus, abrindo mão de nossos projetos pessoais para fazer do projeto de Deus nossa razão de viver. Aqui importa observar que o projeto de Deus nos surpreende sempre de novo no curso da história.Maria, quando da anunciação, deu seu sim total à proposta de Deus de ser a mãe do Messias: “Eis aqui a escrava do Senhor, faça-se em mim segundo a tua palavra”. Esta entrega estava inundada de alegria pela presença do Espírito Santo, como aparece no encontro de Maria com Isabel: “Minha alma engrandece o Senhor e meu espírito exulta em Deus meu Salvador”(Lc 1,46). Mas no caminho haverá densas trevas: “quanto a ti, uma espada transpassará tua alma”, profetizou Simeão(Lc 2,35). Maria deverá, iluminada pelo Espírito Santo, acolher, mesmo sem compreender, com a mesma generosidade do dia da anunciação a vontade de Deus que se revelará nas palavras, nas decisões e no caminho de Jesus. São Lucas conta que Maria e José “não compreenderam a palavra que Ele lhes dissera”, quando, tomados de aflição, o encontraram no templo: “não sabíeis que devo estar na casa de meu Pai?” São Lucas observa logo adiante: “Sua mãe, porém, conservava a lembrança de todos esses fatos em seu coração.” (Cf. Lc 2, 4652). Mas é no evangelho de São João que vamos encontrar, no início da vida pública, o anúncio feito pelo próprio Cristo do pleno significado da maternidade de Maria que haveria de se consumar na Cruz. Foi nas bodas de Caná quando Jesus, diante da observação-súplica de Maria: “Eles não têm vinho”, responde: “o que a mim e a ti, mulher? Minha hora ainda não chegou”( Cf. Jo 2,1-11). O milagre das bodas de Caná anuncia o grande milagre das bodas do Filho de Deus com a humanidade, que ocorrerá quando Jesus entregar sua vida ao Pai em favor da humanidade. A Hora de Jesus é a Cruz, a hora de sua glorificação e de sua consagração sacrifical. A palavra de Jesus de forma interrogativa: “o que a mim e a ti, mulher?” é uma afirmação de que Maria está, por disposição divina, associada indissoluvelmente a Ele na obra da redenção. É como se Ele dissesse: “a mim o Pai deu a missão de salvar a humanidade e tu deves estar comigo quando chegar a minha hora”. E Maria estará de pé, ao pé da Cruz, vivendo na Fé o momento supremo da existência de Jesus. É quando sua maternidade se estende a todos os redimidos: “Mulher, eis aí teu filho” e “eis aí tua mãe”(Jo 19,25-27). Aqui se revela o significado maior do milagre das bodas de Caná. A quarta estação da Via Sacra explicita para nós que Maria, a Mãe de Jesus, faz com Jesus o caminho doloroso de nossa salvação carregando com Ele a cruz de nossos pecados e de nossas enfermidades, repetindo no coração: “eis aqui a escrava do Senhor, faça-se em mim segundo a tua palavra.” Viver da fé não é compreender tudo desde o início, mas é cultivar a certeza de que os acontecimentos que tecem nossa história, também os dolorosos, e a história do mundo são conduzidos pela bondade de Deus.

Dom Eduardo Benes de Sales Rodrigues
(Artigo publicado no Jornal Diário - 07.07.2013)





CNBB e novos desafios







Estivemos reunidos os bispos que compõem o Conselho Permanente da CNBB nos dias 19,20 e 21 deste mês de junho. O Conselho Permanente é constituído por bispos de todos os Regionais da CNBB, desde o Estado de Amazonas até o Rio Grande do sul.  A reunião transcorreu em clima de oração tendo como objeto de reflexão temas relativos à vida interna da Igreja e à sua missão dentro da sociedade. Dentre as questões relativas à vida interna da Igreja mereceu especial destaque a escolha do tema central da Assembleia da CNBB do próximo ano. Depois de muitas ponderações decidimos que devemos concluir a reflexão do mesmo tema deste ano: “Comunidade de comunidades: uma nova Paróquia”. Há em quase todas as dioceses um grande empenho em estudar o documento – instrumento de trabalho – publicado pela CNBB com o objetivo de oferecer sugestões para serem debatidas na assembléia do próximo ano. A missão dos fieis leigos na Igreja e no mundo deve ser objeto também de especial consideração da próxima assembléia devendo possivelmente, na assembléia de 2015, ser o tema central. Outras questões especificamente eclesiais: Jornada Mundial da Juventude, Diretório de Comunicação, Caritas brasileira, relatórios das atividades dos Regionais da CNBB.

                Dos temas relativos à vida da sociedade refletimos sobre várias questões: as manifestações de rua da juventude, a necessidade da criação de Associações de Famílias, Reforma Política, Código Penal, Conselho Nacional de Religiões no Brasil, conflito entre indígenas e proprietários de terra no Mato Grosso do Sul e coleta de assinaturas para a campanha “Saúde+10”. Sobre a Campanha “Saúde+10” até agora já foram auditadas 659 assinaturas colhidas pela CNBB e já foram coletadas pela Igreja e outras entidades mais 700 mil assinaturas não auditadas.

            As manifestações de rua nos últimos dias mereceram cuidadosa reflexão de nossa parte traduzida em nota da Presidência da CNBB publicada em seu Site no dia 21. Segue a nota, sob o título: “Ouvir o clamor que vem das ruas”

“Nós, bispos do Conselho Permanente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil-CNBB, reunidos em Brasília de 19 a 21 de junho, declaramos nossa solidariedade e apoio às manifestações, desde que pacíficas, que têm levado às ruas gente de todas as idades, sobretudo os jovens. Trata-se de um fenômeno que envolve o povo brasileiro e o desperta para uma nova consciência. Requerem atenção e discernimento a fim de que se identifiquem seus valores e limites, sempre em vista à construção da sociedade justa e fraterna que almejamos.Nascidas de maneira livre e espontânea a partir das redes sociais, as mobilizações questionam a todos nós e atestam que não é possível mais viver num país com tanta desigualdade. Sustentam-se na justa e necessária reivindicação de políticas públicas para todos. Gritam contra a corrupção, a impunidade e a falta de transparência na gestão pública. Denunciam a violência contra a juventude. São, ao mesmo tempo, testemunho de que a solução dos problemas por que passa o povo brasileiro só será possível com participação de todos. Fazem, assim, renascer a esperança quando gritam: “O Gigante acordou!”Numa sociedade em que as pessoas têm o seu direito negado sobre a condução da própria vida, a presença do povo nas ruas testemunha que é na prática de valores como a solidariedade e o serviço gratuito ao outro que encontramos o sentido do existir. A indiferença e o conformismo levam as pessoas, especialmente os jovens, a desistirem da vida e se constituem em obstáculo à transformação das estruturas que ferem de morte a dignidade humana. As manifestações destes dias mostram que os brasileiros não estão dormindo em “berço esplêndido”.O direito democrático a manifestações como estas deve ser sempre garantido pelo Estado. De todos espera-se o respeito à paz e à ordem. Nada justifica a violência, a destruição do patrimônio público e privado, o desrespeito e a agressão a pessoas e instituições, o cerceamento à liberdade de ir e vir, de pensar e agir diferente, que devem ser repudiados com veemência. Quando isso ocorre, negam-se os valores inerentes às manifestações, instalando-se uma incoerência corrosiva que leva ao descrédito. Sejam estas manifestações fortalecimento da participação popular nos destinos de nosso país e prenúncio de novos tempos para todos. Que o clamor do povo seja ouvido! Sobre todos invocamos a proteção de Nossa Senhora Aparecida e a bênção de Deus, que é justo e santo”.
Sobre a Reforma Política, cuja urgência urgentíssima se tornou agora ainda mais evidente, houve um consenso de que o primeiro passo - proposta do Movimento pró-reforma - será o financiamento público exclusivo de campanhas, que deverá ser acompanhado de outras medidas necessárias para uma Reforma Política à altura do clamor vindo das ruas.
Outras informações o leitor poderá obter na seção “Notícias” do site da CNBB.

Dom Eduardo Benes de Sales Rodrigues
Artigo publicado no Jornal Diário de Sorocaba-23/06/2013


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Liberdade e Fé
Dom Eduardo Benes de Sales Rodrigues
Artigo publicado no Jornal Bom Dia - 16.06.2013



Liberdade é fundamentalmente a capacidade de decidir-se por um projeto de vida e de realizá-lo na sucessão de decisões que tecem nossa história. Há quem pense que a liberdade fica prejudicada quando a pessoa se decide por um caminho e escolhe entre várias alternativas. Perder-se-ia a liberdade ao escolher. Pelo contrário, quando escolhemos exercemos nossa liberdade, definimos o que queremos da vida, damo-nos um rosto, uma identidade. Há escolhas fundamentais que nos situam de forma definitiva na história, como por. ex., casar-se, seguir uma vocação. Na verdade quem não encontra aquela realidade pela qual esteja disposto a dar a vida, jamais realizará o sentido da própria liberdade. A fé - falo da compreensão cristã da fé – é a mais radical das decisões, na qual jogamos toda a nossa vida. É tão radical que, sem a ação do Espírito Santo, na mente e no coração da pessoa, ninguém a faz. Esta é a razão por que não significa ter fé alguém dizer que crê em Deus sem a experiência de deixar-se conduzir por sua palavra. Mas...onde encontrar Deus? Se não está em meu poder apossar-me d’Ele, só posso encontrá-lo se Ele vier ao meu encontro. E Ele veio, fez-se próximo e quer-nos reunidos em comunidade, pois é projeto seu que a humanidade se unifique na justiça e no amor. A fé nos une. Uma fé vaga, perdida na solidão do sujeito, não partilhada, é uma triste fé. Mero sonho, um devaneio. Há quem confesse uma fé assim: desencarnada, gasosa. Crê em um Deus sem rosto, que não entra na vida. E há os que querem banir Deus da história. Mas...o Verbo se fez carne e habitou entre nós.
Dom Eduardo Benes de Sales - Artigo do Jornal Bom Dia - 16.06.2013



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Jesus cai sob o peso da Cruz
Dom Eduardo Benes de Sales Rodrigues
Artigo publicado no Jornal Diário de Sorocaba-16/06/2103



“Se alguém quer vir após mim, renuncie-se a si mesmo, tome sua cruz cada dia, e siga-me”( Lc 923). O discípulo segue os passos de Jesus. A cruz do discípulo é sua própria existência entendida como dom e como tarefa, como missão. É preciso abraçar com mãos fortes essa cruz e colocar-se a caminho com “o olhar fixo em Jesus” (Cf. Heb 12,2). A cruz de madeira sobre os ombros de Jesus é o desfecho do mistério do rebaixamento do Filho de Deus que, ao entrar no mundo disse: “...Holocaustos e sacrifícios pelo pecado não foram do teu agrado. Por isso eu digo: eis-me aqui - no rolo do livro está escrito a meu respeito - eu vim, ó Deus, para fazer a tua vontade”(Hb 10,5-7). O mesmo afirmou Paulo na carta aos Filipenses (2,6-8): “Ele tinha a condição divina e não considerou o ser igual a Deus como algo a que se apegar ciosamente. Mas esvaziou-se a si mesmo e assumiu a condição de servo, tomando a semelhança humana. E achado em figura de homem, humilhou-se  e foi obediente até a morte, e morte de cruz!” A piedade cristã, com profundo realismo, construiu e exercício da Via Sacra e introduziu no caminho para o calvário as três quedas de Jesus. Jesus, mal começa a dar os primeiros passos, depois de duramente castigado na flagelação, sucumbe sob o peso da cruz. Com uma das mãos segura a cruz e com a outra posta sobre o chão procura reerguer-se depois de ter beijado o pó da terra. Muitos são os olhares que o comtemplam: primeiro estendido no chão, depois tentanto se levantar. Bem perto os olhares dos soldados, acostumados ao horror desse castigo, alguns indiferentes, outros agressivos e impiedosos, alguns talvez tomados de compaixão; um pouco mais afastados outros, curiosos, também olhavam, sem maiores emoções, a cena tantas vezes repetida quando da condenação de insurgentes contra a dominação romana;  e havia as discípulas, mulheres piedosas que, banhadas em lágrimas, eram impedidas pelos soldados de socorrer Jesus. Jesus deveu se levantar sozinho, abraçado à cruz.
Diante dessa cena somos convidados a meditar sobre a soberba, primeiro pecado capital, raiz-fonte de todo pecado. A soberba se manifesta assim: não devo obediência a ninguém, sou  deus. Faço de minha vida o que quero. Não há limites para meus desejos, estou livre do jugo de um Deus que não admite rivais”. Foi esta a insinuação da Serpente no paraiso: ”Deus sabe que, no dia em que comerdes da árvore – do conhecimento do bem e do mal – vossos olhos se abrirão, e sereis como Deus, conhecedores do bem e do mal( Gn 3,5). A soberba leva o ser humano a pensar e agir como se Deus não existisse e como se outro critério de valor não existisse senão os próprios interesses:  “Não há ninguém acima de mim a quem eu deva obediência. Minha vontade e minha liberdade são o absoluto”. Ao orgulho do ser humano Deus responde com a humildade de seu Filho Jesus: “fez-se obediente até à morte e morte de Cruz”. A primeira queda de Jesus nos convida a a descer de nosso orgulho e da nossa pretensão de traçar nossos caminhos sem ouvir Deus. Há na história os caidos, vítimas da soberba humana. No século passado o desejo de dominar o mundo produziu as vítimas do nazismo. A pretensào de constrtuir o paraiso na terra, negando Deus, - lembremo-nos da afirmativa de Marx: “A crítica da religião leva à doutrina de que o homem é para o homem o ser supremo” – sacrificou milhares de vidas humanas. Em nosso século, até mesmo em nome da religião, a soberba humana continua a fazer suas vítimas, em guerras inúteis e em atentados terroristas que só semeiam mais ódio. Paulo, talvez o mais religioso dos fariseus de seu tempo, em nome de Deus, perseguia cristãos, devastando a Igreja. Sua queda foi sua salvação. Jesus, perseguido nos cristãos, se manifesta  a ele, que “caindo por terra, ouviu uma voz que lhe dizia: Saulo, Saulo, por que me persegues?”(At 9,4). Cair do pedestal de certezas falsas que nos levam a perseguir ou a desconsiderar os irmãos de humanidade é o começo da salvação. Nesta primeira queda de Jesus reconheçamos o peso quase infinito da soberba humana, que tem também raizes em nosso coração. A luta pelo poder produz a queda de irmãos. Isso se verifica tanto na disputa de cargos importantes no coração da sociedade e das instituições de que fazemos parte bem como na vida cotidiana: na família e na profissão. Longe de buscar a queda de nosso próximo, ao contemplar Jesus em sua primeira queda, peçamos a graça da humildade para descermos de nossos tronos para irmanar-nos sobretudo com os que mais precisam de nossa presença:os caidos, vítimas da soberba humana. Maria, na visita a Isabel, louvando a Deus, proclamou que “Ele dispersou os soberbos”, “depôs do trono os poderosos e exaltou os humildes”(Lc 1,31-32). Diante da primeira queda de Jesus peçamos a Ele que nos faça cair de nossa soberba e vaidade para, com os humildes da terra, servir obedientemente ao Pai e aos irmãos. E lembre-se, leitor(a) amigo(a),Deus nos faz cair de nossos tronos por misericórdia, para que acordemos para a verdade que salva, Deus nos derruba de nossas falsas e pecaminosas seguranças. E só então nos voltamos para Ele.

                                            Dom Eduardo Benes de Sales Rodrigues




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Jesus restaura


Prezado(a) leitor(a) chama-nos a atenção a onda avassaladora que pretende varrer da cultura os valores cristãos em nome de uma liberdade sem limites. O “gaysmo” não só ganha as praças públicas como conta com a presença de autoridades públicas que mostram apoio às suas propostas para ganhar votos. A prostituição feminina está a ponto de ser promovida a fonte de felicidade e há quem queira defini-la como profissão. Haverá escolas para ensinar sua ciência e suas técnicas? Jesus foi duro com o fariseu que, diante da mulher que chorava sua desventura prostrada aos pés de Jesus, pensou: “Se este homem fosse profeta, saberia bem quem é a mulher que o toca, porque é uma pecadora”.Jesus, intuindo seus pensamentos, disse-lhe que ela, a prostituta, lhe tinha demonstrado mais amor do que ele tão zeloso em cumprir a lei. E disse à mulher: “Teus pecados estão perdoados”. E acrescentou: “Tua fé te salvou; vai em paz”(Cf. Lc7,36-50). Ele sabia do vazio que morava no coração daquela mulher. São João narra, em seu evangelho, o encontro de Jesus com a samaritana, a mulher que já estava no séxto marido e que em nenhum deles havia encontrado o amor de que tanta sede tinha. Jesus é o sétimo Homem de sua vida cujo olhar ela desposou para sempre, porque o olhar de Jesus devolveu-lhe a dignidade perdida (Cf.Jo 4,7-42). Ao farisaísmo que despreza os pecadores emerge na cultura um substituto que pretende impor a nós, pobres pecadores, que nossos vícios e pecados não são tais e que, ao invés de procurarmos remédio para eles, devemos antes exibi-los como direitos sagrados. E isto querem ensinar às novas gerações!

Dom Eduardo Benes de Sales Rodrigues
artigo publicado no Jornal Bom Dia -  09.06.2013 Sorocaba-SP




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Vem, Espírito Santo, vem!



Celebramos hoje o domingo de Pentecostes. No quinquagésimo dia depois da Páscoa, no contexto da festa judaica de pentecostes, que reunia judeus e prosélitos de toda a parte, o Espírito Santo, prometido por Jesus, manifestou-se poderosamente nos apóstolos, que imediatamente começaram a dar testemunho de Cristo. Há uma passagem do evangelho de São João à qual o Papa João Paulo II deu especial atenção na segunda parte de sua encíclica sobre o Espírito Santo, “Dominum et Vivificantem” – “Senhor que dá a vida”. Nessa passagem Jesus, ao anunciar a vinda do Espírito Santo, afirma: «E Ele, quando vier, convencerá o mundo quanto ao pecado, quanto à justiça e quanto ao juízo». João Paulo II discorre sobre esta passagem a partir da própria explicação de Jesus: “Quanto ao pecado, porque não crêem em mim; quanto à justiça, porque eu vou para o Pai e não me vereis mais; e quanto ao juízo, porque o príncipe deste mundo já está julgado». Sendo o Espírito da Verdade, o Espírito Santo fará tomar consciência do pecado que consistiu em rejeitar Jesus e, ao mesmo tempo, revelará que Jesus era justo sendo aceito e glorificado pelo Pai, e que, por essa razão o príncipe desse mundo, o inimigo de Deus e do ser humano, está derrotado. E João Paulo II concentra sua reflexão no “convencer sobre o pecado”, mostrando que essa ação do Espírito tem como meta a salvação. Para tal, retoma a primeira pregação de Pedro que, ao proclamar Jesus Ressuscitado, “que vós crucificastes”, suscita no coração dos ouvintes um profundo sentimento de arrependimento e os faz perguntar: «que havemos de fazer, irmãos?» O mesmo São Pedro respondeu-lhes: «Convertei-vos e peça cada um o Batismo em nome de Jesus Cristo, para a remissão dos seus pecados; recebereis, então, o dom do Espírito Santo». Convencer sobre o pecado é, pois, efeito da ação do Espírito naquele que é tocado pelo querigma. Isto que foi evidente para os que ouviram Pedro anunciar Jesus, “que vós crucificastes”, é também o que acontece conosco quando ouvimos a Palavra de Deus e nos colocamos diante dela com humildade e abertura de coração. Cremos que Jesus foi crucificado por nós em duplo sentido: a) nossos pecados são a causa de seus sofrimentos; b) Ele morreu por nós, em nosso favor, oferecendo-se ao Pai pela nossa salvação. É preciso ter a inteligência e o coração iluminados pelo Espírito Santo para compreender que, quando fazemos o mal ao próximo e a nós mesmos, desobedecendo a Deus, estamos crucificando Jesus. Dizendo de outra forma: quando Jesus sofria a paixão e morte lá estavam todos os pecados e enfermidades da humanidade em todo o seu percurso histórico, do início ao fim do mundo. A pessoa que trouxer no coração uma boa dose de solidariedade humana poderá compreender esse mistério de infinita solidariedade de alguém que de tal modo teve seu coração humano dilatado que foi capaz de abrigar em seu interior toda a dor da humanidade, assumindo todas as suas misérias. As pessoas capazes de compaixão diante de uma humanidade desfigurada pelo mal poderão entender um pouco a compaixão de Deus que enviou o Filho ao mundo, não para condená-lo, mas para salvá-lo. Poderão inclusive, iluminadas pelo Espírito, compreender a palavra de Jesus do cimo da Cruz: “Pai, Perdoai-lhes porque não sabem o que fazem”.
Meditemos mais um pouco sobre o que significa convencer o mundo sobre o pecado. Nosso mundo é especialmente avesso à ideia de pecado. Há uma exaltação da liberdade humana que acaba por tornar as pessoas escravas de si mesmas, vítimas dos movimentos espontâneos de suas paixões e de seus desequilíbrios, agora entendidos como naturais e fonte de direitos. O conceito de pecado está banido de uma cultura que cada vez mais apela para a laicidade do Estado e se coloca contra qualquer tentativa de propor normas morais, erroneamente interpretadas como preceitos meramente religiosos. A permissividade e a exaltação da “farra”, em nome da liberdade e do direito de ser feliz, ganharam enorme espaço na vida da sociedade. Os psicólogos com freqüência alertam para a falta de limites na educação das crianças. A noção de limites está banida desta “cultura” despejada todos os dias sobre nosso povo. A lista de disparates éticos e pedagógicos que invadem a cultura atual é quase infinda.
No meio de tudo isso, entretanto, podemos verificar a ação do Espírito Santo, nas inúmeras conversões que acontecem pela pregação do evangelho. Como é reconfortador ver a juventude cristã se reunindo para orar e buscar força na palavra de Deus e nos sacramentos para amadurecer na prática do bem e no empenho em construir um mundo melhor. Reconhecer-se pecador, convencer-se sobre o próprio pecado é graça do Espírito Santo. Devemos pedir essa graça para nós mesmos e para os outros certos de que, sem o reconhecimento de nossos erros, não poderemos jamais acertar com o caminho da verdadeira felicidade. Oxalá toda a sociedade seja iluminada pelo Espírito Santo e a cultura de Pentecostes se faça presente na vida de nosso mundo!

Dom Eduardo Benes de Sales Rodrigues 
Artigo Publicado no Diário de Sorocaba - 19.05.2013

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Creio no Espírito Santo

Na sua última audiência o Papa Francisco falou-nos do Espírito Santo.
Seguem dois trechos de sua fala:
“O Espírito Santo é o dom de Cristo Ressuscitado, que nos faz reconhecer a Verdade. Jesus o define como o ‘Paráclito’, isto é, ‘aquele que vem em nosso auxílio’, que está ao nosso lado para sustentar-nos nesse caminho de conhecimento; e, durante a Última Ceia, Jesus garante aos discípulos que o Espírito Santo ensinará todas as coisas, recordando-lhes suas palavras’(cf. Jo 14,26).
 “Caros irmãos(ãs),temos necessidade de deixar-nos inundar pela luz do Espírito Santo., para que Ele nos introduza na Verdade de Deus, que é o único Senhor de nossa vida. Neste Ano da Fé perguntemo-nos se concretamente temos dado algum passo para conhecer mais Cristo e as verdades da fé, lendo e meditando a sagrada Escritura, estudando o Catecismo, aproximando-nos com assiduidade dos sacramentos. Mas perguntemo-nos também quais os passos que estamos dando para que a fé oriente toda a nossa existência. Não se é cristão apenas em alguns momentos, em algumas circunstâncias, em algumas decisões. Não se pode ser cristão dessa forma, deve-se ser cristão em cada momento! Totalmente! A verdade de Cristo, que o Espírito Santo nos ensina e nos doa, interessa para sempre e totalmente à nossa vida cotidiana. Invoquemo-lo com mais frequência, para que nos guie no caminho dos discípulos de Cristo. Invoquemo-lo todos os dias. Faço-vos esta proposta: invoquemos todos os dias o Espírito Santo e assim o Espírito santo nos aproximará de Jesus Cristo.”

Dom Eduardo Benes de Sales Rodrigues
Artigo Publicado no Jornal Bom Dia - 19.05.2013

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Reduzir a maioridade penal?


“Essas decisões não servem para nada. A única coisa que funciona são políticas integrais...Medellin chegou a ter 300 mortes por 100.000 habitantes...É dez vezes a taxa do Brasil. Saímos por meio de trabalho social, tratamento integral. As empresas da cidade criaram fundações para levar educação e saúde aos meninos. É possível transformar um assassino de 14 anos num bom cidadão se a sociedade se mobiliza para fazê-lo. Esses problemas não mudam com leis, mudam quando a sociedade decide resolver. É o que as pessoas do Rio e de São Paulo têm de fazer. Se todas as empresas se dedicarem, verão como esses meninos sairão da violência. Dói em mim ver o que está acontecendo no Brasil, pensando em soluções tão contra-indicadas e alheias ao que está acontecendo.”(Cesar Gaviria, ex-presidente colombiano e membro da Comissão Latino-Americana sobre Drogas e Democracia na Folha de São Paulo, 6 de maio de 2013).

Sobre o assunto destaco o seguinte trecho da Declaração sobre o tema da última assembléia da CNBB:

“O Senado volta a discutir a redução da maioridade penal com argumentos que poderiam ser usados também para idades menores ainda, como se esta fosse a solução para a diminuição da violência e da impunidade. A realidade revela que crianças, adolescentes e jovens são vítimas da violência. Muitas vezes são conduzidos aos caminhos da criminalidade por adultos inescrupulosos.

A CNBB entende que a proposta de redução da maioridade penal não soluciona o problema.”


DOM Eduardo Benes de Sales Rodrigues

(Artigo publicado no Jornal Bom Dia - Sorocaba-SP - 12.05.2013)





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Jesus abraça a Cruz


As mãos do carpinteiro de Nazaré, o Filho de Deus, envolvem, em terno e decidido abraço, a cruz da humanidade. As algemas que lhe atavam as mãos lhe foram retiradas. Pilatos acabara de entregá-lo para ser crucificado: “tomaram eles então a Jesus. E Ele saiu carregando a sua cruz...”(Jo 19,16-17). A “sua cruz” outra não era que a cruz da humanidade: a minha, a sua cruz, caro (a) leitor(a). Trazemos plantada no mais profundo de nossa alma a cruz, símbolo da maldição, que pela desobediência se abateu sobre a humanidade ( Gl 3, 13; II Cor 5,21). A Cruz que Cristo abraça é a nossa. A Morte entrou no mundo pelo pecado (cf. Rom 5,12). Privados do amor de Deus tornamo-nos incapazes de amar-nos a nós mesmos, aos irmãos de humanidade e ao próprio Deus. O Vat. II assim descreve essa condição: “Estabelecido por Deus num estado de santidade, o homem, seduzido pelo maligno, logo no começo da sua história abusou da própria liberdade, levantando-se contra Deus e desejando alcançar o seu fim fora d'Ele. Tendo conhecido a Deus, não lhe prestou a glória a Ele devida, mas o seu coração insensato obscureceu-se e ele serviu à criatura, preferindo-a ao Criador. E isto que a revelação divina nos dá a conhecer, concorda com os dados da experiência. Quando o homem olha para dentro do próprio coração, descobre-se inclinado também para o mal, e imerso em muitos males, que não podem provir de seu Criador, que é bom. Muitas vezes, recusando reconhecer Deus como seu princípio, perturbou também a devida orientação para o fim último e, ao mesmo tempo, toda a sua ordenação quer para si mesmo, quer para os demais homens e para toda a criação.”(GS 13). A cruz, sem Cristo, símbolo da morte e da maldição, nos causa pavor. Fugimos de nós mesmos por não suportarmos a solidão, experimentamos uma imensa dificuldade em aceitar nosso próprio ser, por isso partimos para fora na ânsia de encontrar resposta para nossas desarmonias interiores. Muitas vezes a existência nos parece absurda e sem sentido. Perguntamo-nos com frequência sobre a razão por que trazemos dentro de nós tantos desequilíbrios e tantas dificuldades de conviver com os outros. E quando a doença ou os sofrimentos, que se abatem sobre nós e sobre o mundo, se tornam especialmente difíceis chegamos mesmo a nos perguntar se viver vale a pena. Não é verdade que frequentemente a existência nos parece um castigo? Os mitos gregos de Prometeu acorrentado e de Sísifo tentando por tempos infindos levar até o cimo do monte uma grande pedra, que sempre lhe escapa e rola montanha abaixo, exprimem bem esta sensação de uma existência marcada pela culpa e pela angústia da ineficácia de qualquer empenho em lhe dar algum sentido. A Constituição Pastoral “Gaudium et Spes” do Vat. II (n. 13) assim continua a descrever a condição humana sob o domnínio do pecado:
“O homem encontra-se, pois, dividido em si mesmo. E assim, toda a vida humana, quer singular quer coletiva, apresenta-se como uma luta dramática entre o bem e o mal, entre a luz e as trevas. Mais: o homem descobre-se incapaz de repelir por si mesmo as arremetidas do inimigo: cada um sente-se como que preso com cadeias”. E acrescenta: “Mas o Senhor em pessoa veio para libertar e fortalecer o homem, renovando-o interiormente e lançando fora o príncipe deste mundo (cf. Jo. 12,31), que o mantinha na servidão do pecado. Porque o pecado diminui o homem, impedindo-o de atingir a sua plena realização”. Jesus abraça a Cruz com imenso amor. Nesse abraço ele entra em profunda comunhão conosco, toma-nos em seus braços, toma-nos, com nossos pecados e nossas enfermidades, para conduzir-nos ao cimo do monte e morrer da morte devida aos pecadores. Isaias havia profetizado: “o castigo que teríamos que pagar caiu sobre ele”(Is 53,5) e, mais adiante: “Ele, porém, estava carregando os pecados da multidão e intercedendo pelos criminosos”(Is 52,12). Irmão(ã), sinta que cruz que Ele abraça é a cruz que está dentro de você. Melhor ainda: é você mesmo com sua solidão e suas dores. Deixe-se abraçar por Ele e, com Ele, acolha-se a si mesmo, deixe-se perdoar por Ele, deixe-se reconciliar com Deus, consigo mesmo e com o mundo. Tome em suas mãos, com alegria, sua existência e sua missão e caminhe com Jesus até o fim. Não arraste rancorosamente sua cruz, sua vida, abrace-a. Não há outra forma de ser feliz senão esta: acolher com gratidão o dom da vida e fazer dela uma vida oferecida. Escute o que Ele disse:”Se alguém quer vir após mim, renuncie-se a si mesmo, tome sua cruz cada dia, e siga-me”( Lc 923). De maldição sua cruz se tornará uma bênção.


Dom Eduardo Benes de Sales Rodrigues
Artigo publicado no Diário de Sorocaba - 05.05.2013


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A verdade ultrajada

A pergunta de Pilatos diante de Jesus algemado sobre o “que é a verdade” coloca uma questão de vital importância para a vida da sociedade.
Existe a Verdade à qual o ser humano deva se entregar para ser plenamente humano
? Ou, pelo contrário, a grandeza do ser humano está na liberdade de poder decidir sobre o bem e o mal de acordo com seu próprio interesse? O bom senso nos diz que sem um mínimo de consenso sobre os valores que devem presidir a vida em sociedade não é possível haver justiça e paz. Mas como encontrar esse consenso se não há uma verdade maior que por si mesma se imponha à consciência humana? Uma propaganda bem montada pode induzir a decisões que aparentam atender ao bem comum, quando simplesmente atendem a interesses de grupos. É o que vem acontecendo recentemente: uma inteligência anônima(?) articulou uma insinuante propaganda a favor do “casamento” entre homossexuais, inclusive com a adoção de filhos. E tudo é apresentando tão lindo, que até parece que a união de homossexuais supera em beleza o matrimônio. Em programa televisivo, assim meio de passagem, o repórter afirmou que uma mancha já desfigura a pessoa do Papa Francisco, por ser ele contrário a uma legislação que venha a equiparar as uniões homossexuais ao matrimônio. Se não existe um Deus Criador, não existe também uma verdade objetiva à qual os seres humanos devam aderir incondicionalmente. Cada um cria sua verdade. Mas... ainda assim: pão é pão e pedra é pedra. Não há lei humana que possa abolir a verdade das coisas.
Dom Eduardo Benes de Sales Rodrigues
Jornal Bom Dia - Sorocaba - domingo - 05.05.2013


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A Renovação da Paróquia
A 51ª. Assembleia da CNBB teve este Tema no centro de sua atenção:“Comunidade de comunidades: Uma Nova Paróquia”. O texto de estudos foi apresentado e discutido. Deve sofrer algumas modificações e ser aprovado na Assembléia do próximo ano.  Logo na Introdução é ressaltada a importância da renovação da paróquia conforme  orientação da Quinta Conferência do CELAM, realizada em Aparecida: “Ser Discípulo e Missionário de Jesus Cristo, para que nele nossos povos tenham vida.”  E afirma: “Tendo em vista esta renovação, o documento indica explicitamente a necessidade de uma conversão pastoral (DAp 370). Toda conversão supõe um processo de transformação permanente e integral, o que implica no abandono de um caminho e a escolha de outro. Neste momento da história somos convidados a ‘ultrapassar uma pastoral de mera conservação ou manutenção para assumir uma pastoral decididamente missionária’”( DAp 26).
A Paróquia tem um lugar fundamental nessa renovação como afirma o Documento de Aparecida: As paróquias “são células vivas da Igreja e o lugar privilegiado no qual a maioria dos fieis tem uma experiência concreta de Cristo e da comunhão eclesial. São chamadas a ser casa e escolas de comunhão”(DAp 170). Entretanto, constata-se a necessidade de uma urgente renovação e reformulação de suas estruturas para que sejam rede de comunidades e grupos, capazes de propiciar a seus membros uma real experiência de comunhão com Cristo(Cf. DGAE 100)
O texto da CNBB, em discussão, sujeito a alterações para aperfeiçoamento, está estruturado em quatro capítulos, além da Introdução e das considerações finais: I. Perspectiva Bíblica; II. Perspectiva Teológica; III Novos Contextos: desafios à paróquia; IV. Perspectivas pastorais.
Lendo o documento,  podemos observar que, no que se refere às perspectivas pastorais (Cap. IV), o texto recolhe e organiza tudo o que se tem refletido nesses últimos anos sobre os caminhos da renovação na Igreja para que a evangelização aconteça de forma consistente atingindo todos os destinatários. Insiste em: 1. Recuperar as bases da comunidade cristã: viver da Palavra, da Eucaristia e na Caridade; 2. A Comunidade de comunidades: setorização, integração de movimentos e grupos, revitalização da comunidade: 3. Conversão pastoral: conversão dos ministros da comunidade e protagonismo dos cristãos leigos; 4.Transformar as estruturas; 5. A transmissão da Fé: novas linguagens. A seguir vêm as proposições: a) Criatividade; b) Pequenas comunidades; c) Ministérios leigos; d) Formação: e) Catequese de Iniciação; f) Jovens; g) :Liturgia: h) A caridade) i) Perdão e acolhida.
Como podem observar, muitas dessas propostas já começam a ser faladas e mesmo a tomar corpo em nossas paróquias. A Iniciação à Vida Cristã, de modo especial, tem sido objeto de reflexão de nossa Igreja Particular. Estamos vivendo o Ano da Fé e empenhados em um grande esforço de renovação catequética. No dia 6 de outubro próximo teremos a conclusão do caminho - sínodo catequético - que estamos fazendo, esclarecendo e ouvindo todos os setores de nossa organização pastoral. Intensifiquemos nossas orações pelo sucesso espiritual de pastoral de nosso Sínodo.
 O Texto da CNBB deve ser estudado até a próxima assembléia para receber emendas e ser aprovado pelo plenário. Peço a todos os párocos que estudem esse texto, se possível com seus conselhos, e mandem-me sugestões e descrições de experiências novas para que eu as remeta à comissão encarregada de reelaborar o texto a ser aprovado na próxima assembléia da CNBB.
O estudo desse texto será também uma excelente oportunidade de reflexão e de catequese sobre a Igreja para todos nós.
Que Nossa Senhora da Ponte nos acompanhe nesse caminho!


   
 Dom Eduardo Benes de Sales Rodrigues

 (Jornal Terceiro Milênio - Maio 2013)



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A Verdade algemada e as mãos omissas





Pilatos, interrogando Jesus, pergunta-lhe: “Então, tu és rei”. Jesus responde dizendo que é exatamente esta a razão de sua vinda ao mundo: “para isto nasci e para isto vim ao mundo: para dar testemunho da verdade. Quem é da verdade escuta a minha voz”. Ao que Pilatos solta no ar uma pergunta: “Que é a verdade?”(cf. Jo 18,37-38) . E continua a interrogar Jesus,manda flagelá-lo e, por fim, cede à pressão dos dirigentes judeus e, depois de lavar as mãos(Mt 27,24) entrega-o para ser crucificado. A pergunta sobre a verdade, na boca de Pilatos, pode revelar uma inquietação profunda, mas pode também traduzir uma atitude de espírito de quem desconhece qualquer realidade à qual deva o ser humano se submeter. O que pode ser dito assim: eu decido sobre o que é a verdade. A verdade é o meu desejo, aquilo que cai dentro do universo de minhas preferências ou de meu projeto de poder. Quando o Papa Bento XVI nos advertia sobre a ditadura do relativismo ele estava denunciando exatamente essa atitude de espírito que nega existir uma verdade para além da liberdade humana à qual devamos dar nossa total e irrevogável adesão. Mas... que é a verdade? A verdade existe? Por que nos fazemos essa pergunta? De onde ela brota? O que significa ter sede da verdade? O ser humano procura aquela realidade na qual possa alicerçar sua vida. A experiência da finitude, do limite, o medo do vazio, do nada, torna inevitável a pergunta: existe uma realidade na qual ancorar a própria vida? Ou tudo é fluido, a existência não passa de um processo de esvaziamento que, por fim, é engolida pelo nada da morte? Quando nos perguntamos pela verdade estamos à procura de uma realidade que tenha em si mesma tal densidade de ser que seja capaz de oferecer consistência à nossa vida e responder ao nosso anseio de vida plena. A verdade, portanto, não pode ser um conceito ou simplesmente uma doutrina; a verdade que buscamos deve ter existência objetiva, à semelhança de um imenso rochedo no qual amarrássemos nossa vida. A verdade que buscamos deve ser tal que possa emprestar-nos sua consistência de ser de modo que pudéssemos superar a própria morte. Que experiência dolorosa aquela de quem afirma desolado: “não creio em mais nada”. É que a verdade nos pede entrega. E o que mais desejamos é ter a quem entregar a própria vida. Quem encontrou a Verdade não inventa mais suas “verdades” de acordo com seus interesses ou com suas fraquezas, mas é capaz de sacrificar-se para se manter fiel à Verdade. A Verdade nos comunica a Vida. Como estamos em história, o encontro com a Verdade e viver da Verdade é um processo que exige abandonar as próprias “verdades’ para aderir à Verdade que se manifestou em nossa vida. Viver é caminhar na esperança-certeza de chegar à plenitude da Verdade, quando dela receberemos a Plenitude da Vida. Quando Pilatos soltou, talvez sem pensar, a pergunta: “Que é a verdade”, ele estava diante daquele que havia afirmado: “Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida”(Jo 14,6). Jesus disse essa palavra quando falava de sua volta para o Pai, respondendo à pergunta de Tomé: “Senhor, não sabemos para onde vais. Como podemos conhecer o caminho?”(Jo 14,5). Jesus é o Caminho que nos conserva ancorados na Verdade e nos conduz à Vida. Pois, bem , caro(a) leitor(a), a fé cristã nos garante que existe a Verdade – aquela realidade maior de infinita consistência – e que buscá-la sempre de novo é o que dá sentido à nossa vida.  A Verdade é Deus e Deus é Amor. Deus amou de tal modo o mundo que lhe deu seu filho único. A Verdade veio para o meio de nós. Permanecer na verdade, caminhar na verdade é  guardar a palavra de Jesus. Sua Palavra sobre o caminho a fazer é esta: “amai-vos uns aos outros como eu vos amei”. Temos, pois, um critério sobre a forma de estar na Verdade: amar como Ele amou. Foi o que Pilatos não fez. Omitiu-se: lavou as mãos. A verdade, para Pilatos é aquilo que a multidão, manipulada pelos seus líderes,  deseja: a morte de Jesus. A covardia, o apego ao poder, o medo de desagradar e perder a popularidade, ou, até mesmo, o simples comodismo podem fazer-nos lavar as mãos e impedir a Verdade de se manifestar no mundo.
Lance o(a) leitor(a) um olhar sobre o que acontece em nosso mundo  e verificará a verdade algemada em leis iníquas e em comportamentos destrutivos. Constatará ainda que o número dos que lavam as mãos é tão grande quanto o daqueles que aprisionam a verdade (Cf. Rom 1,18). Aqui, caro(a) leitor(a), cabe um exame de consciência que pode assim ser introduzido: Cada um de nós tem um lugar no mundo - o estado de vida , a profissão -, que nos faz responsáveis pelo que acontece na vida da sociedade. 
A pergunta é esta: 
Damos testemunho da verdade ou lavamos as mãos com Pilatos?


Dom Eduardo Benes de Sales Rodrigues
Arcebispo de Sorocaba-SP
Artigo publicado no Diário de Sorocaba - 28.04.2013

                                                                                    







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Jesus ressuscitado não apareceu para sua mãe

Chama-nos a atenção o fato de Maria não correr ao túmulo de Jesus na manhã do domingo e o fato de Jesus não aparecer para ela, sua mãe. É que Maria viveu intensamente a paixão, morte de Jesus. 

Quando Jesus ressuscita ela experimenta com Ele a vitória sobre o pecado e sobre a morte, naquele mesmo instante. 

Há, pois, um momento, no apagar-se do sábado judaico, que emerge, em Maria, das profundezas abissais de seu ser, uma luz de imensurável intensidade que lhe inunda de inenarrável alegria sua alma, com um júbilo ainda maior do que o experimentado quando da encarnação do Verbo, no dia da anunciação.

Maria, que estivera unida a Jesus em sua viagem ao centro da terra, vive em sua alma sua ressurreição gloriosa, a vitória sobre o pecado e sobre a morte. Vão ao sepulcro as pessoas que tinham a certeza de que tudo tinha se acabado.

Jesus pacientemente se revela a essas pessoas, aparecendo-lhes várias vezes. Mas será a vinda do Espírito Santo que lhes comunicará a convicção, a experiência do ressuscitado.

Maria, sempre repleta do Espírito, não foi ao sepulcro e não precisou das aparições. Ela estava unida com Jesus também no sábado e experimentou com Ele a alegria da vitória definitiva. Por mais algum tempo permaneceu junto da Igreja nascente até que esta pequenina Igreja se firmasse no coração do mundo. Depois, como o ressuscitado, Maria mergulhou de corpo e alma no mistério de Deus.

Os que vão para Deus não se tornam mais distantes, pelo contrário se avizinham mais de nós e, misteriosamente, fecundam com suas orações nossa vida de Igreja peregrina. Maria é a primeira em tudo isso. Nossa Senhora das Dores é também Nossa Senhora da Alegria.


Dom Eduardo Benes de Sales Rodrigues
artigo publicado no Jornal Bom Dia - Sorocaba- 07.04.2013



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A Esperança não morre

Temos no Brasil um movimento de evangelização da juventude, pensado e estruturado pelo saudoso Mons. Benedito Calazans, que se inspira na experiência dos discípulos de Emaus (Lc 24,13-35). 
Este movimento está presente também em nossa Província Eclesiástica levando a muitos jovens a mensagem do Ressuscitado. Hoje quero meditar sobre este texto de Lucas e convidar nossos jovens a se abrirem para o encontro com Cristo.

No diálogo que Jesus estabelece com os discípulos de Emaus voltou-lhes o alento da esperança:“Ardia nosso coração quando Ele nos falava no Caminho”. Desde o final do pontificado de João Paulo II o texto de Lucas, que narra a experiência dos discípulos de Emaus, tem voltado sempre de novo em documentos da Igreja. 

O Papa João Paulo II, em outubro de 2004, ao lançar o Ano da Eucaristia, o fez com a carta Apostólica “Mane nobiscum Domine” – “Fica conosco, Senhor” – que assim se inicia: “Fica connosco, Senhor, pois a noite vai caindo» (cf. Lc 24,29). Foi este o insistente convite que os dois discípulos, indo para Emaús na tarde do próprio dia da ressurreição, dirigiram ao Viajante que se lhes tinha juntado no caminho. Carregados de tristes pensamentos, não imaginavam que aquele desconhecido fosse precisamente o seu Mestre, já ressuscitado. Mas sentiam «arder» o seu íntimo (cf. Lc 24,32), quando Ele lhes falava, «explicando» as Escrituras.”

O documento de Aparecida termina com a prece inspirada de Bento XVI: “Fica conosco, Senhor”(DAp 554). É que a esperança é a virtude do caminho, tanto mais forte quanto mais o caminho se torna difícil.

Nesta prece o Santo Padre, Bento XVI, colocou a seguinte súplica: “Fica conosco, Senhor, porque ao redor de nós as sombras vão se tornando mais densas, e tu és a Luz; em nossos corações se insinua a desesperança, e tu os fazes arder com a certeza da Páscoa. Estamos cansados do caminho, mas tu nos confortas na Fração do Pão para anunciar a nossos irmãos que na verdade tu ressuscitaste e que nos deste a missão de ser testemunhas de tua ressurreição”.

Ao celebrarmos a páscoa do Senhor, seis anos depois de Aparecida, somos todos convidados a renovar nossa fé na presença do Senhor no caminho. Cada um de nós, chamado por Cristo, fez, ou fará um dia, a experiência dolorosa dos discípulos de Emaus. Alguma vez - ou muitas, não sei - experimentamos a sensação de que tudo não passou de um sonho: “nós esperávamos...”, esperávamos tanto, planejamos com todo o cuidado e queríamos o sucesso, sonhamos com dias luminosos e frutos abundantes de nosso trabalho, e, no entanto... Uma coisa foi importante na história daqueles dois discípulos: conversavam enquanto caminhavam. Falavam de suas esperanças desfeitas, Afinal eles tinham crido em Jesus e nele apostaram tudo. Trocavam, com olhos tristes e com os rostos cobertos de sombra, a amargura de seu desencanto e se deixaram interpelar por um desconhecido: “Que palavras são essas que trocais enquanto ides caminhando?”. “E eles pararam, com o rosto sombrio”.

A presença de um terceiro lhes interrompe aquela conversação triste e os arranca do círculo vicioso do vazio sem fundo. Pararam, e se podia ver a sombra que cobria seus rostos. Mas olharam para o forasteiro que se aproximava. Por um instante saíram de si e ousaram partilhar com ele sua dor. Estabeleceu-se o diálogo salvador. Não tiveram medo de abrir o próprio coração para o desconhecido que, só ele, não sabia da tragédia que se abatera sobre Jerusalém. O desconhecido foi lhes passando o fogo que trazia em seu próprio coração com palavras quentes de infinito amor e eles, de dentro de sua noite, como quem pressentia um lindo amanhecer, não se contiveram: “fica conosco, Senhor”. E o forasteiro ficou.

Foi no gesto de abençoar e partir o pão que o reconheceram: “é Jesus!”. Quando partiu o pão e estendeu suas mãos, entregando a um e outro o pão partido, Jesus ficou invisível diante deles, restando-lhes nas mãos o pedaço de pão. É que naquele pedaço de pão Jesus se doou inteiramente ao ponto de desaparecer de diante de seus olhos para estar no pão partido. E o coração deles, que ardia quando ele lhes explicava as Escrituras, acabou de se incendiar pela sua presença agora definitivamente plantada em suas almas. Voltaram a Jerusalém, reuniram-se aos outros. Seus rostos estavam iluminados. A noite tinha passado. A esperança virou certeza. A alegria de estar com os outros e trocar agora palavras de esperança e proclamar a verdade voltou.

Irmão(ã), você foi chamado(a) para seguir Jesus. No caminho aceite sua companhia, escute sua palavra, e coma do pão que Ele parte. Partilhe com os irmãos de caminhada suas alegrias e também suas dores, pois: “onde dois ou três estiverem reunidos em meu nome, ali estou eu no meio deles”(Mt 18, 20). 
Como são importantes nossas reuniões, quando escutamos e meditamos a palavra de Deus, são momentos preciosos de encontro com o Senhor!



Dom Eduardo Benes de Sales Rodrigues
Artigo publicado no Jornal Diário de Sorocaba - 07.04.2013





Uma Páscoa Feliz com a Mãe de Jesus

A presente reflexão é uma homenagem à mãe de Jesus. Com certeza Ela foi a primeira a experimentar a vitória de Cristo sobre a morte. É o que estaremos mostrando nas linhas que seguem. No evangelho de João é narrada a cena enternecedora em que Maria Madalena foi, na madrugada do domingo, ao túmulo de Jesus, certa de que tudo tinha se acabado(cf. Jo 20,20-18). Lucas afirma que “as mulheres foram ao túmulo, levando os perfumes que tinham preparado” e que a pressa do sepultamento não lhes permitiu oferecer a Jesus, antes do sepultamento. (Cf Lc 24,1). Os quatro evangelistas concordam quanto a este fato. Curioso e intrigante que nenhum deles fala de Maria, a Mãe, correndo ao túmulo. Por que Maria, a Mãe, não foi ao túmulo? Estaria excessivamente deprimida? Mais que Madalena? Os quatro evangelistas falam das aparições de Jesus às mulheres e, depois, aos apóstolos. Nenhum deles fala de aparição à própria mãe.  Por quê? Teria Jesus desconsiderado a própria mãe? Reflita comigo, leitor(a) amigo(a). Não seria normal que a mãe fosse a primeira a ir ao sepulcro? E o Filho, uma vez ressuscitado, não deveria ter por primeiro aparecido a ela. Qualquer escritor inteligente, se quisesse convencer os leitores sobre uma hipotética ressurreição de Jesus, com certeza haveria de colocar Maria como a primeira a correr ao sepulcro para prantear o Filho brutalmente assassinado. E teria Ele aparecido por primeiro a ela cujas lágrimas haveriam de se converter em lágrimas de alegria. Mas não. Nem uma linha dos evangelhos fala de Maria correndo ao túmulo ou de Jesus indo a seu encontro. Por que será? Caro(a) leitor(a), a união de Maria com Jesus, desde o dia da encarnação do Verbo, foi tão profunda, e sempre mais profunda, que não houve acontecimento da vida e do mistério de Jesus que não fosse ao mesmo tempo vivido por ela. Lembre-se dela ao pé da cruz. Ela morre misticamente com Jesus. A tal ponto que Jesus lhe declara: a Igreja que nasce de meu coração nasce também do teu: “Mulher, eis aí teu filho” e diz ao discípulo: “eis aí tua mãe” (Jo 19,26-27). Maria viveu intensamente o oferecimento de Jesus. E houve um momento, conforme comenta São Bernardo, que a dor foi só dela; foi quando o soldado atravessou com a lança o coração do Cristo já morto e jorrou sangue e água de seu lado aberto. Era, nos comentários dos padres antigos, a Igreja que nascia do coração rasgado de Cristo. Naquele momento todos nós nascíamos também do coração traspassado de Maria, porque foi só dela aquela dor. E o sábado? A espera do sábado? O grão de trigo caíra no chão, aninhara-se nas profundezas da terra, descera à mansão dos mortos, depositara-se no fundo de cada coração humano privado da amizade divina e Maria acompanhou Jesus nessa dolorosa viagem ao centro da terra. Ela passou o sábado mergulhada em profunda dor, uma dor embebida de esperança, de espera, carregada de fecundidade. Estava unida a Jesus, o Verbo, carne de sua carne, também nessa viagem à mansão dos mortos. Há um momento, no apagar-se do sábado judaico, que emerge, em Maria, das profundezas abissais de seu ser, uma luz de imensurável intensidade que lhe inunda de inenarrável alegria sua alma, com um júbilo ainda maior do que o experimentado quando da encarnação do Verbo, no dia da anunciação. Maria, que estivera unida a Jesus em sua viagem ao centro da terra, vive em sua alma sua ressurreição gloriosa, a vitória sobre o pecado e sobre a morte. Vão ao sepulcro as pessoas que tinham a certeza de que tudo tinha se acabado. Jesus pacientemente se revela a essas pessoas, aparecendo-lhes várias vezes. Mas será a vinda do Espírito Santo que lhes comunicará a convicção, a experiência do ressuscitado. Maria, sempre repleta do Espírito, não foi ao sepulcro e não precisou das aparições. Ela estava unida com Jesus também no sábado e experimentou com Ele a alegria da vitória definitiva. Por mais algum tempo permaneceu junto da Igreja nascente até que esta pequenina Igreja se firmasse no coração do mundo. Depois, como o ressuscitado, mergulhou de corpo e alma no mistério de Deus. Os que vão para Deus não se tornam mais distantes, pelo contrário se avizinham mais de nós e, misteriosamente, fecundam com suas orações nossa vida de Igreja peregrina. Maria é a primeira em tudo isso. Nossa Senhora das Dores é também Nossa Senhora da Alegria. A dor é passageira, a alegria é eterna. Mas é preciso passar pela dor para chegar à alegria sem fim. Cristo reina glorioso e Maria com Ele. Nós a proclamamos com justiça Rainha da Paz e a saudamos com um “Salve Rainha”. 
Não receie, irmão(ã) cristão(ã), reconhecer como Senhora e Rainha aquela que foi “Serva do Senhor” e que, inspirada pelo Espírito Santo, afirmou em seu canto de louvor: “doravante as gerações todas me chamarão de bem-aventurada”( Lc 1,48).



 Dom Eduardo Benes de Sales Rodrigues

(artigo publicado no Jornal Diário de Sorocaba- 31.03.2013)





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A primeira discípula a anunciar.





Cristo vive

Maria Madalena, 
foi uma discípula muito especial de Jesus que a havia libertado de sete demônios (Lc 8,2). 
Esteve ao pé da cruz com Maria, a mãe de Jesus. O evangelista João conta que ela, na madrugada escura, foi ao túmulo e vendo-o vazio, correu até Simão para comunicar-lhe que o corpo tinha sido tirado do sepulcro. Pouco depois, tomada pelo vazio da irreparável perda, inclinou-se mais uma vez e novamente verificou o vazio do túmulo e sentiu-se aprisionada no túmulo de sua própria dor. Chorava, quando dois anjos lhe perguntaram: “mulher, por que choras?” Responde : “levaram o meu Senhor...”Virando-se para trás, viu Jesus, mas não O reconheceu.
Jesus lhe perguntou: “Mulher, por que choras? Quem procuras? Pensando ser o jardineiro, ela disse: “Senhor, se foste tu que o levaste, dize-me onde o colocaste, e eu irei buscá-lo”.
Então Jesus falou: “Maria!”Ela voltou-se e exclamou, em hebraico: “Rabúni” (que quer dizer: Mestre).
Maria Madalena estava mergulhada na dor da perda daquele que lhe restituíra a alegria de viver. Carregava no coração a certeza de que tudo se acabara. Não tinha olhos para ver outra coisa que não seu próprio desamparo.
Jesus, que arrancara Lázaro da Morte, dizendo com voz forte: “Lázaro sai para fora”(Jo 11,43), faz o mesmo com Madalena chamando-a pelo nome: “Maria!”.
Ela despertou do sono de sua morte interior. Entrou em comunhão com o Senhor vivo e vivificante. E foi anunciar que a Vida vencera.

Como é bom ouvir poderosa a voz do Senhor dizendo nosso nome para tirar-nos para fora de nós mesmos, despertando-nos para a Vida! (cf. Jo 20,11-18).

Que Páscoa maravilhosa!


Dom Eduardo Benes de Sales Rodrigues
Arcebispo de Sorocaba-SP

março-2013




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PAPA FRANCISCO

Francisco continua a missão de Pedro
Jesus por três vezes repete a Pedro: “apascenta minhas ovelhas”.( cf. Jo 21,15-17). Pedro, pois, recebe as funções de Pastor: a garantia do alimento e da bebida – a palavra e os sacramentos – e a proteção contra ameaças vindas de dentro ou de fora da comunidade: a unidade. A importância de Pedro no grupo dos doze  se manifesta de várias maneiras: a) Pedro é o porta-voz do grupo (ex.  : Mc 8,29); b) vem sempre citado em várias passagens em primeiro lugar (ex.: Mt 19,1-4); c) sua posição de liderança no grupo se mostra nas muitas vezes em que Pedro é citado nominalmente quando fala do grupo dos apóstolos(ex.: Lc 9,32;  Mc 16,7); d) era ele quem tomava as iniciativas de se dirigir a Jesus em ocasiões especialmente significativas(ex.: Mc 10,28; 8,32; MT 14,24; Jo 6,68); e) os cobradores de impostos se dirigem a Pedro(Mt 17,18-31); f) Pedro é o primeiro a ser citado nas aparições de Jesus ressuscitado, significando assim que ele é a testemunha principal da ressurreição(Ex: I Cor 15,5). Pedro morreu mártir em Roma e, desde então, a Igreja reconheceu no bispo de Roma, seu sucessor na missão apascentar o rebanho de Cristo, como nos ensina Santo Irineu (†202): “Porque é com essa Igreja (de Roma), em razão de sua mais poderosa autoridade de fundação, que deve necessariamente concordar toda igreja, isto é, que devem concordar os fiéis procedentes de qualquer parte, ela, na qual sempre, em benefício dos que procedem de toda parte, se conservou a tradição que vem dos apóstolos”  
(Dom Eduardo Benes de Sales Rodrigues - Jornal Bom DIa - 17.03.2013)

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"Minha Igreja" 
(Dom Eduardo Benes de Sales Rodrigues)

Foto: "Minha Igreja" 
(Dom Eduardo Benes de Sales Rodrigues)

Jesus havia perguntado aos discípulos: “quem dizem os homens ser o Filho do Homem?” Diante da variedade das respostas Ele insistiu: “e vós quem dizeis que eu sou?” Simão Pedro tomou a palavra e disse: “Tu és o Cristo (messias), o Filho de Deus vivo”.  Jesus voltou-se para ele e disse: “Bem-aventurado és tu, Simão, filho de Jonas, porque não foi carne ou sangue que te revelaram isto, e sim o meu Pai que está nos céus. Também eu te digo que tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei minha Igreja, e as portas do inferno nunca prevalecerão contra ela. Eu te darei as chaves do Reino dos Céus e o que ligares na terra será ligado no céu, e o que desligares na terra será desligado nos céus”. Atenção leitor(a) amigo(a), é Jesus quem fala “Minha Igreja”: “Tu és Pedro e sobre esta pedra edificarei “MINHA IGREJA”(cf Mt 16,13-19). Eu pertenço e sirvo à Igreja que é de Cristo. Ora, se Cristo falou de “Minha Igreja” é justo perguntar: onde encontrar a Igreja de Cristo? Terá ela evaporado, de modo que qualquer um pode agora fundar “Igrejas” a seu bel prazer. Multiplicam-se hoje as “igrejas”. São tantas quantas seus donos. À pergunta sobre onde encontrar a Igreja de Cristo, Santo Irineu (+202) respondeu no séc. II: “Onde está Pedro, aí está a Igreja, onde está a Igreja está Jesus Cristo”. E quando no ano de 451 foi lida no Concílio de Calcedônia a carta do Papa São Leão a Flaviano, afirmando as duas naturezas de Cristo na unidade da única pessoa do Verbo, o plenário exclamou: "Pedro falou pela boca de Leão". Pedro continuará a falar pela boca de seus sucessores até o fim dos séculos. Graças a Deus!

Dom Eduardo Benes de Sales Rodrigues - Arcebispo de Sorocaba - Jornal Bom Dia - 03.02.2013

Jesus havia perguntado aos discípulos: “quem dizem os homens ser o Filho do Homem?” Diante da variedade das respostas Ele insistiu: “e vós quem dizeis que eu sou?” Simão Pedro tomou a palavra e disse: “Tu és o Cristo (messias), o Filho de Deus vivo”. Jesus voltou-se para ele e disse: “Bem-aventurado és tu, Simão, filho de Jonas, porque não foi carne ou sangue que te revelaram isto, e sim o meu Pai que está nos céus. Também eu te digo que tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei minha Igreja, e as portas do inferno nunca prevalecerão contra ela. Eu te darei as chaves do Reino dos Céus e o que ligares na terra será ligado no céu, e o que desligares na terra será desligado nos céus”. Atenção leitor(a) amigo(a), é Jesus quem fala “Minha Igreja”: “Tu és Pedro e sobre esta pedra edificarei “MINHA IGREJA”(cf Mt 16,13-19). Eu pertenço e sirvo à Igreja que é de Cristo. Ora, se Cristo falou de “Minha Igreja” é justo perguntar: onde encontrar a Igreja de Cristo? Terá ela evaporado, de modo que qualquer um pode agora fundar “Igrejas” a seu bel prazer. Multiplicam-se hoje as “igrejas”. São tantas quantas seus donos. À pergunta sobre onde encontrar a Igreja de Cristo, Santo Irineu (+202) respondeu no séc. II: “Onde está Pedro, aí está a Igreja, onde está a Igreja está Jesus Cristo”. E quando no ano de 451 foi lida no Concílio de Calcedônia a carta do Papa São Leão a Flaviano, afirmando as duas naturezas de Cristo na unidade da única pessoa do Verbo, o plenário exclamou: "Pedro falou pela boca de Leão". Pedro continuará a falar pela boca de seus sucessores até o fim dos séculos. Graças a Deus!

Dom Eduardo Benes de Sales Rodrigues - Arcebispo de Sorocaba - Jornal Bom Dia - 03.02.2013


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Quarta feira próxima, dia das cinzas, que nos lembram que esta vida é passageira e que temos um destino eterno, tem início a quaresma, um tempo de graça e de conversão. 

Quarta feira de cinzas! Para muitos, quarta feira de amargas cinzas depois de um carnaval de efêmeras ilusões. Para nós um tempo de meditação e de conversão no encontro com o Senhor. Vamos retomar com vigor nossa vida de batizados e viver com intensidade esta quaresma, na certeza de que fora de Cristo não é possível felicidade verdadeira.

A nossa fé nos ensina que Jesus tomou resolutamente o caminho de Jerusalém, onde, pela sua morte e ressurreição, deveria realizar sua páscoa, a passagem para o Pai, abrindo para nós o caminho da reconciliação e da paz.

Preparar-se para a páscoa é o sentido da quaresma. São quarenta dias em que a Igreja toda se põe em esforço de conversão, ouvindo Jesus e procurando seguir seus passos na direção do supremo sacrifício de sua vida por nós. A liturgia quaresmal é toda ela uma liturgia penitencial voltada para a graça do batismo e animada pelo desejo de uma mais profunda união com Jesus, que por nós morreu e ressuscitou.

Três coisas são importantes na vivência quaresmal segundo a tradição da Igreja: a oração, o jejum e a caridade. Preparar-se para a páscoa é orar mais e com mais intensidade. A oração é encontro pessoal com o Pai através de Jesus na força e na luz do Espírito Santo. A oração requer silêncio, interior e exterior, escuta de Deus pela meditação de sua palavra, fidelidade às horas reservadas para estar mais com Deus.

Preparar-se para a páscoa é buscar a libertação de apegos desordenados às coisas passageiras. A primeira atitude é, sem dúvida, romper com tudo aquilo que nossa consciência nos aponta como sendo pecado, infidelidade a Deus. Há pecados graves, mortais e há pecados veniais. Os que se sentem em situação de pecado grave devem arrepender-se e procurar logo o sacramento da reconciliação para voltarem ao estado de graça, de amizade com Deus. Aqueles que estão em estado de graça, comungando com freqüência, são chamados a uma vida mais intensa de união com Deus e de amor ao próximo e para isso devem empenhar-se em um esforço intenso de libertação dos pecados veniais, sobretudo daqueles que são mais freqüentes e que indicam uma tendência ao esfriamento da vida cristã.

Poder perceber atitudes menos evangélicas como falta contra o amor de Deus é graça do Espírito Santo. Todos nós temos em nossa vida pessoal sentimentos e atitudes de egoísmo que nem sempre percebemos como tais. Devemos pedir a graça de perceber com clareza esses sentimentos e atitudes para poder mudar e nos tornar mais santos. A oração e a ajuda dos irmãos constituem um grande meio para crescermos na vida cristã e no amadurecimento espiritual. Devemos todos nos submeter à correção fraterna com humildade e gratidão. E todos devemos ajudar, com profunda humildade e caridade, os irmãos a perceberem em que precisam amadurecer na vida espiritual.

Os esposos têm obrigação de viver dentro dessa dinâmica, para o que receberam a graça do Sacramento do Matrimônio. Os padres, como membros do mesmo presbitério, devem estar sempre abertos, e até mesmo solicitar, à correção fraterna e serem gratos sempre que ajudados pelos irmãos nesse sentido. Isso vale para todos os fieis na medida em que são chamados a viver um caminho comum na Igreja e no mundo.
Jejuar dos programas inúteis da TV, do cigarro, da bebida, do exagero no comer, das fofocas e de tantas outras inutilidades para dedicar-se mais às coisas do reino, eis a verdadeira penitência quaresmal. Cada quaresma deveria significar um passo a mais no caminho de Deus.

Preparar-se para a páscoa é abrir-se mais para o próximo. O próximo mais próximo é o de sua casa. Depois o outro, no trabalho, na comunidade. Depois o outro desconhecido, o de longe, o de hoje e o do futuro. Sim, o do futuro também: “que mundo vamos deixar para ele?” E nessa quaresma somos convidados a voltar nosso pensamento para a juventude, força de renovação da Igreja e da sociedade, tantas vezes exposta às seduções de um mundo que coloca o prazer, as emoções passageiras, como o sentido da vida.

Veja, irmão(ã), onde você se encontra em relação ao ensinamento de Jesus e procure dar um passo a mais. Se em cada quaresma modificássemos um pouco nosso jeito, no final de nossa vida seríamos bem melhores e estaríamos mais bem preparados para nossa páscoa definitiva. Páscoa é isso: passagem do menos para o mais, do pecado para a graça, da morte para a vida. Jesus passou, com tanto sofrimento, desse mundo para o Pai e se tornou para nós o Caminho para a Verdade e para a Vida. Sigamo-lo.

Dom Eduardo Benes de Sales Rodrigues
Arcebispo Metropolitano de Sorocaba-SP

(Jornal Diário de Sorocaba - 10.02.2013)



A VITÓRIA DE ELLOÁ












O leitor deve se lembrar que, alguns meses atrás, fiz pela imprensa um veemente apelo para que fosse salva a vida de um bebê em fase de gestação. Pois bem, Elloá Vitória veio ao mundo no dia 25 de dezembro, dia do Natal de Nosso Senhor. Na ocasião manifestei a convicção de que, uma vez adulta, nenhuma pessoa seria capaz de dizer-lhe: “sabe, quando você estava sendo gestada eu me posicionei a favor de seu abortamento”. Disse ainda que a mãe teria paz em sua consciência e a alegria de poder dizer: “foi difícil, muito difícil, mas, com a graça de Deus, eu te deixei viver”. Agora, prezado (a) leitor(a), passados os primeiros momentos, também muito difíceis, do pós-parto por Cesariana, a mãe, embora adolescente, se tomou de amor pela Elloá Vitória e, com o apoio da tia, deseja ficar com a filha. O trauma da violência sofrida pela mãe adolescente será superado pela graça do amor à filhinha inocente, naturalmente com o apoio da tia e com assistência da psicóloga. Fui pessoalmente, na quinta feira passada visitar a mãe na casa de sua tia, que tem estado de seu lado, apoiando-a desde o início da gravidez. Fiquei feliz de ver o clima de acolhimento e de paz na casa. A mãe e a tia com os outros membros da família aguardam ansiosamente que Elloá Vitória lhes seja entregue. A casa está preparada com o berço enfeitado e com as roupinhas próprias para bebês. Mas, muito mais importante: os corações pacificados da mãe e dos parentes estão abertos para acolher Elloá Vitória. Louvado seja Deus, Criador e Pai de Elloá!

(Jornal Bom Dia - 12.01.2013 -  http://www.redebomdia.com.br/blog/detalhe/16362/A+vitoria+de+Elloa)


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